O Brasil é o segundo país com maior taxa de parto via cesariana do mundo. As estatísticas atingem números alarmantes de 85% no sistema privado. Esta realidade vem na contra mão às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) em que é preconizado que apenas 15% de nascimentos seja por via cirúrgica.
Tal cenário pode ser atribuído à aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos, característicos das últimas décadas em que , tanto as práticas obstétricas quanto as políticas institucionais, desencorajam as mulheres na escolha pelo parto via vaginal (normal).
Contudo, recentemente, o movimento pela humanização do parto e nascimento tem ganhado força e vem com missão do resgate da essência do parir como fenômeno fisiológico e assim, o naturalmente mais benéfico para a mãe, o bebe e a família.
Esse modelo de assistência utiliza como premissa a informação pautada em evidências científicas como principal recurso de conscientização que, juntamente com apoio de equipe multidisciplinar engajada, contribui para o resgate da confiança e emponderamento da mulher na escolha mais segura e mais adequada da via de parto .
Esse post trás um panorama geral sobre os tipos de parto e a contextualização atual do cenário obstétrico brasileiro. Te convido para mergulhar comigo nessa viagem.
Nesse post você vai encontrar
Como diz o ditado popular, vamos começar do início!
O momento da descoberta da gravidez traz consigo grandes emoções, sejam elas positivas ou não. Algumas vezes essa gestação foi planejada, outras não, independente, fato é, que naquele instante, um misto de sensações toma conta do corpo da mulher ao descobrir que já não está mais só em sua caminhada.
Felicidade, medo, angústia, insegurança são sentimentos comuns nesse momento, no decorrer da gestação e, quando se começa pensar no momento do parto não é diferente.
A decisão do tipo de parto, em partes, está sujeita ao determinismo postulado pelo historiador francês Taine, onde defende que o comportamento humano é estabelecido pelo conjunto do meio, da raça e do momento.
Nesse contexto a raça pode ser relacionada com hereditariedade, isso é, quais as referências mais próximas que que a gestante possui em relação ao parto:
O meio e momento pode ser associado aos aspectos , políticos, sociais, econômicos e culturais do período que a gestante vive:
Esta última questão, eu diria ser é fundamental no contexto o qual estamos abordando pois, refere-se ao livre arbítrio, ou seja, a escolha da mulher, e isso é determinante para mudar paradigmas estabelecidos pela realidade em que vive, ou seja, não ser conduzida pelo sistema e sair do ciclo vicioso do determinismo.
Simples, porque há ao menos duas gerações a realidade obstétrica brasileira , em grande parte de suas práticas, adquiriu cunho tecnicista. O parto passou a ser considerado um evento médico, que deve ser realizado dentro de um hospital, com partos vaginais instrumentalizados (posição litotomica, epsitotomia, forceps etc), recheado de intervenções desnecessárias (kristeller) submetendo a parturiente a violências de ordem física e psicológica e emocionais , provocando traumas, estabelecendo assim, a cultura do medo do parto e enraizando este evento experiência negativa para a mulher.
Infelizmente, atualmente essa é a referência de parte da população feminina em relação ao nascimento , onde o parto, principalmente o vaginal, remete a condição de estrese, medo, vulnerabilidade e dor.
Tal situação, aliada a argumentos equivocados, como por exemplo circular de cordão ser indicativo de cesariana , ainda são utilizados e, facilmente conduzem gestantes a um parto a via cirúrgica por conveniência profissional e/ou institucional .
Por isso os fatores abordados são relevantes na escolha do tipo de parto desejado pela mulher e, podem ser associados ao cenário epidêmico de nascimentos via cesariana conforme apresentado no gráfico abaixo.
Desde os primórdios da humanidade o nascimento é evento natural em que a mulher se isolava para parir e o fazia na posição vertical, segundo fatos evidenciados historicamente pela arqueologia.
Com a constituição das comunidades, iniciou-se a pratica de assistência ao parto em que as próprias da mulheres se auxiliavam e os partos ocorriam em casa, tal característica foi predominante até o sec XVII, período em que apenas partos difíceis , médicos eram chamados.
A introdução do forceps e anestésicos para a resolução desse tipo de situação, culminou na mudança de concepção do parir e resultou na inserção cirurgião na assistência ao parto que, aliado ao advento dos cursos de medicina, começou a ser realizado também em hospitais-escola.
Com o tempo, o parto passou a ser visto como um ato cirúrgico realizado por médicos, tirando da mulher o seu protagonismo no parir, cedendo seu lugar à equipe médica e os hospitais passaram a ser o local procurado pelas gestantes para terem seus filhos, caracterizando dessa forma a institucionalização do parto, realidade que vivenciamos na atualidade.
O advento da pesquisa cientifica voltado para obstetrícia tem trazido evidências cada vez mais concretas e tem colocado à prova a efetividade de práticas adotadas durante as últimas décadas pela medicina, como exemplo podemos citar o uso da episiotomia, que comprovadamente não deve ser realizada como rotina, mas sim em caso de risco eminente, que não chega a 7% dos casos segundo recomendações da OMS.
Pautados em evidências científicas, no esclarecimento dos benefícios e riscos de cada tipo de parto e cada procedimento adotado, na premissa do respeito pela individualização e o protagonismo da mulher no parir, que o movimento pela humanização do parto e nascimento vem trazendo à consciência a necessidade do resgate do parto natural , principalmente pelos seus benefícios para saúde física, psicológica e emocional a mãe e do bebe.
Tendo em vista a importância de como a via de parto influencia em diversos aspectos da sociedade, a OMS tem realizado esforços, no sentindo de incentivar políticas públicas, endossando diretrizes relacionadas à assistência a gestação, parto e nascimento, como o último documento publicado de 2018 intitulado: “Intrapartum care for a positive childbirth experience“.
Nesse documento, constam uma série de recomendações a serem adotas por instituições e profissionais da saúde para que a mulher tenha um parto seguro com respeito, dignidade, estimulando seu protagonismo, seu tempo e seu parir.
No Brasil, o Ministério da Saúde adotou em 2017 recomendações da OMS endossadas no ano de 1996 , e instituiu as diretrizes nacionais sobre a assistência ao parto normal . Além desse, outro documento importante é o Diretrizes de atenção à gestante: Operação cesariana , onde são estabelecidos parâmetros sobre indicações do nascimento via cirúrgico. Tais diretrizes se complementam e orientam no delinear da prospecção do cenário do parto e nascimento no Brasil, afim de contribuir na mudança de paradigmas do presente em direção a um futuro obstétrico respeitoso para mulher.
Objetivando a retomada da confiança da mulher no processo de parir bem como para dissolução da cultura do medo, a informação é fundamental. Assim, o governo brasileiro lançou a caderneta da gestante, um excelente material com informações e orientações destinado as mulheres grávidas que incentivam e apoiam parto natural.
Diante desses esforços , aliado a conscientização e emponderamento de muitas mulheres, estamos nos deparando com uma nova corrente histórica de mudanças de paradigmas no contexto do parto e nascimento. Há muito o que se caminhar, no entanto cada mulher conscientizada , informada e emponderada pela escolha ideal em sua forma de parir, já faz diferença e, não apenas relacionado às estatísticas, mas também à qualidade de vida.
O Parto é o conjunto de eventos mecânicos e fisiológicos que levam a expulsão do feto e seus anexos do corpo da mãe. Tal fenômeno pode ocorrer por duas vias: via vaginal ou cirúrgica.
No entanto o parto não envolve apenas aspectos fisiológicos, o parto e nascimento envolvem também questões psicológicas, sociais e emocionais. É um momento único na existência e representa um verdadeiro rito de passagem para a mulher.
O modo como ela vivencia essa transição tanto em relação aos aspectos fisiológicos como aos aspectos psíquicos, são determinantes para a saúde materna e neonatal, e para a percepção emocional dessa experiência tão singular. Afinal, esse é um dia que fica marcado eternamente na história da mãe e da família.
Por isso, é fundamental que mulher contemporânea busque o direito de vivenciar esse momento, busque resgatar sua força interna e coragem por meio de informações sólidas, que se empondere de seus objetivos e essência feminina, procure compreender o processo, os riscos e benefícios de envolvem cada escolha e procure apoio em uma equipe que respeite seu protagonismo.
Nesse sentido a doula, representa um papel importante em auxiliar a mulher nessa busca pelo resgate do empoderamento para o parto. O apoio emocional, físico e psicológico , dessa profissional auxilia a mulher sobrepor questões enraizadas na sociedade atual, quebrar o ciclo de tensão medo e dor , relacionado ao parto, com apoio, acolhimento e metodologias não farmacológicas de alívio de dor, contribui para a mulher ter uma experiência positiva do parto.
A Organização Mundial da Sáude (OMS), o Ministério da Saúde (MS) e a Agência Nacional da saúde ANS preconizam que o parto normal sempre seja a primeira opção.
No entanto,como já foi discutido, a realidade obstétrica brasileira, vai na contramão dessas recomendações e os principais fatores são responsáveis por esse cenário são:
Além disso , o histórico de violência na prática obstétrica utilizada como protocolo de rotina contribui para a cultura do medo relacionado ao parto vaginal.
Procedimentos sem real indicação como:
Esses são alguns fatores que causam medo e, muitas vezes, levam as mulheres optarem por cesárea eletiva.
Aliado a isso, a falta de interesse da equipe de saúde, de perfil dos profissionais e do preparo em assessorar a parturiente no parto pautado no atendimento mais humanizado, respeitando as recomendações e o protagonismo da mulher , ainda é uma realidade no contexto atual.
Humanizado é um modelo de atendimento pautado nas seguintes premissas:
Segundo a OMS na cesária há:
4 a 5 vezes mais chance de antibioticoterapia;
2,3 vezes mais chance de morbidade materna no procedimento eletivo;
3 a 5 vezes mais taxa de mortalidade materna;
4 vezes mais chance de histerectomia;
2 vezes mais chance de internação na UTI ou internação de mais de 7 dia.
Para o bebe:
Já o Ministério da Saúde faz a seguinte comparação:
O Brasil, como já relatado, vive uma epidemia de operações cesarianas , com taxa média de 85% dos partos realizados nos serviços privados de saúde e 40% no sistema público de saúde (SUS). No entanto, essa porcentagem varia significativamente em relação aos diferentes estados da federação, indo de 29% no Amazonas e 64,5% no Espirito Santo, segundo dados do data sus , em seu último levantamento publicado em 2012.
Quando realizadas por indicações reais , as cesarianas reduzem a mortalidade e morbidade materna e perinatal, entretanto se realizada sem critérios, como no caso da cesárea eletiva (agendada) , trás riscos imediatos e a longo prazo tanto para a saúde da mãe como do seu filho e, as consequências da cirurgia, pode se estender anos após o parto.
Baseado em dados atualmente disponíveis, e utilizando métodos aceitos internacionalmente para avaliar as evidências com técnicas analíticas adequadas, a OMS conclui que:
Assim, esforços devem se concentrar em garantir que partos via cirúrgico sejam realizados apenas em casos necessários.
Segundo consta nas orientações da caderneta da gestante do MS a cesárea é indicada: “… bebê estar atravessado ou em sofrimento, quando o cordão
ou a placenta está fora do lugar e impedindo a saída da criança,
quando a mãe sofre de uma doença grave, entre outras
razões “. Caderneta Gestante-MS
Já no documento que estabelece as diretrizes da cesariana diz que as indicações absolutas são:
Para outros casos suspeitos é necessário determinar por meio de equipe multidisciplinar juntamente com a gestante a real necessidade de utilizar a cesárea como via de parto.
Segue na íntegra a recomendação do MS:
“A informação sobre indicações de cesariana, o procedimento, seus riscos e repercussões para futuras gestações deve ser feita de maneira clara e acessível respeitando as características socioculturais e individuais da gestante. Se não há indicação médica, deve-se discutir as razões da preferência por cesariana. É recomendado que a gestante converse sobre sua preferência com outros profissionais (anestesista, outro obstetra, enfermeiras(os) obstétricas(os), obstetrizes). Em caso de ansiedade relacionada ao parto ou partofobia, é recomendado apoio psicológico multiprofissional. Se após informação (e apoio psicológico quando indicado) a gestante mantiver seu desejo por cesariana, o parto vaginal não é recomendado. Quando a decisão pela cesariana for tomada, devem ser registrados os fatores que a influenciaram na decisão, e qual deles é o mais influente. Caso o obstetra manifeste objeção de consciência e não deseje realizar a cesariana a pedido, deve ser indicado outro profissional médico que faça o procedimento. A cesariana programada não é recomendada antes de 39 semanas de gestação” relatório conitec.
Deve ser pautada em informações consistentes, ponderando os riscos e benefícios de cada via de parto além de ser levado em consideração os aspectos psicoemocionais em que se encontra.
Conscientizar-se de que o modo como o parto vivenciado influencia no vínculo mãe e filho e na amamentação.
Segundo o ministério da Saúde: “Há necessidade urgente de mudança no sistema obstétrico do país para melhoria da assistência ao nascimento. Descentralizar da figura do médico a assistência ao parto de risco habitual, permitindo a atuação de obstetrizes e enfermeiras obstetras, é uma medida eficaz para reduzir o número de intervenções, com maior satisfação da mulher no momento do parto e sem aumentar o número de eventos adversos.
É preciso discutir o nascer. Deixar que a mulher lute sozinha contra um sistema que oprime suas escolhas é mais uma forma de violência.”
Além disso, a qualificação da atenção à gestante, a fim de garantir que a decisão pela via de parto considere os ganhos em saúde e seus possíveis riscos, de forma claramente informada e compartilhada entre a gestante e a equipe de saúde deve ser promovida.
No mais, as expectativas das mulheres devem ser consideradas, e suas decisões apoiadas e respeitas .
Caderneta da Gestante-Ministério da Saúde
Declaração da OMS sobre Taxas de Cesáreas
Diretrizes de Atenção à Gestante: a operação Cesariana
Diretrizes Nacionais de Assistencia ao Parto Normal
História do parto do domicílio ao hospital
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