Você já parou pra pensar o quanto essa informação está enraizada no nosso subconsciente? Tão comum ouvir “Quem fez o meu parto foi Dra Fulana de Tal” ou então dos profissionais da obstetrícia “Faço X partos por mês” “Já fiz X partos ao longo da minha carreira”. Será que é assim mesmo?
Afinal de contas, quem faz o parto? Vamos refletir a respeito. Por exemplo:
Nesse post você vai encontrar
Vivemos uma epidemia de cesarianas desnecessárias e isso é de conhecimento público (assim espero, se não for, recomendo fortemente que assista ao documentário O Renascimento do Parto), neste caso, a cirurgia de fato é agendada pelo obstetra. Mas e os partos espontâneos? Aqueles que segundo a OMS, 85% das mulheres são capazes de ter?
Ainda não há um consenso sobre exatamente o que dá início ao trabalho de parto, mas hoje em dia sabemos que ele é desencadeado sob condições específicas do organismo da mãe, do bebê e de um equilíbrio hormonal entre ambos. Parece que o obstetra não tem uma influência efetiva neste momento não é mesmo?
Ok, aqui é possível dizer que o obstetra é capaz de produzir contrações uterinas na parturiente, mas você sabia que elas não são idênticas às contrações naturais e espontâneas?
Já deve ter ouvido falar a respeito do “sorinho” que colocam de maneira rotineira nas mulheres em trabalho de parto.
Neste soro é utilizada a ocitocina sintética, uma droga semelhante ao hormônio ocitocina que secretamos naturalmente, não somente em trabalho de parto, mas também quando amamentamos e durante a relação sexual.
A diferença é que ao utilizar a ocitocina sintética bloqueamos a liberação de endorfinas que são secretadas junto com a ocitocina natural, que ajudam a minimizar a dor das contrações. Com o soro as contrações são muito mais fortes e vem num ritmo mais acelerado, comumente o bebê se cansa e a sensação de dor e sofrimento da mulher é muito maior.
Poderíamos fazer um texto inteirinho somente sobre isso! Sob comando do obstetra o alívio da dor seria farmacológico. Ponto.
Com informações adequadas, preparo e o apoio necessário temos um leque de opções de métodos não farmacológicos: técnicas respiratórias e meditativas, uso terapêutico da água, a bola suíça, massagens, opção de se movimentar livremente, escolha de posições ao longo do trabalho de parto, cantar, dançar, ambientação do local escolhido, com luz mais baixa, menos estímulos, mais silencioso, ar condicionado mais ameno, aromaterapia, rebozo, reiki, musicoterapia… o céu é o limite!
Muitas intervenções são utilizadas de forma rotineira ao longo do processo, repetidos exames de toque, rompimento artificial da bolsa de água, manipulação do colo do útero para aumentar a dilatação, ser colocada deitada e orientada a fazer força, o famoso “pique”. Assim que a cabeça do bebê sai ele é puxado para terminar de nascer (como se ele não soubesse fazer isso sozinho, hunf), o cordão umbilical é cortado imediatamente, o bebê é mostrado para a mãe e entregue para o pediatra para ser aspirado, receber colírio, tomar banho, muitas vezes vai para o berçário e só é levado para a mãe depois de algumas horas. É assim que os obstetras “fazem” o parto.
Todas estas atitudes e intervenções, não são recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, muitas delas, inclusive, além de não serem necessárias, são comprovadamente maléficas.
Tradicionalmente nós mulheres somos colocadas em posição de litotomia, nome difícil para se referir à posição de ‘frango assado’, aquela estamos habituadas desde a adolescência, quando começamos nossas visitas ao ginecologista.
Podemos nos perguntar se esta é a melhor posição para o bebê nascer, já que é a mais adotada e NÃO, NÃO É!!!
Esta posição fica mais confortável para o trabalho do profissional que está “fazendo” o parto, mas desde 1996, nas diretrizes para o atendimento ao parto da OMS é recomendado que a mulher seja incentivada a escolher livremente a posição que vai parir, quando isto é feito, instintivamente as mulheres adotam posições mais verticalizadas, a expulsão do bebê é mais rápida, menos dolorido e é muito mais confortável.
Então, respondendo ao nosso questionamento inicial, Quem faz o parto é a Mulher!!!
Uma ferramenta maravilhosa para que você tenha um atendimento mais respeitoso e de acordo com os seus desejos é o Plano de Parto, um documento regulamentado pela legislação do Estado de São Paulo, recomendado pela Organização Mundial de Saúde, onde você vai registrar quais são os procedimentos que você quer evitar, deixar claro como você espera que seja feita a assistência durante o trabalho de parto, parto, pós parto imediato e cuidados com o seu bebê recém nascido.
Uma doula pode te ajudar, tanto na elaboração do seu Plano de Parto, quanto fornecendo informações de qualidade, te dando apoio e suporte, para que você tenha a oportunidade de vivenciar uma experiência de maternidade mais ativa, se apropriar do processo pelo qual está passando, fazer escolhas de maneira informada e consciente, ser de fato a protagonista do seu parto!!!
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Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf
A operação Cesárea no Brasil. Incidência, tendências, causas, conseqüências e propostas de ação
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1991000200003
Métodos não farmacológicos para alívio da dor no trabalho de parto: uma revisão sistemática
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072010000400022
O Renascimento do parto e do amor
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2002000200022
Atenção à saúde do recém nascido – Guia para os profissionais de saúde
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_saude_recem_nascido_profissionais_v1.pdf
Documentário O Renascimento do Parto
https://www.netflix.com/Kids/title/80995575?locale=pt-PT
BALZANO, Cristina. O parto é da mulher!:Guia de preparação para um parto feliz/Cristina Balzano; ilustrações de Anne Pires. 1 ed. Belo Horizonte: Editora Gutenberg, 2019.
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