Já faz 2 anos e 8 meses que meu filho nasceu e finalmente resolvi escrever meu relato de parto. Não faço ideia do porque ter demorado tanto, mas sinto que agora é o momento perfeito para contar pra vocês como foi e aproveitar para falar sobre a importância de uma assistência humanizada no pré natal e no parto.
Então pega a pipoca e vem conhecer essa história!
Nesse post você vai encontrar
Um fato especial sobre a minha vida: sou a caçula da família, tenho uma irmã e um irmão mais velhos. Nós crescemos escutando histórias sobre como foi a adoção dos meus irmãos – meus pais gostavam de dizer que eles foram gestados no coração – e sobre como foi uma surpresa quando minha mãe engravidou de mim quase 10 anos depois de casar.
Quando eu comecei a pensar em engravidar, tinha a sensação que ia demorar pra conseguir, pensava que se minha mãe teve tanta dificuldade, eu teria também. Além do histórico familiar, eu tratava um hipertireoidismo e sabia que isso poderia dificultar ou até mesmo impedir uma gravidez.
No fim das contas não foi nada difícil. Quem já leu o meu primeiro texto aqui no blog, sabe que eu engravidei logo após retornar para São Paulo e recém formada no curso de doula. Nessa época eu já estava há mais de um ano sem tomar pílula, mas não estava tentando engravidar de fato, tinha deixado a vida me levar, fazendo controle por percepção de fertilidade mas não rolava aquela coisa de ter relações no período fértil, eu nem me ligava nisso na verdade. Quando de fato decidi tentar pra valer – porém sem muitas expectativas -, fiquei grávida de primeira.
Com a confirmação da gravidez eu passei a pensar em quem seriam os profissionais que iriam me acompanhar nesse período tão especial. A doula já estava escolhida desde sempre, seria a Gisele Leal se ela topasse vir de Campinas pra me acompanhar, e pra minha felicidade, ELA TOPOU! Mas como ela viria de outra cidade, me pediu para escolher uma doula backup pro caso de não dar tempo dela chegar.
Tive a sorte de encontrar uma obstetra humanizada que atendia meu convênio e iniciei meu pré natal com ela. Eu tinha optado pelo parto domiciliar e precisava de uma equipe, depois de muito pesquisar e conversar com várias parteiras escolhi a equipe da Mari Chagas, a gente teve uma super conexão de cara e essa foi uma escolha bem fácil.
Parto domiciliar planejado era a hora de pensar num plano B, um(a) obstetra que ficasse de sobreaviso caso eu pedisse/precisasse de uma transferência para o hospital. A minha médica do convênio não ficaria, então eu conversei com a Mari e ela me indicou uma médica da confiança dela e depois de conhecê-la eu finalmente defini a equipe. A fotógrafa e a pediatra neonatologista eram também um desejo, mas não ia caber no orçamento. Eu teria uma médica, uma enfermeira obstetra e uma doula me acompanhando.
Existia uma expectativa de que o hipertireoidismo pudesse regredir ou desaparecer durante a gravidez, mas como isso não aconteceu, o pré-natal foi feito com acompanhamento do meu endocrinologista bem de perto, sempre avaliando meus níveis de hormônios tireoidianos e ajustando a dosagem da medicação quando necessário.
Com exceção de uma azia muito forte logo antes do positivo, eu não tinha sintoma algum, não tive um enjôo sequer ao longo de toda a gestação. No geral, tive uma gravidez bem tranquila, sem maiores sustos, mas outras duas questões necessitaram de uma maior atenção ao longo do pré-natal, além do hipertireoidismo:
1) Com 23 semanas de gestação, um ultrassom transvaginal identificou que meu colo do útero estava com 26mm de comprimento, era um fato a ser acompanhado mais de perto, já que valores abaixo de 25mm nessa idade gestacional, significam risco aumentado de parto prematuro antes das 35 semanas.
2) Com 28 semanas, o diagnóstico de Diabetes Gestacional. Não foi exatamente uma surpresa, eu estava no grupo de risco por hereditariedade (meu pai tinha Diabetes Tipo 2), sobrepeso e idade superior a 25 anos.
Hipertireoidismo, comprimento de colo e diabetes gestacional ligaram um alerta para um possível risco de prematuridade, nada de tirar o sono, apenas olhar mais cuidadoso no pré natal. A tireoide estava funcionando normalmente com a medicação, seguíamos acompanhando o comprimento do colo e a glicemia se mantinha normal apenas com controle da alimentação, e assim tudo correu bem até o final da gestação com 39 semanas.
A diabete gestacional mudou um pouco os meus planos. A equipe que eu escolhi não acompanhava parto domiciliar com gestante diabética, então eu precisava optar entre trocar de equipe ou partir para um parto hospitalar. Conversando com meu companheiro escolhemos a segunda opção, a gente queria muito o acompanhamento da Mari e sinceramente, não tínhamos um vínculo afetivo muito grande com a casa que a gente morava.
É importante destacar que essa tranquilidade toda só foi possível, mesmo com esses pequenos riscos, porque tive uma assistência humanizada desde o início. Exames e condutas eram sempre avaliados e discutidos em conjunto, de modo que, sempre baseada nas evidências, eu pude ter controle sobre o processo, fazendo parte das decisões junto com a equipe que me acompanhava.
Com a diabetes gestacional controlada apenas com a alimentação, a conduta era aguardar até as 40 semanas pelo início do trabalho de parto espontâneo e partir para a indução do parto caso isso não acontecesse. Eu sabia que podia confiar na minha equipe caso fosse necessário induzir, mas eu queria entrar em trabalho de parto naturalmente. JUnto com a equipe, resolvi começar sessões de acupuntura a partir de 39 semanas e faria sessões em dias alternados até as 40 semanas.
No dia em que completei 39 semanas, tinha acupuntura marcada pela manhã. Eu não sentia nada a não ser as muitas contrações de treinamento que já me acompanhavam nos últimos dias, eram um poucos desconfortáveis, mas nada dolorosas. Fui no banheiro e tive um primeiro sinal, ao me limpar saiu uma boa quantidade de tampão mucoso com sangue vermelho vivo, fiquei feliz e ansiosa, mas na hora não fiz a conexão de que o parto poderia estar tão perto.
Após a sessão de acupuntura eu fui encontrar com a Milena, a doula backup, pra gente poder conversar com calma e alinhar tudo. Fui e voltei dirigindo tranquilamente e sem sentir mais nada que me dissesse que o parto estava próximo. Naquele mesmo dia eu teria consulta com a obstetra particular e quando cheguei em casa só tive tempo de tomar um banho e descansar um pouco.
Tudo tranquilo na consulta, eu estava bem e o Vicente também, definimos os últimos detalhes e ficou decidido que caso eu não entrasse em trabalho de parto antes, internaríamos com 40 semanas + 1 dia para a indução. Ia cair num sábado e facilitava para todos nós. Foi tudo tão tranquilo que eu esqueci de comentar sobre o tampão e não tive curiosidade de saber se já estava com alguma dilatação (o que era quase uma certeza, dada a quantidade de sangue que saiu junto).
Fomos embora do consultório e decidimos parar pra comer perto de casa, logo que a comida chegou senti uma dor forte, não era contração, eu literalmente senti minha pelve se abrindo e o Vicente encaixando. Pedi pro meu companheiro olhar se eu estava molhada, pensei que tinha rompido a bolsa. Mas não, tudo normal.
Eram 22h30 quando fui ao banheiro conferir e ao me limpar já não era mais aquele tampão denso e vermelho vivo que saia, e sim um líquido rosa bem claro. Liguei para a enfermeira obstetra (EO) e relatei o que tinha acontecido, ela me pediu para voltar ao banheiro me agachar e soprar o dedo, e foi o que fiz. Ao agachar eu senti a primeira contração dolorida e ao soprar se formou uma pequena pocinha daquele líquido rosa claro.
Como eu estava bem e as contrações eram espaçadas e totalmente suportáveis, ainda tranquilizei a equipe e disse que ia comer, mas tudo evoluiu muito rápido a partir desse momento.
As contrações começaram a ficar incômodas e eu desisti de comer e pedi pra ir pra casa. Chegando lá, fui pro chuveiro pra ver se elas amenizavam um pouco, mas pelo contrário, ficaram muito mais intensas e eu já não sabia mais em que posição ficar dentro daquele box, então decidi ir pro quarto deitar, o que foi a pior decisão que eu podia ter tomado, era muito ruim estar deitada quando a contração vinha e eu não conseguia me levantar durante a dor.
Naquele momento eu já estava vocalizando muito, pedindo pro meu companheiro ligar para a Mari e pensando comigo mesma que se aquilo fosse o começo do trabalho de parto eu certamente não aguentaria chegar até o final. Ouvi de longe a conversa deles ao telefone e só depois fui saber que ao escutar como eu estava vocalizando a Mari sugeriu que fossemos todos nos encontrar no hospital e ela acionaria o resto da equipe.
A partir desse momento eu lembro uns flashs de coisas que aconteceram, lembro que senti medo porque às vezes a contração vinha com uma leve vontade de fazer força e eu me dei conta de que na verdade não estava começando e sim acabando, o Vicente ia nascer em pouco tempo. Lembro ainda de enfiar algumas coisas dentro da minha mala e ir pro carro, de onde liguei pra Gisele Leal, minha doula, avisando que ia acionar a backup porque ela não ia chegar de Campinas a tempo, e lembro de ter colocado o endereço do hospital errado no GPS, a sorte é que esse endereço era muito perto do certo.
A única lembrança ruim que eu tenho desse dia foram os 10 minutos em que estive aos cuidados do obstetra do plantão do hospital, que foi bem grosseiro comigo durante a triagem, indignado que eu não tinha ido pro hospital antes, sem se interessar em saber que tudo aquilo tinha começado há apenas 3 horas. Mas aquele homem infeliz realmente não me importava, eu vi minha equipe toda chegando e sabia que não era seria ele a acompanhar meu parto.
10cm de dilatação, corre pra sala de parto, chega a EO, chega a doula, chega a médica e finalmente sai o médico desagradável, cruzando com meu companheiro que acabava de entrar também. E assim, todos juntos e presentes, só tive tempo de sentar na banqueta e em poucos puxos o Vicente nasceu. Direto pro meu colo, 3 horas e 40 minutos depois da primeira contração dolorosa que eu tive a gestação inteira, no dia 3 de Junho de 2017 às 2h09 de um sábado frio em São Paulo.
O cordão umbilical foi cortado após parar de pulsar e logo depois nasceu a placenta, quando já estávamos juntinhos na cama nos conhecendo melhor.
A sensação de parir é deliciosa e indescritível , aquela bomba de ocitocina correndo nas veias enquanto eu olhava para aquele novo ser, me fez sentir como a mulher mais forte do mundo, capaz de qualquer coisa.
Sou muito grata por ter conhecido a humanização do parto antes de engravidar e privilegiada por poder ter a equipe que eu tive me acompanhando. Fazer parte do processo inteiro e ter minhas escolhas respeitadas a todo momento fizeram toda a diferença na minha percepção e satisfação com o parto.
A escolha da equipe e do local é muito importante no planejamento do parto. Antes de escolher o(a) obstetra, a doula ou qualquer outro profisisonal da equipe, é preciso saber se ele ou ela atende às suas expectativas para o parto e se a sua conduta é compatível com o que você deseja na sua assistência. Por isso é importante sanar todas as suas dúvidas durante o processo de escolha e ao longo do acompanhamento pré natal, inclusive questionando sua assistência quando precisar de mais esclarecimentos sobre algum assunto ou preocupação.
Por essas e outras que o trabalho da doula na preparação para o parto é muitas vezes mais importante do que o acompanhamento de parto em si e é uma das minhas atividades preferidas. Por compartilhar todo o seu conhecimento com a mulher/casal, a doula é instrumento de empoderamento e protagonismo na tomada de decisões.
Então bora se informar e se empoderar do próprio parto com autonomia e segurança?
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