Com a descoberta da gestação muitos cuidados vêm imediatamente à mente da mulher. Manter uma alimentação balanceada e ter uma rotina de atividades físicas são os primeiros hábitos a serem mudados. Porém preparar o períneo desde o início da gestação nem sempre recebe a mesma importância.
O períneo está localizado entre a vagina e o anus e uma de suas funções é sustentar os órgãos pélvicos. Durante a gestação é natural que as funções do períneo sejam mais exigidas por conta do peso extra. Seu desempenho no parto é de grande importância e por isso prepara-lo durante todo o processo da gestação pode fazer toda diferença.
Na realidade preparar o períneo deveria ser uma prática habitual na vida das mulheres independente da descoberta da gestação, assim como é natural darmos atenção a outras musculaturas do nosso corpo.
Manter o assoalho pélvico forte também oferece maior apoio ao útero, reduzindo a pressão sobre a bexiga podendo diminuir as dores lombares tão comuns durante a gestação. Com a prática a mulher poderá se beneficiar dos efeitos também durante o pós parto.
Acontece que a relação estabelecida entre as mulheres e suas pepekas é culturalmente limitada. Não somos incentivadas a conhecermos nossa anatomia vaginal e nem a tornarmos consciente a musculatura que a compõe. Comumente encontramos mulheres adultas que desconhecem o potencial fisiológico do seu prazer e de parir.
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O aspecto mais importante em preparar o períneo durante a gestação está em aproximar-se de sua natureza. A estrutura do assoalho pélvico, da vagina e do períneo são obras da Criação perfeitamente preparadas para dar passagem ao bebê que está nascendo. E confiar no processo fisiológico do parto é um grande caminho para o tão falado períneo íntegro.
O períneo íntegro muitas vezes apesar de não apresentar lacerações pode estar fraco, tenso, “flácido” e apresentar disfunções no pós-parto. Preparar o períneo pode contribuir para preservar as funções naturais e super importantes dessa musculatura preciosa.
O exercício de Kegel é o mais conhecido e indicado para o fortalecimento do períneo. Esse exercício não só pode como deve ser praticado durante toda a gestação assim como Pilates e-ou Yoga. No pós-parto ele poderá ser praticado de acordo com a recomendação da sua fisioterapeuta respeitando seu tempo de recuperação. A vantagem é que essa prática pode ser feita em qualquer lugar a qualquer momento do dia e além de fortalecer sua musculatura perineal também irá te proporcionar auto-conhecimento e novas sensações.
Outra técnica bastante conhecida e indicada é a massagem perineal cuja função é promover o relaxamento e alongamento progressivo dos tecidos da entrada vaginal. A prática da massagem perineal é indicada a partir das 34 semanas de gestação. Essa massagem poderá ser feita por você ou por seu companheiro (a), o que poderá tornar a experiência ainda mais prazerosa. A prática da massagem consiste em um conjunto de movimentos realizados com os dedos que trabalharão gradativamente do canal vaginal para pontos mais internos e rígidos, proporcionando uma conscientização e auto percepção que serão fundamentais para o relaxamento consciente do local.
“Last but not least” existe também o Epi-no um “aparelho” de origem Alemã que consiste em um balão de silicone conectado a um medidor de pressão que é introduzido e inflado dentro da vagina simulando a cabeça do bebê. O objetivo do aparelho é treinar o assoalho pélvico e a vagina para o parto. O Epi-no também auxilia na prevenção de incontinência urinária durante e após a gestação e auxilia na recuperação do períneo no pós-parto. Ele pode ser liberado ou indicado por seu médico a partir das 35 semanas de gestação.
Mas pera aí mulherada… Não é preciso virar a louca do assoalho pélvico! Todas essas opções são indicadas para a prevenção de laceração sim, mas lembrem-se que o foco principal de qualquer uma delas é te proporcionar conforto e segurança a partir de uma experiência mais profunda de auto-conhecimento que irá te empoderar de sua capacidade perfeita e natural de parir através da sua vagina.
Achamos natural apesar de desconfortável receber tantos toques vaginais, principalmente durante o trabalho de parto. Só que não… Não é natural!
Os procedimentos clínicos destinados à prevenção de laceração perineal no parto não são recomendados pela OMS, porém seguem sendo feitos e ensinados de maneira corriqueira. Dentre os procedimentos está a Episiotomia (incisão efetuada no períneo para ampliar o canal do parto), a Manobra de Ritgen (onde a parteira apoia o períneo com uma mão enquanto a outra mão faz uma leve pressão na cabeça do bebê visando controlar a velocidade do coroamento) e a massagem perineal (que feita durante a última parte do segundo estágio do trabalho de parto visa distender os tecidos). Não existem estudos científicos que comprovem a eficácia dessas práticas na redução a incidência de laceração, muito pelo contrario, hoje sabemos que algumas delas podem inclusive ser bem prejudiciais para a saúde perineal no pós-parto.
Não precisamos de nenhuma mão ajudando na passagem do bebê. Nosso corpo foi feito para parir e a abertura vai acontecer naturalmente. Algo de grande valor, mas nem sempre aceito é a escolha da posição da mulher. Parece óbvio que estarmos em uma posição mais verticalizada ou que não haja compressão pélvica é a melhor maneira de permitir e facilitar a ação fisiológica do parto, só que não. Na maioria das vezes somos colocadas em uma posição passiva de não capacidade e autonomia de nossos corpos, deitadas em decúbito dorsal (barriga para cima), com as pernas abertas apoiadas sobre as perneiras, facilitando o trabalho do médico… Afinal ele está ali pra fazer seu parto não é mesmo? NÃO, quem está ali para fazer seu parto é você e só você. Suas escolhas devem ser respeitadas sempre!!!
Dar tempo ao tempo também é uma grande atitude preventiva. Não há necessidade de pressa no momento do expulsivo. Permitir que a cabeça do bebê vá massageando o períneo a cada contração pode ajudar a prevenir as distensões musculares que podem acontecer com o grande estiramento muscular que ocorre em pouco tempo quando por exemplo tem algum profissional dirigindo o puxo.
Preparar o períneo durante a gestação irá trazer autonomia para a mulher que se sentirá mais segura tendo conhecimento da potência da musculatura perineal e das sensações que ela poderá sentir. De todas as ferramentas que temos para prevenir lacerações, o auto-conhecimento, o empoderamento e confiança em si mesma serão as principais e mais importantes delas para permitir que o parto aconteça naturalmente.
Buscar informações de qualidade é sempre o primeiro passo para soltarmos algumas crenças sociais impostas sobre nossos corpos. Buscar a ajuda de profissionais que falem a sua linguagem e tem como objetivo oferecer ferramentas para que você tenha autonomia em suas escolhas também é essencial. Alguns dos exercícios citados acima necessitam de acompanhamento fisioterapêutico feito por profissionais da área. Encontre a equipe que esteja em harmonia com o que você busca.
“Que seu café, seu assoalho pélvico, sua intuição e sua auto estima sejam sempre FORTES.”
Com carinho,
Doula Giulia Ventriglia – São Paulo/SP
Antenatal perineal massage for reducing perineal trauma https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD005123.pub3/full?highlightAbstract=withdrawn%7Cperineal%7Cperin%7Cmassage%7Cmassag
Parto | Novas recomendações da OMS https://www.sns.gov.pt/noticias/2018/02/20/parto-novas-recomendacoes-da-oms/
Perineal techniques during the second stage of labour for reducing perineal trauma https://www.cochrane.org/CD006672/PREG_perineal-techniques-during-second-stage-labour-reducing-perineal-trauma
Pelvic Floor Exercises During and After Pregnancy: A Systematic Review of Their Role in Preventing Pelvic Floor Dysfunction https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1701216316303103
Tolerância da parturiente à extensibilidade perineal avaliada pelo EPI-NO: estudo observacional http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1679-45082014000100006&script=sci_arttext&tlng=pt
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