O parto de quatro ainda não é muito praticado no Brasil por questões culturais, tanto pelos médicos como pelas parturientes, porém tem grandes vantagens sobre outras posições para a mãe e bebê, como por exemplo: é associada a menor morbidade materna, ameniza a dor lombar, aumenta a abertura da pelve, o que facilita a passagem do bebê, diminui a duração do expulsivo e reduz a necessidade de uma episiotomia, além de ser a melhor posição para casos de distócia ou de edema de colo.
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Pensei mil formas de começar esse texto. Primeiro o tema. Estava pensando em temas que, geralmente, as pessoas ficam curiosas/assustadas quando entro em um determinado assunto. E lembrei de como ficam boquiabertos e/ou acham engraçado quando falo que pari minha caçula de quatro.
Pronto! Tema (check). Começar o texto… Artigos, notícias, mídia, publicidade… Cadê as mulheres parindo em quatro apoios? “Tá explicado!” É por isso que ficam abismados!
Resolvi começar pela minha história (check)! Vamo desconstruir isso aí! “Você teve um parto humanizado, né?” “Sim, foi lindo! Teria mais dez filhos dos mesmo jeito!” “Sério? Como foi?” “De quatro!” (Cri cri cri).
É isso mesmo! Aquela posição com os quatro membros apoiados em uma superfície, com joelhos e cotovelos ou mãos – a posição para engatinhar. Ela pode ser realizada no pré-parto, parto e pós-parto, apenas os membros ou com objetos confortáveis que apoiem a parte superior do corpo, deixando a pelve livre, sem apoio.
Às vezes surgiam algumas piadinhas, mas eu percebia que “a graça” vinham acompanhadas de expressões de curiosidade. Então eu sempre mantinha a mesma cara (de paisagem ou de feliz, dependendo do receptor). E eu começava a explicação…
Certa vez conversando sobre posições alternativas no parto com uma amiga próxima, residente em enfermagem obstétrica, ela comentou que se eu pudesse parir na posição de Gaskin, que era uma ótima opção, por poder favorecer a descompressão da cabeça do bebê contra a articulação sacrilíaca da mãe, o que leva ao alívio da dor e auxilia na evolução do trabalho de parto. Após entender que se tratava da posição de quatro ou em quatro apoios, provavelmente eu tenha feito a mesma cara assustada que as pessoas me fazem atualmente.
Ela me explicou também que, na prática, era a posição que ela via menor ocorrência de laceração, quando ocorria, eram bem tranquilas. Ali, eu, que já abominava a episiotomia desnecessária e que já tinha sofrido uma há quase 10 anos, tinha medo do “novo procedimento”, mas procurava posições que não fossem agravantes.
A Carla continuou a me dar uma aula de como posições verticais facilitam a descida do bebê e a expulsão (faz muito sentido, né?), que são ótimas opções, porém devem ser devidamente direcionadas pelos profissionais que acompanham a gestante, para não haver tanta força na fase expulsiva do parto e ocorrer uma laceração de maior grau devida maior facilidade do puxo.
Enquanto, no parto em quatro apoios, a pressão da cabeça do bebê no colo do útero e na face interna da bacia é reduzida, aumenta o diâmetro da pelve, facilita a rotação interna do feto e sua saída, diminui a duração do período expulsivo, reduz a pressão nas vísceras maternas e a necessidade de uma possível episiotomia, além de ser a melhor posição para casos de distócia, de bebê pélvico ou de edema de colo.
Assim se fez. Antes que eu pudesse entender sobre a Visualização para o parto – vale dar uma pesquisada – a posição de Gaskin ficou no meu inconsciente como Plano B. Meu primeiro plano era parir na banheira, mas na hora do expulsivo a água estava muito quente e eu não queria minha bebê cozida (haha). Logo fui para a maca e, não é que eu aderi à posição imediatamente? Foi, de fato, a posição que eu me senti mais confortável, pude ficar de frente segurando as mãos de quem me acompanhava, com menor grau de dor e que eu tenho orgulho de ter acatado.
O melhor ali, era a liberdade que eu tinha para escolher como eu queria ficar, tanto para aliviar as dores como para parir. É crucial para um bom desenvolvimento do trabalho de parto que os profissionais não restrinjam, além de estimular que a mulher procure posições confortáveis, que confiem no seu julgamento e que ela tenha autonomia sobre suas escolhas.
Após esse episódio, é perceptível um certo preconceito com o parto na posição de quatro apoios no Brasil, onde por questões culturais não é tão praticado quanto em outros países. Não que isso seja uma novidade em um país que mulheres preferem uma cesárea eletiva, ou não, por medo de “estragar” os músculos elásticos da vagina, mas isso já é outra história…
Os saberes das gestantes acerca das diferentes posições de parir https://app.uff.br/riuff/bitstream/1/2910/1/TCC%20Lorenan%20Sabbadini%20da%20Silva.pdf
A experiência da mulher e de seu acompanhante no parto em uma maternidade pública http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072016000100309
Parto em apresentação pélvica https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/430-parto-em-apresentacao-pelvica
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