Quando você vê uma foto ou assiste um vídeo de parto na água, acha lindo, emocionante e um tanto chique, não é? Igual a diva Gisele Bündchen, em seus dois partos domiciliares, ambos na banheira de sua casa.
Já imaginou ter um parto na banheira, com pétalas de rosas sobre a água cristalina. Na playlist tocando Maria Bethânia:
“Debaixo d’água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respiraaar… Mas tinhaaaa que respiraaaar…”.
Então vamos conversar, eu tenho 11 coisas pra te contar sobre parto na água.
Nesse post você vai encontrar
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Imersão na água durante o trabalho de parto é bastante utilizada quando as mulheres entram numa banheira ou piscina com água aquecida, é um dos métodos de alívio da dor, ainda na primeira fase do trabalho de parto, antes do bebê nascer.
Parto na água é quando a mulher vai permanecer na água ou aquela que vai experimentar imersão somente quando estiver no período expulsivo e então bebê nasce na água. Após nascer é trazido à superfície para então começar a respirar e ser acolhido aqui fora.
IMPORTANTE: é um tipo de parto que pode acontecer tanto domiciliar como em centros/casas de parto ou hospitalar.
Cerca de 60 a 65% do corpo humano é composto de água, seja em nossos músculos, ossos e até 95% do nosso sangue. Por muitos meses de gestação, o bebê se desenvolve num ambiente aquático, envolvido pelo líquido amniótico, dentro do útero onde estará protegido e aquecido.
A água está presente em nossa fisiologia diária quando precisamos beber para nos hidratar, no banho para relaxar de um dia cansativo, num banho de mar ou de piscina. Água, muitas vezes usada nos rituais de purificação, no processo terapêutico da hidroterapia e de tantas outras formas.
Durante a gestação e o trabalho de parto, a água vem sendo muito utilizada como um dos métodos não-farmacológicos de alívio da dor, seja a água quente caindo do chuveiro ou poder mergulhar numa piscina ou banheira.
O incrível é que a água tem a força de fazer o corpo flutuar, por reduzir a ação da gravidade, deixando mais fácil a movimentação, diminuindo a sensação de peso, ajudando a relaxar entre uma contração e outra, até aliviando a dor e o desconforto das contrações.
Cada vez mais mulheres têm sentido vontade de usar esse recurso tão simples e poderoso em seus trabalhos de parto.
Apesar de algumas descrições de partos na água nos tempos antigos e em muitas culturas, os partos na água só se tornaram uma prática mais conhecida nos anos 1980 e 90.
No tempo em que os partos eram atendidos em sua maioria pelas parteiras, elas já sabiam do poder que um banho quente por imersão era muito bom para a mulher em trabalho de parto.
Mas foi por volta de 1960, que um pesquisador soviético chamado Igor Tiarkovsky, explorou pela primeira vez essa possibilidade de as mulheres entrarem em banheiras mais fundas, a ponto de cobrirem seus corpos, e também parirem seus bebês ali.
Logo depois, ainda na década de 60, o obstetra francês Frédérick Leboyer, começou a dar banhos nos recém-nascidos logo que nasciam, por constatar que ajudava na adaptação da temperatura dos bebês fora do útero de forma gradual.
Em 1980, o primeiro parto na água foi documentado nos EUA, e a imersão durante o trabalho de parto tornou-se popular devido aos relatos de alívio da dor e movimentação mais fácil.
Em 1983, o Dr. e Obstetra Michel Odent publicou um artigo citado na revista Lancet, descrevendo 100 partos na água que ocorreram num hospital em França.
Michel Odent, o cientista dos hormônios do “amor”, também foi um dos pioneiros. Instalou uma banheira num espaço da sala de parto, chamada de “salle sauvage” em francês, traduzindo para o português “sala selvagem”, no hospital em que atuava na França, em 1977. Até 1983, milhares de mulheres usaram a banheira durante o trabalho de parto, mas apenas 100 delas pariram na água. Odent percebeu que a maioria das mulheres preferia sair da água no expulsivo.
Ao observar as mulheres que preferiam continuar na banheira durante o expulsivo, viu que era um ambiente que facilitava o primeiro contato entre mãe-bebê e não apresentava mais riscos além dos riscos habituais de um parto fora da água.
“Deveria ser possível para todos os hospitais convencionais ter uma banheira situada perto da sala de parto e do centro cirúrgico… a imersão em água aquecida é um eficiente, prático e econômico meio de se reduzir o uso de medicamentos e a taxa de intervenções obstétricas”. Michel Odent, escreveu no periódico médico inglês Lancet – 1983.
Essa é a graça de um parto na água, a liberdade para se movimentar e encontrar a posição que achar mais confortável.
Quem estiver dando assistência ao parto pode entrar, mas a maioria fica do lado de fora e se precisar intervir pode entrar na água a qualquer momento ou a mulher sair. O(a) acompanhante pode entrar ou ficar fora, pode também ficar atrás da mulher lhe dando apoio. Assim como a doula com todo seu suporte.
As principais posições são:
Principalmente se for parir em casa!
O bebê vai coroar, a cabeça vai aparecer, quem estiver assistindo ao parto vai verificar se não há circular de cordão no pescoço, se estiver, vai desenrolar ou aliviar para deixar o processo continuar.
O calor da água ajuda o períneo a amolecer.
Você pode botar a mão para sentir esse acontecimento maravilhoso e também conduzir a saída do bebê.
Lembrar de manter a calma neste momento. Proporcionando uma saída tranquila e suave, pode deixar o bebê ainda um tempo embaixo da água. O ideal é não passar de 2 minutos.
O estímulo da respiração acontece quando o bebê for para uma temperatura um pouco mais fria. Enquanto estiver debaixo da água ele continuará recebendo oxigênio através do cordão umbilical.
Cuidado ao puxar o recém-nascido muito rápido para cima, pelo risco de rasgar o cordão, pela rapidez ou tração muito forte do cordão, ainda mais se for curto, pode causar uma hemorragia no recém-nascido se não for solucionado a tempo.
Após o nascimento, a mulher deve ser incentivada a amamentar, os primeiros sinais vitais do bebê podem ser avaliados ainda no colo da mãe e após o cordão umbilical parar de pulsar, será decidido entre a mulher e sua equipe se desejam esperar o nascimento da placenta na água ou sair da água. Então serão avaliados o períneo e sangramentos.
Logo após toda esta jornada que vocês dois passaram, poderá deitar na sua cama, relaxar e curtir seu bebê.
Segundo alguns estudos e pesquisas o parto na água apresentou:
Por outro lado, as mulheres com partos em terra têm menos taxas de laceração de 1º e 2º grau, mas porque muitas delas são cortadas em vez de lacerar naturalmente, ou mesmo a chance de não lacerar.
Num estudo com 1.519 mulheres italianas com parto na água, descobriram que 0,3% das mulheres com parto na água tiveram laceração de 3º grau e nenhuma de 4º grau.
No Reino Unido, 2% das 5.192 mulheres com parto na água tiveram lacerações de 3º grau. Não tiveram registros de lacerações de 4º grau.
As evidências mostram que as episiotomias podem amentar o risco de trauma perineal grave, como as que acontecem em lacerações de 3º e 4º graus.
“O risco de aspiração só existe para bebês deprimidos ou acidóticos, de forma que a ausculta fetal é essencial para monitorização do trabalho de parto. Na presença de padrões anômalos de frequência cardíaca fetal está contraindicado o parto na água”. Melania Amorim (4)
Muitas vezes a mulher planeja um parto na água e até mesmo romantiza o parto. Normal esse tipo de expectativa, com tantos vídeos editados de partos e tanta ocitocina nos relatos, muitas omitem o parto real, por tabu e vergonha.
A mulher sonhou com pétalas de rosas na banheira, mas o parto foi tão rápido que só rolou um cocô boiando mesmo.
Água límpida? Pode ficar turva com algumas secreções ou vermelha de sangue, cheia de vérnix do recém-nascido, vai sentir aquele cheiro adocicado de sangue e suor do parto.
Assim como planejar um parto domiciliar, que pode começar em casa, mas por “N” motivos pode terminar num hospital, num parto instrumental ou numa cesárea necessária. Não dá para saber se o parto vai acontecer na água e não tem problema se no expulsivo, você mulher, se sentir mais confortável numa banqueta, na cama, no chão ou precisar de uma intervenção necessária.
Esteja aberta para encarar o seu parto, um parto REAL.
foto de Jason Lander via flickr.com
Ainda precisamos de grandes estudos, com números maiores de participações, quando o assunto é parto na água.
Mas os estudos disponíveis já se mostram vantagens de parir na água, como: redução da necessidade de analgesia, redução de episiotomia e lacerações espontâneas, menor duração da primeira e da segunda fase do trabalho de parto e maior satisfação da mulher com o próprio parto.
O parto na água é uma das muitas opções.
Sabemos das dificuldades de acesso para conseguir um parto assim. Durante o pré-natal muitas são desencorajadas por seus médicos, que se baseiam no mito de que parto na água é perigoso.
Conheça seu hospital de referência, se possível contrate uma equipe de confiança, que te acolha e dê liberdade de escolha.
Vamos espalhar informações, lutar por nossos direitos, por nossas escolhas, por um pré-natal de qualidade e com profissionais atualizados, por maternidades, centros e casas de parto com uma boa estrutura para o parto, acesso a equipes de parto domiciliar no SUS e particulares.
O parto na água representa uma opção segura para as mulheres que o desejam, os profissionais devem respeitar a autonomia da mulher sobre a decisão do local de seu parto.
Gostou do texto? Compartilhe com quem você deseja dividir estas informações.
Se você conseguir ou já conseguiu o seu parto na água, conta aqui nos comentários ou me mande um e-mail contando a sua história: doulajulinemarconato@gmail.com
Gratidão e até logo,
Juline Marconato
Você pode ler mais em estudos científicos sobre o assunto. Essas foram as minhas referências de base para este texto :
Trecho do post da Dra. Malania Amorim – Blog Estuda, Melania, Estuda! http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/09/estudando-sobre-parto-na-agua.html
Balaskas, Janet – Livro Parto Ativo: Guia Prático para o Parto Natural – A história e a filosofia de uma revolução… Editora Aquariana/Ground – 3ª edição São Paulo/2015 – Capítulo 8. Parto na Água, páginas 261 a 278.
Evidence Based Birth – potal da Dra. Rebecca Dekker, criado para facilitar o acesso as evidências científicas dos cuidados no nascimento. https://evidencebasedbirth.com/evidencias-cientificas-para-o-parto-na-agua/
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Romantizam muito mesmo o parto domiciliar... Ontem estava assistindo uns vídeos no youtube sobre isso, e meu deus, fiquei chateada... Normalmente famílias ricas, e só mostram nos vídeos as coisas lindas relacionadas... é triste!
Espero que a doulagem e as parteiras, estejam mais atentas e abertas às mulheres do povão, do SUS, às que não têm condições financeiras... Enfim!
Estou para fazer um curso de doula, o assunto me chama atenção faz já uns 3 anos...! <3
Obrigada por comentar Ednita.
Realmente, nosso desejo é que o parto na água, partos humanizados, partos que respeitem o protagonismo da mulher, estejam cada vez mais e mais acessíveis para todas.
Isso vai acontecer empoderando mais as mulheres, brigando por políticas públicas de atenção ao parto e dos planos que também cobram valores surreais para disponibilizar uma suíte de parto.
Você já está no caminho certo, faça o curso e transforme toda essa chateação, essa revolta, em combustível para ajudar a levar informação às mulheres. <3 Beijos
Eu desejo um parto domiciliar desassistido. Pois não tenho condições de pagar por uma equipe. Que Conselho vcs me dão pra que tudo corra bem?
"Tenha uma equipe" é nosso melhor conselho.
Parto desassistido não é recomendado por nenhum estudo que temos conhecimento e não apoiamos essa prática justamente por não ser a mais segura para mãe e bebê.