Entre os grandes Mistérios, o parto foi por muito tempo o maior e mais bem cuidado pelas mãos femininas.
Eram através delas que a vida se fazia fluir dentro de suas casas, mulheres amparadas por irmãs, mães, filhas, observadas atentamente por uma outra, aquela que conhecia ervas, que acompanhava o luar e as estrelas no céu para se guiar.
A operação cesariana na Antiguidade só era praticada após a morte da parturiente, com a finalidade de salvar o feto ainda com vida. Desde 700 a.C. a lei romana proibia os funerais de toda gestante morta, antes que se fizesse a cesárea para retirada do feto. Os fetos que nasciam com vida eram chamados cesões ou césares (Vieira, 1871-1874).
A primeira cesárea realizada em mãe viva foi realizado ). Foi realizada em 1500, em Sigershaufen, pequena cidade da Suíça, por Jacob Nufer, em sua própria esposa. Jacob Nufer não era médico e nem sequer cirurgião-barbeiro. Era um homem simples do povo, habituado a castrar porcas.
Mesmo assim, a cesárea só foi ganhar popularidade no século XVIII e apresentava índices muito baixos de sobrevivência mãe-bebê.
Nesse post você vai encontrar
Nosso amor pelA cesariana é creditada ao dr. José Correia Picanço, barão de Goiana, tendo sido realizada em Pernambuco no ano de 1822.
Mesmo assim o conhecimento passado através de gerações às parteiras ainda resistia.
Nosso histórico de violência obstétrica é centenário, começa em meados de 1894, com a inauguração de uma ala exclusiva para atendimento de gestantes na Santa Casa de São Paulo.
Era na maternidade que os médicos tinham seus primeiros contatos com partos reais, e era também lá onde as irmãs responsáveis faziam o possível para que a experiência daquelas mulheres (pobres) fosse tão ruim a ponto de nunca mais quererem voltar. Sujeira, maus tratos, lençóis reaproveitados e escassez de alimentação. O parto hospitalar era “coisa de pobre”.
Parir nos hospitais na época era o que apenas mulheres sem recursos, prostitutas, viúvas, mães solteiras, enfim, toda a sorte de mulher renegada pela sociedade, tinham a recorrer. Com atendimento muitas vezes precário e alto índice de morte materno-infantil por causa de infecções. Era um ambiente tudo, menos acolhedor.
Apesar dos poucos registros sabe-se que mesmo já em 1930 (em São Paulo) 85% dos nascimentos haviam sido domiciliares e acompanhados por parteiras tradicionais, 10% dos nascimentos haviam sido domiciliares com assistência de parteiras formadas e apenas 5% dentro dos hospitais.
Precisou de uma intensa política de incentivo governamental para que o ambiente hospitalar fosse o escolhido como melhor pelas parturientes. Movimento social, politico e (como não) econômico que acabou resultando em partos na maioria hospitalares nos anos 70 onde 15% dos nascimentos eram através de cesárea.
Os partos seguros saíram de dentro das casas, escolheu-se os ambientes estéreis, o tempo foi otimizado, passou-se a dar mais confiabilidade à encubadoras do que aos corpos femininos para gerar.
Até meados de 2000 quando voltou-se a discutir a melhoria na assistência, se realmente os ambientes hospitalares eram os ideais, se o parto era realmente um evento CLÍNICO e não familiar.
Foi quando a figura da Doula, já quase esquecida no tempo, também é resgatada.
A mulher que Serve.
A mulher que serve a mulher que pari.
Aquela que apoia.
Mas como será que as mulheres modernas recebiam essa figura? Como se sentiam em relação à esse acompanhamento?
Despretensiosamente divulguei um pequeno formulário para conhecer um pouco sobre a atuação das doulas de uma forma mais ampla, durante o trabalho de parto. As perguntas e respostas foram compartilhadas através da rede social do joinha e você pode conhecer todas as perguntas aqui.
Acontece que para minha surpresa recebi não uma ou duas, quase 1.000 respostas!
Grande maioria das mulheres conhece sua Doula durante a gestação, por indicação de uma amiga ou através de grupos de apoio à gestação de sua cidade, e definem o acompanhamento já no segundo trimestre.
Talvez por isso, quando questionadas sobre o atendimento a opção de maior identificação tenha sido essa
80% das mulheres afirmaram que a Doula fez tudo para que ela se sentisse confortável e segura. 79% das mulheres afirmaram que a presença da doula tranquilizou a ela e ao marido durante o trabalho de parto
Muito além de conhecimento sobre leis, orientações e massagens, os vínculos de confiança formados entre casal e Doula se mostraram muito importantes. Reafirmando bom e velho “Doula não faz parto, faz parte”. Acolher tem sido o maior papel desenvolvido por elas (nós!).
Doulas não são clinicamente capacitadas para avaliações, porém muitas recebem durante a formação informações suficientes para apoiar a amamentação, orientar massagens de alívio e ordenha, como armazenar o leite materno e como oferecer ele ao bebê.
70% das mulheres receberam de suas Doulas estímulo à amamentação exclusiva e orientações sobre amamentação, variações de posições possíveis e como poderiam observar se a forma que o bebê mamava estava legal ou não
Impressões recebidas, ficou a dúvida, de forma geral elas contratariam novamente uma Doula no próximo parto?
Dessas mulheres que contratariam novamente, 94% acreditam que ter mãe, sogra, amiga, conhecida, no parto não substituiriam a doula e não trariam a mesma tranquilidade e segurança. O acompanhamento teria que ser feito por uma Doula profissional.
E para fechar a enquete, elas poderiam falar qualquer coisa anonimamente para sua equipe, ou sobre suas experiências:
“Tive dois partos normais completamente diferentes e atribuo a diferença à presença da doula. O primeiro teve várias intervenções desnecessárias e o segundo foi completamente natural, como desejado. A confiança no meu corpo trabalhada durante a gestação e trabalho de parto foram essenciais. Saí do parto querendo parir de novo de tão bom que foi! “
“Acredito que muitas mulheres quando estão gestando, se foi uma gravidez planejada ou não, por falta de informações, se encontram em situação de medo, levando-as a optarem por uma cesarea sem necessidade, no meu caso, ter acompanhamento de uma doula me fez acreditar em nossa capacidade de parir, e enxergar os diversos caminhos positivos para um parto normal, sem medo.”
“Fui livre, amparada, ouvida e amada durante todo o processo pré, intra e pós parto. Presença, confiança e calma fundamentais.”
“Apesar do meu parto ter se encaminhado para uma cesárea de emergência(nunca saberei se realmente necessária), graças as informações que obtivemos da minha doula, tivemos um pós-parto muito respeitoso e meu bebê ficou comigo o tempo.”
Leia também esses links, foi onde pesquisei para escrever esse post para você
A Primeira Operação Cesariana em Parturiente Viva http://books.scielo.org/id/8kf92/pdf/rezende-9788561673635-19.pdf
A operação Cesárea no Brasil. Incidência, tendências, causas, conseqüências e propostas de ação http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1991000200003
Migração de Partos Domiciliares para ambiente Hospitalar http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-311X2003000100024&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
Assistência ao parto: do domicílio ao hospital (1830-1960) / Child birth care: from home to the hospital http://pesquisa.bvs.br/brasil/resource/pt/his-8989
http://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/viewFile/10588/7878
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