Mulher grávida em trabalho de parto, contrações e eis que o bebê nasce! O que você imagina na sequência? Pediatra cortando cordão umbilical, levando o bebê para fazer os primeiros procedimentos nele, limpar e etc e só depois retornar para a sua mãe?
É essa imagem que visualizou?
Pode ser que sim tenha sido a sua resposta. Isso porque é comum imaginarmos cenas de partos com muitas intervenções já que estamos inseridos em uma realidade bastante cesarista e intervencionista aqui no Brasil. Mas sabia que pode ser diferente?
Conheça mais um pouco da realidade obstétrica brasileira e da violência obstétrica aqui neste post da própria Casa!
Sim, pode ser diferente! A maior parte das intervenções (tanto maternas quanto no bebê) não precisam ser realizadas de rotina. E hoje quero conversar com você espacialmente sobre uma delas: o corte precoce do cordão umbilical.
Vamos entender um pouquinho mais sobre isso!
Nesse post você vai encontrar
O cordão umbilical (juntamente com a placenta) é a comunicação que existe entre o bebê e o mundão aqui fora, você sabia?
Sabia que o bebê lá dentro do útero não respira pelo pulmão, mas sim através do cordão umbilical?
Vamos por partes!
Então, o cordão umbilical é o que conecta o corpo do bebê ao corpo da mãe e a ponte entre esses dois é a placenta. É na região umbilical do bebê (umbigo) que está o cordão umbilical. Esse cordão umbilical conectado ao bebê parte da face da placenta, do lado que chamamos de face fetal. A outra face da placenta, chamada face materna, é a parte da placenta que se liga ao endométrio do útero da mãe. A placenta ligada ao corpo da mãe recebe nutrientes e oxigênio através da circulação sanguínea e estes nutrientes e oxigênio são transportados para o bebê através da circulação sanguínea do cordão umbilical. Sinfonia perfeita!
Quer conhecer mais detalhes sobre a placenta? Leia esse post aqui, também da Casa.
O sangue da mãe não se mistura com o sangue do bebê e todo o sangue que circula pela placenta e cordão umbilical pertence ao bebê. De maneira geral, o cordão umbilical é formado por 2 artérias e 1 veia que fazem essa circulação de sangue acontecer.
Envolvendo as artérias e veia do cordão umbilical, existe uma substância bem peculiar e importante, chamada de geléia de wharton. Essa geléia é uma substância amorfa, presente no cordão umbilical para evitar o bloqueio da circulação de sangue no cordão. Ou seja, essa substância gelatinosa existe para manter a integridade do cordão, manter a circulação efetiva, mesmo em caso de compressões do cordão umbilical durante a gestação e o parto. Veja aqui.
Conhecemos o cordão umbilical acima e vimos então que a sua função é promover a conexão entre o corpo materno e o corpo fetal. Ou seja, nutrir esse bebêzinho que está em formação dentro do corpo da mãe e promover o aporte de nutrientes e trocas gasosas para que este bebê se forme adequadamente.
O cordão umbilical é o canal de comunicação e, após o nascimento esse cordão continua conectado ao bebê e a placenta conectada ao útero da mãe. Neste momento de transição do bebê do mundo intrauterino (aquático) para o mundo extrauterino (aéreo), a respiração pulmonar do bebê é estabelecida gradativamente. Enquanto a respiração pulmonar do bebê é estabelecida, o cordão umbilical ainda conectado a placenta continua a pulsar.
O que significa isso?
Para nutrir o bebê com nutrientes e oxigênio, as artérias e veia do cordão umbilical pulsam e promovem dessa maneira a movimentação do sangue pelo cordão. E enquanto o bebê faz a transição para o meio aéreo, o cordão umbilical continua pulsando, garantindo a manutenção de oxigênio para este bebê.
Mas cortar o cordão tem que acontecer em que momento?
Bem, temos 3 possibilidades.
#1) cortar o cordão imediatamente depois que o bebê nascer
#2) cortar o cordão tardiamente
#3) Não cortar o cordão umbilical (sério Sú? Simmm, vamos falar sobre isso mais abaixo)
Cortar o cordão umbilical significa desconectar o bebê da placenta. Como falamos acima, essa transição do bebê para o meio aéreo e o estabelecimento da respiração pulmonar não é instantânea. O bebê demora alguns minutos para fazer a transição e manter ele conectado a placenta durante essa transição, é oferecer tranquilidade para que ele consiga fazê-la com conforto. Além disso, é ter a certeza de que o aporte de oxigênio para o bebê está garantido pois, enquanto o cordão umbilical pulsar, significa que existe circulação sanguínea por esse cordão.
As práticas atuais baseadas no raciocínio fisiológico da transfusão placentária, defendem o clampeamento e corte tardio do cordão umbilical (Goés, 2017). Além da questão do estabelecimento respiratório do bebê, o clampeamento e corte tardio proporciona um aumento dos níveis de hematócrito e hemoglobina no período neonatal e reduz o risco de anemia por deficiência de ferro nos primeiros 4 a 6 meses de vida em crianças à termo (Goés, 2017; Vain, 2015; Venâncio et. al, 2008).
A World Health Organization (OMS – Organização mundial de saúde) recomenda o clampeamento tardio do cordão umbilical – realizado de 1 a 3 minutos após o nascimento – para todos os nascimentos, iniciando simultaneamente os cuidados essenciais ao recém nascido.
Apesar dos benefícios citados, ainda é comum observar o corte imediato do cordão umbilical por parte de alguns obstetras. Por este motivo, é primordial frisar aqui a importância de se buscar uma assistência médica que esteja atualizada e que paute o seu atendimento com base nas mais modernas evidências científicas.
Não cortar o cordão umbilical é possível, porém não é prática comum observada. Em partos hospitalares não costuma acontecer. Em partos domiciliares é comum observarmos o corte do cordão umbilical bem tardiamente, após este parar de pulsar. Ou ainda mais tardiamente, cortando apenas depois da saída da placenta.
Mas, ainda sim existe o não cortar o cordão umbilical e manter o bebê conectado ao cordão e placenta, até que todo esse sistema cordão + placenta seque completamente e caia. É o que chamamos de parto lótus e é bem raro de vermos acontecer.
Vale um post exclusivamente escrito para falarmos do parto lótus no futuro 🙂
Sobre o não cortar o cordão umbilical, ou cortar apenas após ele parar de pulsar, é importante colocarmos a seguinte informação. De acordo com a OMS, clampear e cortar tardiamente traz a preocupação relacionada a Icterícia (amarelecimento dos olhos e da pele), com necessidade de fototerapia: Estudos revelam apenas um risco de 4.36% de icterícia nos bebês que recebem clampeamento tardio do cordão umbilical, comparado a um risco de 2.74% nos bebês que recebem clampeamento precoce do cordão umbilical.
Sendo assim, os benefícios de se clampear e cortar tardiamente podem superar o corte precoce. Por mais partos que respeitem o tempo do bebê e que permitam sua chegada ao mundo de forma tranquila e respeitosa.
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Referências bibliográficas:
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