Parirás com dor.
Quem nunca ouviu esse clássico e sentiu medo da dor do parto, que atire a primeira pedra. É compreensível sentir medo. Estamos envolvidas em uma cultura que teme o parto normal, que se distancia da naturalidade do processo fisiológico do parto.
A dor do parto é a maior preocupação da gestante, perdendo apenas para o quesito segurança (Diniz & Duarte, 2004). Nos preocupamos com a segurança dos nossos bebês e em um segundo momento com a própria dor que iremos sentir no momento do parto normal.
Nesse post você vai encontrar
Existe uma questão física. Um bebê (em média de 3 kilos) que está dentro do útero da mãe e que precisa ser expulso por uma passagem de 10 cm. Fisicamente existem duas questões aí, então.
#1
O colo do útero sem abertura nenhuma durante a gestação precisa, durante o trabalho de parto, abrir (dilatar) de 0 a 10 cm para dar passagem ao bebê. Isto acontece através das contrações uterinas que existem quando a mulher entra, efetivamente em trabalho de parto.
Através da ação do hormônio chamado ocitocina as fibras musculares do útero se contraem. As fibras musculares circulares contraem e empurram o bebê para baixo (fazendo com que ele pressione com a cabeça o colo do útero e favoreça o amolecimento deste colo) e as fibras musculares longitudinais se contraem e age na dilatação do colo uterino.
Essa questão física da dilatação que acontece no que chamamos de trabalho de parto é onde as mulheres relatam sentir mais dor.
#2
A segunda questão física é a passagem do bebê e expulsão dele através do canal vaginal e músculo do períneo. Depois do trabalho de parto (onde a dilatação acontece), a mulher entra na fase que chamamos de expulsivo, onde ela vai sentir contrações que agem na expulsão do bebê.
É uma vontade incontrolável de fazer força para colocar para fora o bebê. Os famosos puxos involuntários. Mas lembram que são 3 kilos de bebê para passar, certo? Ou seja, o canal vaginal será moldado para permitir esta passagem, assim como a musculatura do períneo, esticando-se no seu máximo até que este pequeno ser humano passe e chegue aqui fora neste mundão.
Imaginou a musculatura esticando no seu máximo?
Então, a sensação aqui vai ser de queimação, ardor, como se o seu períneo fosse rasgar, o que chamamos de círculo de fogo. Mas será que o parto são apenas sensações físicas?
A sensação física existe, mas você acreditaria em mim se eu te disser que o sofrimento é opcional?
Sim Barriguda, as sensações estão presentes, mas o sofrimento pode ser eliminado. Lembra, Parirás com dor ? Crescemos imersas em uma sociedade que nos amedronta. Que não acredita na nossa força. Que nos infantiliza. Que nos tira do protagonismo do parto. Que cede o poder ao médico obstetra e a instituição hospitalar.
Socialmente construiu-se uma ideia de que o parto é um evento a ser temido. Que as gestantes precisam de muita ajuda para fazer seus bebês nascerem. Dessa forma as intervenções médicas, que centralizam o poder na figura do médico obstetra, foram banalizadas e feitas de maneira rotineira durante o parto normal.
Mas e onde fica a fisiologia do parto? A naturalidade desse processo tão antigo, que foi capaz de povoar o Planeta?
O parto normal é um evento fisiológico e natural, que acontecerá sem intercorrências na esmagadora maioria das gestações! Cerca de 80 a 90% das gestações culminarão em partos normais totalmente fisiológicos e sem necessidades de intervenções (Nascer no Brasil).
Então, o que dói no parto? A fisiologia de um processo natural e ancestral que traz a tona a vida? Ou intervenções dolorosas feitas de rotina em um ambiente hostil e de violência obstétrica?
Medo.
A reflexão é necessária.
Medo é a chave.
“O medo dá lugar a uma tensão protetora, que não é somente mental, como também influi na tensão muscular quando a gestante entra em trabalho de parto, afetando o colo do útero e dificultando-lhe a dilatação” (Freddi, 1973)
Amedrontada e acuada, a fisiologia é alterada. A cascata hormonal dá espaço a adrenalina, bloqueando a ocitocina. Rigidez do processo. Menos efetividade nas contrações. Parto mais sofrido e, possivelmente mais longo.
“O relaxamento físico e psíquico é o meio para eliminar-se o medo e vencer a tensão” (Freddi, 1973)
As sensações corporais existem sim, mas é possível passar por elas com mais confiança no processo em um estado mais profundo de foco e relaxamento.
Tudo isso é possível. Permitir o relaxamento. Se abrir para o processo. Estar segura e amparada.
A hipnose é uma ferramenta excelente para proporcionar foco no processo e um relaxamento profundo. Fomentando o relaxamento muscular e facilitando o trabalho de parto.
A questão é que, como bem colocado por Neubern (2009) “Embora a hipnose tenha tido uma longa tradição clínica de práticas ligadas ao alívio e tratamento da dor, o surgimento dos anestésicos químicos na metade do século XIX contribuiu significativamente para a perda de espaço de suas aplicações neste campo por um longo tempo”. É preciso então nos reconectarmos com a nossa mente, resgatarmos o uso da hipnose como ferramenta de diminuição da dor. Inclusive a dor do parto.
Somos mamíferos com um cérebro racional (neocórtex) extremamente desenvolvido, entretanto todo o nosso histórico de vida, medos, angústias, tensões, traumas ficam registrados no nosso subconsciente, somatizando padrões de comportamento que podem surgir na gestação e durante o parto.
Carregamos crenças estabelecidas pela sociedade que nos impregnaram insegurança no processo de parir, medo do que é tão natural. Transformaram o cenário do parto em um ambiente frio e estéril, distante, recheado de intervenções dolorosas que nos trazem tensão muscular e sofrimento.
Mas é possível nos despirmos de tudo isso com a ajuda da hipnose e aproveitarmos o prazer da dor que o parto pode nos proporcionar. Você está disposta a mergulhar neste processo?
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Referências Bibliográficas:
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