Categories: Parto Normal

Parir pra ir além…

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Eu sempre achei difícil falar de quem não conhecemos, principalmente quando não é possível criar estereótipo. É, e tem que ser difícil julgar o percurso ou caminhada inteira quando a estrada só foi percorrida por poucos passos e ainda falta uma longa jornada. Eu consigo recordar de coisas de um passado que, nem parece estar longe e nem perto, mas a sensação que tenho é que foi em outra vida. Então… Vou começar por ela, afinal, acho mais fácil do que falar de uma pessoa tão nova e ainda em descoberta.

Alessandra, mas prefiro Alê (sempre achei meu nome muito grande rsrs). Graduada em administração, 30 anos, mãe do pequeno Heitor de um ano e oito meses, companheira e parceira de vida do Erê, virginiana (espero que isso não seja um problema hehehe), acredito que por conta disso, um pouco metódica. Nessa outra vida eu gostava de: ler livros de romance, escutar musicas, ir a shows, bares com os amigos e bater papo com o marido. Uma pessoa comum. Na carreira profissional eu já trabalhei na área de RH/Treinamento administrativo em uma empresa nacional de porte grande, permaneci nela por quase sete anos. Em seguida, trabalhei em uma agencia de marketing de incentivo. Essa última estive por quatro anos, entre outras anteriores a essas. No geral, eu sempre gostei de me manter ocupada, de trabalhar. Acho enriquecedor não só pela remuneração, mas aprendizado do dia a dia e pela possibilidade de conhecer pessoas.

Um portal chamado parto

Abril/2016. Logo após o nosso nascimento.

Até que eu pari, e depois disso nunca mais encontrei essa pessoa com a vida mediana que descrevi. Às vezes tenho vontade de ir à maternidade para ver se a encontro. Hoje eu estou em construção, porem, nunca estive tão certa de que, estou escolhendo o caminho que tenho para seguir.    Explico: eu e meus irmãos nascemos de cesárea, eu escutei a vida inteira minha mãe dizer que ela não entrava em trabalho de parto, logo, eu não entrava também (pensava eu), e até que eu achava bom. Dizem que é a dor da morte. Para que provar?! Mas eu sou uma pessoa questionadora e uma chata de galocha, logo depois de descobrir que estava grávida, fui pesquisar meu maior medo, o parto normal. Com três meses de gestação já tinha concluído pelos meus estudos (eram praticamente diários), que parto normal era mais seguro do que uma cirurgia para a retirada do bebê. Por fim, assisti o renascimento do parto e a hora certa que reforçaram que parir é fisiológico, saudável e seguro.

Então, passei por sete médicos do convênio e todos diziam que o parto era um assunto a ser tratado quando estivesse próximo da data. Um dia, questionei uma dessas medicas sobre analgesia e a real necessidade de uma episiotomia (pique no períneo). Ela respondeu: você terá parto normal se eu quiser. Jamais vou esquecer a sensação de impotência diante dessas palavras acompanhada de um ar de impaciência. Ali, eu percebi que, tudo o que eu havia lido sobre a humanização do parto era real, e se eu permanecesse naquele plano de parir acompanhada dos médicos do convenio, eu não teria um parto normal e se tivesse, possivelmente sofreria violência obstétrica.  Mudei tudo, decidi buscar uma medica humanizada, encontrei a Dra Luciana Motoki, uma pessoa linda e que trata a mulher como única. Cada consulta eu entendia mais o motivo de não optar por intervenções e a importância de esperar a hora do Heitor.

Entre uma contração e outra, eu dormia.

Vamos ao dia do meu renascimento, já em meio as ondas, eu buscava uma posição menos incômoda e sentia a onda passar pelo meu corpo como se fosse uma corrente elétrica, eu não conseguia abrir os olhos e para ser sincera não recordo de quase nada. Eu não estava ali, estava conectada com meu corpo,  em um misto de incômodo e aconchego, de sensação intensa e paz profunda. Trabalho de parto é contraditório. Senti meu instinto aflorado, vocalizava sem nunca ter ensaiado uma respiração sequer. Aos poucos fui voltando da minha viagem interna para a sala de parto. Quando achei que já tinha conhecido o meu corpo, veio a maior e mais bela surpresa, o expulsivo, que força! Era inevitável e incontrolável aquela vontade de fazer força, nunca soube ser forte como fui naqueles minutos. Vinha um circulo de fogo, ardia e em seguida eu não era mais eu, era uma leoa. Minutos antes de parir, eu fechei os olhos e respirei com muita vontade. Escutei o tic tac do relógio e por fim, senti o cabelo incomodar no rosto (que falta faz uma doula hehehe) e pensei comigo: vamos Alê, ajuda ele a nascer, ajuda seu bebê, seu filho. Percebo que a vontade de fazer força esta voltando e faço a força com determinação, de novo, me sinto uma leoa, um bicho.

E ele veio! Heitor nasceu! Só queria pega-lo, cheira-lo e ficar com ele por horas, dias, ou por uma vida inteira. Eu fiz a viagem mais intensa e plena que uma mulher pode experimentar na vida, nessa viagem, perdi algumas coisas e encontrei outras, uma coisa que encontrei foi à empatia e o amor por outra mulher.  Vejo o parto como uma oportunidade única de viajar pelo seu próprio corpo e de superar seus próprios limites, eu pude sorrir em meio a ondas altas e baixas e sentir meu corpo trabalhar. É tão difícil descrever todas as sensações que um parto nos dá. Pra mim, é poder e prazer!

Fazer o que te move

Não quero falar da doula baseada em evidencias cientifica, embora, com base no estudo que Klaus e Kennel publicaram em 1993 em “Mothering the mother”, mostra que a atuação da doula no parto pode diminuir em 50% as taxas de cesárea, em 20% a duração do trabalho de parto, em 60% os pedidos de anestesia, em 40% o uso da ocitocina e em 40% o uso de fórceps.

Por Wendy Kenin

Quero falar da Alê e das manas doula que encontro na caminhada. Sim, para ir na contramão temos que ter um chamado, uma força maior. Eu hoje atuo como doula. Cada parto que acompanho me ensina que tenho muito que vivenciar nesse universo mágico que é doular. Nosso chamado é para doar-se para uma mulher que logo em seguida se doará para outra pessoa. Empatia!  Eu acredito que ela poderá mudar o mundo. Aquela empatia que esqueci na infância, eu a ignorei depois de me ensinarem que não deveria me deixar passar por boba na vida. E essa empatia veio me visitar assim que acompanhei o primeiro trabalho de parto como doula. Depois disso, fui tomada pelo desejo de cuidar.  Estou certa de que, cada mulher que escolhe uma doula, ela vem para ser cuidada e acolhida, mas, não sabe que o parir dela nos da um pouco desse abrir os olhos e renascer.

Eu pari e renasci, mãe do Heitor e doula para quem desejar ir além.

Rede social: 

https://www.facebook.com/alessandra.menezes.790?hc_ref=ART-DkkTONiUfVt8ZXh6ukO-q3tWrOanqHpvLtQwB5Ch2_kJNaEnCZZZaz1P7IQIO_U&pnref=story

Referencias citadas:

Nascer no Brasil: https://portal.fiocruz.br/pt-br/content/pesquisa-revela-numero-excessivo-de-cesarianas-no-pais

O Renascimento do parto: https://www.youtube.com/watch?v=9-dHeTrWuQ0&list=PLY-hZtX_CwE2_gUty9eDobebBH925Ttm0

Na hora certa: https://www.youtube.com/watch?v=fkGfzptCaME

Klaus e Kennel publicaram em 1993 em “Mothering the mother”

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Doula Alê Menezes (São Paulo-SP)

Doula, facilitadora do aleitamento materno, mãe do Heitor e parceira do Erê.

Uma mulher em construção que descobriu na maternidade e no parto verdadeiras paixões e grandes desafios. Apaixonada por parto desde que pari o Heitor de forma primitiva e calorosa, uma experiência que me tirou o folego, mudou o meu olhar para o mundo e em especial para as mulheres. Cada mulher que acompanho de certa forma mantém viva essa paixão e me permiti que o parir dela me dê um pouco desse abrir os olhos e renascer.

Atuo em São Paulo

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