Continuamos evoluindo, chegamos a última fase do trabalho de parto, a fase de transição. Considerada uma das fases mais intensas do processo. Se esse é o primeiro texto da série que você teve acesso, sugiro que leia os textos anteriores (clica no meu perfil aqui em cima para encontrar os outros textos) para compreender melhor todas as fases pela qual você irá passar.
Falta muito pouco para você e seu bebê se conhecerem, é muito importante que você e a pessoa que for te acompanhar no parto conheçam as fases do trabalho de parto, mas principalmente a fase de transição, leia a seguir e entenda os motivos.
Nesse post você vai encontrar
A palavra transição significa “mudança”, “passagem”. A fase de transição é a ponte entre as últimas contrações de dilatação e o início das contrações de “puxos” do período expulsivo.
O livro Parto Ativo traz uma descrição muito interessante do período de transição:
Imagine que você está escalando uma grande montanha, depois de subir bastante, no final de uma porção íngreme, você se depara com uma grande parede rochosa que tem que traspor para alcançar o topo. Embora você esteja mais perto do que nunca, pode perder a noção dessa relatividade e se desesperar, consumindo-se na batalha contra essas últimas e penosas contrações.
As contrações agora são intensas e seguidas uma das outras, com pouco intervalo entre elas. A dilatação varia entre 8 e 10 cm. Algumas mulheres podem ter nessa fase o chamado “rebordo anterior”, ou seja, uma borda do colo do útero que está bem abaixo da sínfise púbica* que demora um pouco mais para ser incorporada ao útero do que o restante do colo. É preciso que esse rebordo se incorpore para a dilatação se completar.
A fase de transição pode durar segundos ou algumas horas, cada mulher vai senti-la de uma forma única. É esperado que a fase de transição demore mais no primeiro parto.
Como disse anteriormente, essa fase é sentida de uma maneira muito particular, pode ser que você sinta exatamente o que vou descrever ou passe por ela de uma forma muito sutil, quase sem perceber.
É uma fase muito confusa, com sentimentos conflitantes. A dilatação está completa e você está vulnerável. As contrações de dilatação se misturam com as de expulsivo, você começa a sentir vontade de fazer força parecida com a vontade de fazer cocô (mesmo ainda não sendo o momento de empurrar) o que gera certo desespero ou irritação, pois parece que você não consegue mais lidar com o que ta sentindo, não consegue identificar ao certo o que está acontecendo. Você fica assustada.
Você está lá na partolândia, entregue ao seu eu mais primitivo e de repente os hormônios começam a mudar, começa uma descarrega de adrenalina sobre o corpo.
O obstetra francês Michel Odent chama as sensações da fase de transição de “medo fisiológico”, é o medo irracional que a mulher sente que aumentam os níveis de adrenalina, hormônio necessário para o período expulsivo. Você já deve ter ouvido falar de mulheres que no parto se sentiam já cansadas, mas no expulsivo ganharam uma injeção de ânimo e força para empurrar o bebê, é graças a adrenalina.
No período de transição acontece a famosa “hora da covardia”, você pode não acreditar em mais nada, se questiona o motivo daquilo, pede cesárea, pede analgesia, pede para ir embora, fala que aquilo não é para você, fala que não vai conseguir, que não aguenta mais, xinga o (a) acompanhante, xinga a Doula, fala que vai morrer… Isso é muito comum e natural, fique tranquila.
A mulher nesse momento perde o foco e não se dá conta que falta muito pouco agora, que o bebê está quase nascendo. A fase de transição é como estar na beira de um abismo, dá medo, mas é lá embaixo que está o bebê, você precisa se lançar, e só volta de lá com o bebê nos braços.
É comum a mulher sentir enjoo ou tremores, a cabeça pode ficar quente e os pés frios, a mulher costuma sentir bastante sede também.
Na fase de transição o útero já se moldou a cabeça do bebê, ele desce mais pela pelve e começa a sair de dentro do útero e chegar no canal vaginal, o que gera muita pressão e desconforto na vagina. São muitas sensações acontecendo ao mesmo tempo, eu sei, mas tente se lembrar que falta pouco…
Você deve estar meio assustada com toda essa intensidade de sensações que a fase de transição nos apresenta né? Mas nunca perca de vista que você é capaz de passar por ela, acredite em você e no seu corpo, tem um propósito na qual a natureza pensou ao criar o trabalho de parto, lembra que ele é um portal pelo qual você vai passar para poder encontrar seu bebê do outro lado, você chegará lá uma outra mulher, uma mulher mãe mais forte e mais madura.
Agora que você já sabe o que pode sentir na fase de transição, é justo conhecer também o que fazer para passar por ela com mais leveza. A dica número 1 é:
Ter apoio: Já citei no texto anterior a importância de ter apoio durante o trabalho de parto e parto, a Doula ajudará vocês nesse momento, mas prepare a pessoa que estará com você no seu parto, é importante que essa pessoa tenha ciência sobre o que você vai passar para que ela possa te dar apoio de uma maneira sutil e eficiente. Talvez essa seja a fase que mais exija apoio emocional.
Lembre-se que você estará vulnerável, talvez peça para desistir, seu (sua) acompanhante precisa ter empatia pela sua dor e não pena, precisa te dar apoio emocional para continuar, te fazer lembrar o porquê você está ali. Um toque, um abraço ou uma palavra podem fazer muita diferença nesse momento, acredite.
Siga seus instintos: Nosso corpo costuma nos “pedir” posições que favoreçam a evolução do trabalho de parto, ouça-o sem medo.
Respirar: Mantenha a respiração profunda de sempre e se concentre na expiração, procure relaxar em um mergulho interior. (Quando as gestantes que acompanho costumam perder o foco, tento respirar com elas, afim de ajuda-las a se concentrar novamente, treine isso com seu (sua) acompanhante durante a gestação, pode ser de grande ajuda).
Vocalizar: Para algumas mulheres, gritar, gemer, xingar ou fazer barulho nesse momento costuma aliviar a dor, para outras o silêncio é melhor. O importante é você ficar à vontade e não ser incomodada, distraída ou perturbada sem necessidade (assim como quando você está atingindo um orgasmo, na fase de transição não pode haver nada que atrapalhe seus impulsos involuntários). Fique em paz.
Posição de 4 apoios: Você pode se debruçar em uma pilha de almofadas firmes, inclinar o tronco para frente se apoiando na doula ou no seu (sua) acompanhante. Essas posições costumam aliviar a pressão sobre o colo e ainda ajudam a mulher a descansar entre as contrações.
Se a sua fase de transição estiver muito longa, sua Doula e seu acompanhante podem te ajudar a tentar mudar de posição, ficar em pé, deitar de lado bem apoiada por travesseiros, caminhar devagar, sentar na borda da cama, na banqueta de parto ou até no vaso sanitário.
Se entregue totalmente a esse momento, escutar seu corpo e acreditar no seu poder é o melhor caminho. Muito em breve essa fase vai passar e as contrações do expulsivo vão se estabelecer, irão começar os puxos, e aí sim, você estará a algumas contrações do seu bebê <3
Restou alguma dúvida quanto a fase de transição? Preenche o formulário abaixo e a gente troca informações! <3
Abraço, Julia Agnes.
*A sínfise pubiana, também denominada sínfise púbica, trata-se da articulação responsável por unir os ramos direito e esquerdo do osso pubiano. Anatomicamente, situa-se anteriormente à bexiga urinária e acima dos genitais externos, sendo que para indivíduos do sexo feminino localiza-se acima da vulva enquanto que para os indivíduos do sexo masculino, acima do pênis.
Referências:
GUIMARÃES, Alberto. Parto sem medo. São Paulo: Editora Mulheres que decidem, 2016.
Guia da gestação ao puerpério: http://jessicascipioni.s3.amazonaws.com/Guia+da+gestação+ao+Puerpério+-+como+viver+cada+fase+com+mais+leveza.pdf
BALASKAS, Janet. Parto ativo: guia prático para o parto natural (a história e a filosofia de uma revolução). Tradução: Adailton Salvatore. São Paulo: Editora Aquariana Ltda, 2015.
BIO, Eliane. O corpo no trabalho de parto: o resgate do processo natural do nascimento. São Paulo: Summus editorial, 2015.
Síntese púbica: https://www.infoescola.com/sistema-esqueletico/sinfise-pubiana/
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