Episiotomia é um corte no períneo feito com uma tesoura ou bisturi, comumente chamado de pique ou episio. Um corte que atinge pele e músculos perineais e pode chegar a atingir o esfíncter do ânus.
É um procedimento cirúrgico realizado durante o parto normal usado como justificativa para ampliar o canal vaginal, facilitar a passagem do bebê, preservar a sexualidade feminina e o prazer masculino. Uma intervenção médica realizada rotineiramente no Brasil para acelerar o trabalho de parto. Apesar de ser um procedimento cirúrgico, na maioria das vezes a mulher não recebe esclarecimentos sobre a episiotomia e não solicitam seu consentimento para fazê-la.
A prática rotineira da episiotomia começou a ser recomendada no início do século passado sem qualquer embasamento científico e tornou-se uma tradição que continua a ser ensinada nas faculdades brasileiras.
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A episiotomia pode provocar vários problemas, alguns deles muito graves, ainda que raros:
No lugar onde foi feita a episiotomia, pode ficar uma cicatriz visível ou mesmo um queloide (cicatriz grande e endurecida).
O risco de ter laceração perineal nos partos seguintes é maior para as mulheres que sofreram episiotomia, principalmente as lacerações mais graves (de terceiro ou quarto graus).
Os benefícios da episiotomia seletiva (indicada somente em situações especiais) são bem maiores que a prática da episiotomia de rotina. Mas apesar da recomendação de não se realizar episiotomia de rotina, com todas as evidências disponíveis corroborando sua realização seletiva, persistem dúvidas sobre quais seriam as reais indicações para se realizar episiotomia na prática obstétrica moderna.
Pautada em diversos estudos que concluíram que a episiotomia não apresenta quaisquer benefícios, associando-se a danos consideráveis como dor, maior necessidade de analgésicos e lacerações perineais graves, Melania Amorim lançou o lema
“nem um passo atrás, episiotomia nunca mais!”
e tem sugerido que a episiotomia seja abandonada. Há mais de 15 anos sem realizar o procedimento, verificou que com um protocolo de não realização de episiotomia aliado a estratégias de proteção perineal obteve uma taxa de períneo íntegro em torno de 60% e apenas 23% de necessidade de sutura em parturientes que não foram submetidas a episiotomia.
Apesar das evidências científicas contrárias, os profissionais continuam realizando o procedimento por hábito. A episiotomia ainda continua a ser ensinada aos médicos em formação como prática rotineira e sem base nas evidências científicas proporcionadas por revisões recentes. Muitas vezes a episiotomia é feita para que os estudantes possam treinar os procedimentos cirúrgicos.
Como disse Diniz e Chachan, no nosso país “quando não se corta por cima, se corta por baixo”. Seguimos com índices altíssimos de episiotomia e cesárea de rotinas, tendo profissionais desqualificados e desatualizados na assistência ao parto. Mas não sem luta!
As principais recomendações para proteger o períneo no parto são: não fazer episiotomia e respeitar o tempo da mulher. Além disso, quando a mulher pode se movimentar e escolher a posição em que quer parir, ela tem menor chance de laceração perineal espontânea (de primeiro ou segundo grau) e o bebê costuma nascer com mais vigor. Nos momentos finais do nascimento, o ideal é que a mulher só faça força quando sentir vontade.
Adotada como uma prática para prevenir que ocorra uma laceração irregular durante a passagem do bebê, a definição em si já é equivocada. A episiotomia é uma laceração perineal grave, considerada como uma mutilação genital feminina e uma violência obstétrica. Quando ocorre uma laceração natural, grande parte nem se assemelha à episiotomia.
Além de prática comprovadamente danosa à mulher, não há nenhum benefício comprovado cientificamente pelo seu uso. Assistência humanizada, com práticas embasadas em evidências científicas, é o mínimo que todo serviço de saúde deve oferecer.
*A imagem que abre o texto é de um projeto fotográfico maravilhoso da Carla Raiter, 1:4 – Retratos da Violência Obstétrica, e pode ser conferido aqui.
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