Imagine a cena: você está grávida. Começa o acompanhamento pré-natal com o seu Obstetra de confiança ou alguma boa indicação. Tudo vai bem… Até você questionar se ele também faz parto normal. Sem apelar para estatística, são grandes as chances de resistência às suas perguntas: “lá na frente a gente conversa”, é possível que ele diga. O fato é: hoje, a maioria dos médicos faz apenas cesáreas. Por uma série de questões que não vêm ao caso aqui.
Infelizmente não dá pra confiar em qualquer Obstetra se você procura um parto normal. Mais ainda: nem todo médico que “faz parto normal” se preocupa em evitar as várias intervenções desnecessárias durante o trabalho de parto e parto, ou pior: realizam diversas violências obstétricas.
Pronto. Você foi picada pelo “bichinho da humanização”. Aí você já entendeu isso, está procurando outras opiniões e descobre que é preciso pensar e refletir em como você quer o seu parto (hospital? Casa de parto? Na sua casa?). Também vai perceber que é importante definir quem estará na sua equipe.
Equipe? Como assim?
Além do Obstetra, outros profissionais também podem te acompanhar durante o nascimento de seu bebê. As chamadas equipes humanizadas de parto são formadas por Médico Obstetra, Enfermeira Obstetra/Obstetriz, Médico Neonatologista e Anestesia, além da Doula.
Mas por que tanta gente? Realmente preciso de tudo isso para o bebê nascer?
Nesse post você vai encontrar
Entender a atuação de cada um é ponto importante para que você possa escolher entre um parto em casa, na casa de parto ou no hospital; com equipe particular ou plantonista. Lembrando que nenhum deles substitui o acompanhante (companheiro, pai, mãe, irmã ou irmão, amiga, enfim, qualquer adulto de escolha da mulher).
Doula: é a responsável pelo apoio físico e emocional à mulher durante todo o trabalho de parto, mas também oferece ajuda preciosa antes disso. A Doula pode munir a gestante com informações e orientações para que ela decida conscientemente o local do parto, a equipe, se terá equipe particular ou será acompanhada pelo plantão médico do hospital etc.
Doulas não fazem nenhum procedimento técnico, como aferição de pressão arterial ou ausculta do bebê (ouvir os batimentos cardíacos), também não interfere nas decisões da equipe médica, mas é a profissional certeira para orientar sobre todo o processo de gestação, parto e pós-parto, ajudar a gestante na construção do plano de parto e também cuidar do bem-estar da parturiente, oferecendo métodos não-farmacológicos para alívio da dor, entre outras coisas.
Enfermeira Obstetra/Obstetriz: são profissionais com formações diferentes, mas papel similar. A Enfermeira Obstetra tem graduação em Enfermagem Geral e especialização em Obstetrícia; já a Obstetriz tem formação em Obstetrícia (a USP, em São Paulo, é a única faculdade no Brasil e oferecer este curso). Ambas são responsáveis por partos de baixo risco, em casa, casas de parto ou hospitais, mas não realizam cesáreas.
As chamadas Parteiras Urbanas podem acompanhar a gestante durante toda a gestação e no pós-parto, desde que seja uma paciente de risco habitual. Qualquer intercorrência é direcionada para o Médico Obstetra. As Parteiras Tradicionais têm a mesma função das Enfermeiras Obstetras e Obstetrizes, porém são mais comuns em regiões carentes, onde o acesso a hospitais é mais difícil.
No vídeo a seguir, uma entrevista concedida a Giovanna Balogh, do blog Mães de Peito, você pode assistir a uma entrevista sobre o trabalho das Obstetrizes.
Médico Obstetra: se você quer um parto hospitalar, ele é figura obrigatória, pois é o médico responsável pela paciente. Em um parto domiciliar, ele pode ser apenas backup (caso haja necessidade de transferência para um hospital) ou pode estar na equipe, mas não há obrigatoriedade – as Parteiras/Enfermeiras Obstetras podem atender partos domiciliares.
Médico Anestesista: presença garantida na cesárea, ele nem sempre aparece no parto normal (sim, é possível escolher ter ou não analgesia em um parto normal!). Pode ser da equipe do Obstetra ou plantonista do hospital, e aplicará a analgesia peridural ou raquidiana, de acordo com a necessidade e características do parto.
Médico Neonatologista: é um pediatra especializado em bebês recém-nascidos. Eles avaliam o bebê imediatamente após o parto, realizando os primeiros exames, medida e pesagem. Também não é figura obrigatória em um parto domiciliar: as Obstetrizes/Enfermeiras Obstetras se encarregam da primeira avaliação do bebê.
No caso de um parto hospitalar, contar com um Neonatologista humanizado garante que seu bebê seja recepcionado com respeito, sem exames e procedimentos desnecessários nos primeiros momentos – aspiração e uso de colírio de nitrato de prata, por exemplo. Além disso, pode ser mais uma ajuda para garantir a Hora de Ouro da mãe e do bebê.
“Mas, Rina, como assim eu tenho que escolher tanta gente? Ainda tô perdida!”
Sim, é muita gente dentro de uma única sala de parto. Sim, todos são necessários. Não, você não precisa necessariamente contratar todos eles. Não, eles não vão garantir o seu parto normal, rápido e sem nenhuma intervenção. Esses fatores não são 100% controláveis.
“Ué, então porque eu preciso de uma equipe humanizada? Eu não posso só chegar no plantão do hospital e acabou?”
Sim, pode. Afinal, os médicos plantonistas estão ali para acompanhar você durante o parto. Inclusive essa é a opção mais “econômica”, digamos assim, já que ter uma equipe completa é caro e longe da realidade da maioria da população. Mas infelizmente não é nada óbvio chegar no plantão da maternidade e ter um parto com respeito.
Seria lindo, de verdade, se todos os hospitais trabalhassem de forma humanizada, respeitando as vontades da parturiente e oferecendo a ela as melhores possibilidades durante o trabalho de parto e parto. Mas a realidade é muito diferente: protocolos rígidos, profissionais que não sabem ou não querem fazer diferente, que estão desatualizados quanto aos melhores procedimentos etc. No final das contas, é quase o mesmo resultado de ter um Obstetra que não segue os processos humanizados. O parto termina em uma cesárea por “motivo X” ou há tanta intervenção e violência obstétrica que o parto, que seria normal, se torna em um monstro digno do Dr. Frankenstein.
Alguns hospitais já estão trabalhando na melhoria de seus protocolos, para acolher a gestante de forma mais humanizada. Alguns aceitam o trabalho das Doulas, o que ajuda muito.Como já mencionei, a Doula não faz procedimentos médicos e nem interfere nas condutas da equipe. Mas com um bom acompanhamento, a gestante estará munida de informações e a Doula pode lembrá-la, na hora, das suas escolhas prévias.
Então quais são as possibilidades para quem não pode arcar com uma equipe completa? As possibilidades de configuração das equipes são variadas, é preciso conversar para chegar em uma que seja possível para você.
Se parto domiciliar é uma opção, o custo geralmente é bem mais baixo que no hospitalar. Caso você não abra mão do hospital, pode contratar apenas a Doula ou Doula + Obstetriz, e ir para o plantão da maternidade em um estágio mais avançado do parto, com o acompanhamento da Doula durante todo o tempo. Alguns Médicos Obstetras também aceitam trabalhar sem equipe, apenas com a Doula junto da gestante.
“Rina, é realmente impossível para mim contratar uma equipe completa, talvez, quem sabe, ter um médico obstetra humanizado”. Então, querida gestante, pense com carinho em contratar uma Doula. Uma boa profissional irá te ajudar nos caminhos, a buscar informação de qualidade e que te ajude inclusive a optar pela melhor opção dentro da sua realidade.
Se quiser conversar, pensar nas suas possibilidades, me chama. Estou à disposição! Deixe um comentário aqui, me chama no whatsapp ou mande um mail 🙂
(Sim, fiz um jabazinho no final, mas pode, né? 😀 )
Um abraço,
Rina Noronha – colomaterno.com
Para guardar e consultar: textos e vídeos importantes para você entender mais sobre a humanização do parto.
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