Existe muita informação disponível sobre parto humanizado, parto normal, parto natural e cesárea. Muitas mulheres estão vencendo um círculo vicioso de violência obstétrica e medo e buscando doulas e profissionais capazes de respeitar o tempo do bebê e a autonomia da mulher, mas no geral ainda existem muitas dúvidas e medos em torno do parto e nascimento. Não é incomum encontrar mulheres que desejam parto normal, mas rejeitam o tal do parto humanizado. Acham que ele necessariamente significa parto domiciliar ou mesmo parto sem anestesia, mas isso não é verdade. Vamos tentar entender um pouco melhor o que realmente é a humanização do parto?
O que é a humanização da assistência ao parto?
O movimento de humanização do parto surgiu junto com o movimento da Medicina Baseada em Evidências Científicas e buscou amenizar as incongruências entre as várias maneiras que os profissionais de saúde prestavam assistência ao parto no mundo. Observou-se que muitos estudos e práticas eram parciais, variavam consideravelmente entre diversos contextos regionais e culturais, ou seja, tinham muito pouco de científico (como diria a médica obstetra Melania Amorim, uma pseudociência).
Então, foram reunidos diversos estudos já realizados sobre a assistência ao parto e se verificou que aquilo o que a obstetrícia tradicional vinha praticando em geral piorava os desfechos de parto e nascimento, que os bebês nasciam melhor e as mulheres e seus filhos ficavam mais saudáveis quanto menos tecnologias invasivas fossem performadas durante o parto. A Medicina Baseada em Evidências mostrou que na assistência ao parto, menos é mais.
Infelizmente, no Brasil ainda são verificadas altas taxas de intervenções invasivas no parto, em número muito maior do que o recomendado pelo próprio Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde. Devido à grande dificuldade de atualizar os profissionais e mudar as práticas assistenciais no país, surgiu o movimento de humanização do parto, que reivindica uma assistência que respeite o processo natural do parto, que só intervenha quando evidências científicas tiverem comprovado o benefício da intervenção. Ou seja, parto humanizado é o básico né?
Disso também se conclui que parto humanizado não necessariamente significa parto natural (aquele sem qualquer intervenção). Dentro da humanização do parto, um processo natural de parturição pode eventualmente vir a precisar de uma intervenção médica ou farmacológica, a diferença é que nesse caso serão respeitados os protocolos científicos atualizados de forma e necessidade, além da autonomia da mulher para fazer escolhas informadas sobre o seu corpo.
Assim, o primeiro pilar da humanização do parto é a medicina baseada em evidências científicas, seguido pelo respeito ao protagonismo da mulher (considerando que o parto é um evento biopsicossocial e espiritual) e por último pela assistência multidisciplinar -dissolvendo a centralização na figura do médico e incluindo na assistência ao parto a enfermagem obstétrica, a fisioterapia, entre outras formações da área da saúde, além dos acompanhantes de livre escolha da mulher e sua doula.
Sobre a doula, vale a pena mencionar: evidências científicas apontam que o suporte contínuo de uma doula, externa à equipe de saúde, aumenta a incidência de parto vaginal espontâneo, com diminuição do risco de cesárea desnecessária e parto instrumental (com uso fórceps ou vácuo extrator), reduz a duração de trabalho de parto e os pedidos de analgesia, além de aumentar os índices de Apgar (nota que os bebês recebem ao nascer, de acordo com a sua saúde) e a satisfação das mulheres com o parto.
Quem tem medo do parto humanizado?
A intenção do parto humanizado é fazer com que as mulheres sintam todas as dores sem qualquer forma de alívio? De forma alguma. A questão é que uma assistência humanizada entende a importância de um parto mais natural para a saúde física e emocional das mulheres e bebês, e não só entende como procura informar as mulheres sobre os prós e contras de qualquer intervenção.
Nessa visão, para diminuir a necessidade de intervenções que apresentem riscos, são valorizadas tecnologias suaves que tornem o trabalho de parto mais confortável para a mulher: acolhimento, privacidade, diminuição de estímulos sonoros e visuais (fazer silêncio, abaixar luzes), respeito do direito a acompanhante de livre escolha da mulher, respeito à liberdade de posição (estimulando posições verticalizadas, favoráveis ao nascimento), presença da doula, entre outras estratégias que facilitem o desenvolvimento saudável do processo.
Isso quer dizer que no parto humanizado não existe anestesia? Existe sim. É importante entender que analgesia de parto é um direito da mulher. Seu uso apresenta riscos, mas em certos casos é uma intervenção que vai tornar o parto normal possível e precisa estar disponível a todas. Dentro de uma assistência humanizada, mulheres que optam por não utilizar anestesia o fazem porque compreendem que esse é o caminho mais benéfico (olha aí a importância da educação perinatal). Em hipótese alguma as mulheres podem ter esse recurso negado de maneira arbitrária pela assistência. Mesmo porque o protagonismo da mulher é um pilar da humanização do parto, lembram? A analgesia é uma intervenção que precisa estar disponível e ser bem conversada.
Resumindo, parto humanizado não significa parto domiciliar, parto humanizado não significa banheira no parto, parto humanizado não significa parto natural. A humanização do parto implica sim em uma assistência centrada na mulher, que respeite a sua autonomia em decidir sobre as condutas que serão tomadas em seu corpo e no corpo do bebê, uma assistência multidisciplinar e atualizada no que diz respeito às evidências científicas.
Então, se convenceu que parto humanizado é para todas? 🙂 Parto humanizado é somente o que todo parto deveria ser: respeitoso. É um parto em que se respeita a mulher, a criança e a fisiologia natural do parto. Ele tem muito mais a ver com a qualidade da assistência do que com uma ambiência bonita ou mesmo um tratamento simpático dos profissionais. Parto humanizado pode acontecer na sua casa, em casa de parto, no SUS ou em hospital privado, etc. Pode acontecer com ou sem banheira, com ou sem hotelaria requintada, com ou sem anestesia. Parto humanizado é respeito às suas escolhas, é direito da mulher.
Referências
Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento – Carmen Simone Grilo Diniz. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232005000300019
Nascer no Brasil: Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento – Fiocruz. Sumário Executivo Temático da Pesquisa: http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/arquivos/anexos/nascerweb.pdf
Pseudociência, preconceito e a falácia do “parto animalizado” – Melania Amorim. http://estudamelania.blogspot.com/2016/01/pseudociencia-preconceito-e-falacia-do.html
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