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Parto verticalizado: por que é melhor?

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Sempre que pensamos em parto já vem a nossa mente uma mulher deitada de pernas abertas. Até nas novelas essa é a cena recorrente de parto.  Embora, esteja enraizado na cultura ocidental que para os bebês nascerem as mães tenham que estar deitadas, essa não é a posição ideal para o nascimento. Mas se essa não é a melhor forma, porque então, adotamos essa posição? Para entender isso é preciso entender como esse hábito começou.

 

Como surgiu o parto deitado?

O parto deitado ou em posição de litotomia (ou ginecológica), com a mulher deitada na maca e as pernas abertas apoiadas em perneiras surgiu na França. O Rei Luís XIV, conhecido como o “Rei Sol”, governou a França por longos anos e teve 22 filhos, com várias mulheres diferentes. Ele gostava de assistir ao nascimento dos filhos, mas seus primeiros filhos nasceram em posições verticais, o que prejudicava sua visão do nascimento. Para que o rei pudesse assistir ao nascimento de seu filho, uma de suas amantes, Madame Montespan, pariu deitada. Ter o filho na posição deitada se tornou comum entre os súditos franceses que queriam imitar o rei.

Representação do rei Luís XIV no nascimento de um dos filhos – Megacurioso

A partir do século XVII, as parteiras foram perdendo espaço na cena do parto e dando lugar aos médicos cirurgiões. Os homens que antes não participavam dos nascimentos passaram a assumir o controle e isso trouxe sérias mudanças. Entre elas a posição da mulher durante o parto. As mulheres que antes andavam e assumiam posições variadas durante o trabalho de parto, passaram a ficar deitadas. Inicialmente, apenas durante a fase de expulsão do bebê e depois durante o período de dilatação também. Tal prática facilita o trabalho do médico, mas tira da mulher o controle sobre o seu corpo e a liberdade de escolher qual a posição mais confortável para ter o bebê.

Nas últimas décadas, percebeu-se que toda essa tecnologia obstétrica não trouxe segurança e tranquilidade para a mulher e o bebê. Diante disso, surgiu a necessidade de se resgatar práticas adotadas anteriormente, mais naturais e adequadas à fisiologia do parto.  Prática simples e que traz mudanças significativas para a qualidade do parto é  o uso de posições verticais durante todo o trabalho de parto e, principalmente, no período expulsivo.

Quais as vantagens do parto verticalizado?

As diretrizes nacionais de assistência ao parto de 2017 recomendam: Deve-se desencorajar a mulher a ficar em posição supina, decúbito dorsal horizontal, ou posição semi-supina no segundo período do trabalho de parto. A mulher deve ser incentivada a adotar qualquer outra posição que ela achar mais confortável incluindo as posições de cócoras, lateral ou quatro apoios.

Angelita Alves

 

Nos últimos 30 anos, percebeu-se que as posições horizontais não traziam vantagem para o parto, iniciando-se pesquisas por evidências científicas que demonstrassem a vantagem de posições verticais para o parto. Abaixo estão listadas as principais vantagens do parto verticalizado:

  • Nas posições em pé, de cócoras ou de joelhos, a gestante conta com a ação da gravidade para auxiliar na descida do bebê durante o período expulsivo.  É mais fácil fazer força em posições verticais, na qual a força é direcionada para baixo que em posições horizontais. Deitada a mulher se esforça muito mais para empurrar o bebê e os resultados são menores, necessitando de mais intervenções como, por exemplo, o uso do fórceps.
  • Quando a mulher pode se movimentar e inclinar-se para frente , ela exige menos esforço do útero. Pois o útero se inclina para frente durante as contrações. O ideal é que a mulher também possa ter liberdade de se inclinar para frente durante a contração. Assim ela colabora com o útero e ajuda a reduzir a dor. Em posição de litotomia, o útero gasta mais energia, pois precisa atuar contra a gravidade. Com o esforço maior do útero, as contrações são mais dolorosas.
  • Na posição vertical, a pelve tem liberdade total de movimentação. Na posição de cócoras, o sacro fica livre para se movimentar para trás e abertura da pelve aumenta em 30%. Em posições horizontais o sacro fica imóvel e a abertura da pelve é reduzida.
Static – Parto Ativo
  • Quando a mulher está verticalizada o bebê faz uma pressão maior na pelve. Essa pressão que o bebê faz auxilia no processo de dilatação do colo e facilita o encaixe da cabeça do bebê dentro da pelve.
  • Em litotomia as pernas da mulher estão mais separadas que o normal, por iso a pressão sobre o períneo é  maior. Sentada ou semi-sentada a pressão da cabeça do bebê vai diretamente no períneo que não consegue se expandir. Dessa forma, as posições verticais são mais recomendadas, pois não traz impedimentos  para o períneo  se expandir e nem é necessário um esforço maior dele. Além de permitir que o períneo se ajuste a cabeça do bebê.
  • Em posições verticais há uma melhor circulação placentária e melhor suprimento de oxigênio para o bebê. Deitada, os vasos sanguíneos do abdômen são comprimidos contra a coluna vertebral. O que pode comprimir a veia cava (que traz o sangue de volta ao coração) reduzindo a passagem de sangue para o útero e a placenta e aumentando o risco de sofrimento fetal.
  • As contrações são mais intensas, regulares e frequentes quando a mulher tem a liberdade de se movimentar e mudar de posição. Contrações mais eficazes reduzem o tempo de dilatação e, consequentemente, o tempo do trabalho de parto e também a necessidade do uso de ocitocina sintética.
  • Em posições verticalizadas a placenta sai de forma espontânea, sem a necessidade de intervenções. Isso reduz o risco de hemorragias pós-parto e infecções.

Ficar em posição supina, semi-supina ou décubito dorsal horizontal no trabalho de parto, além de prolongar a duração do parto e aumentar os riscos e a necessidade de intervenções, deixa a mulher em posição passiva e sem autonomia.

Enfim, o parto verticalizado é o melhor, pois  a fisiologia do corpo da mulher é respeitada. A mulher tem autonomia e liberdade para se movimentar e escolher em qual posição quer que seu filho nasça e pode ser protagonista de seu próprio parto.

 

 

Caminhando para o parto normal – Maternidade Natural

 

 

Referências

Parto Ativo – Janet Balaskas

REFLEXÕES SOBRE DEAMBULAÇÃO E POSIÇÃOMATERNA NO TRABALHO DE PARTO E PARTO http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbgo/v27n6/a11v27n6.pdf

REFLEXÕES SOBRE DEAMBULAÇÃO E POSIÇÃOMATERNA NO TRABALHO DE PARTO E PARTO  http://www.scielo.br/pdf/ean/v11n2/v11n2a23

Diretrizes Nacionais de Assistência ao parto http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf

https://www.megacurioso.com.br/ciencia/106177-perversao-de-rei-popularizou-o-doloroso-parto-deitado.htm

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Doula Meiriele (Belo Horizonte-MG)

Sou doula formada pelo Minhas Doulas – Ishtar em 2015, já atuei como doula voluntária na rede pública e, atualmente, faço parte da equipe de doulas Gerânio. Sou mãe de dois meninos e quando tive meu primeiro filho em um parto domiciliar maravilhoso me senti uma leoa. Parir transformou a minha vida e meu objetivo é que mais mulheres possam ter uma experiência transformadora de parto como eu tive.Como doula, auxílio as famílias trazendo informações e auxiliando no plano de parto; dou apoio físico e emocional durante o parto usando aromaterapia, reiki e massagens para alívio da dor. Acredito que toda mulher tem direito à informação para escolher como quer que seu parto aconteça e à assistência respeitosa, baseada em evidências científicas.Cidades de atuação: Belo Horizonte, Ribeirão das Neves.Instagram: @equipegeranioFacebook: @equipegeranioE-mail:doulasequipegeranio@gmail.com

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