Um dos maiores medos da mulher quando se fala em parto normal é a laceração. Quem nunca ouviu que “o parto normal vai te rasgar todinha”, não é mesmo? Mas e se lacerar? Uma laceração é tão ruim assim?
Eu acredito que esse medo da laceração tem relação com a cultura de que o parto normal “estraga” a vagina – um mito que tem origem no machismo e que contribui diretamente para o aumento no número de cesarianas desnecessárias.
Inclusive, um dos argumentos utilizados para a realização da episiotomia é que precisa cortar para não lacerar. Mas veja, se precisássemos de um espaço maior para a passagem do bebê, será que a natureza já não teria feito assim? Como um corte artificial pode ser mais benéfico que uma laceração natural e fisiológica?
Nesse post você vai encontrar
Episiotomia é o nome técnico para o corte cirúrgico feito no períneo (área entre a vagina e o ânus) durante a fase de expulsão do bebê teoricamente para abrir mais espaço para a passagem do mesmo. Ela se tornou prática rotineira após o parto passar a ser um procedimento médico hospitalar e a mulher passar a dar à luz em posição supina (deitada). Essa posição favorece muito a visão do profissional de assistência ao parto, porém, achata a pelve diminuindo o espaço para a passagem da cabeça do bebê, além de ser desconfortável para a mulher na grande maioria das vezes. Sem a ajuda da gravidade, o profissional passou a fazer um corte no períneo para abreviar a saída do bebê.
Atualmente temos inúmeras evidências científicas de que a episiotomia aumenta as chances de uma laceração, ao contrário do que se acreditava anteriormente.
Mas então por que se acredita que a episiotomia previne uma laceração grave?
Em um modelo obstétrico intervencionista, como é no Brasil, as chances de lacerações graves são maiores devido a alguns fatores:
Como as intervenções no parto acabam aumentando as chances de uma laceração mais grave, se tornou consenso que a episiotomia prevenia a intercorrência uma vez que direciona o corte para o sentido da coxa. Principalmente no meio médico, também se acredita que um corte reto é mais fácil a sutura do que uma laceração – ambas as crenças sem evidências científicas que as corroborem.
Em um modelo de assistência humanizada, onde as intervenções não são feitas de rotina, a mulher escolhe a posição que se sente mais confortável para parir, é incentivada a adotar posições verticalizadas para contar com a ajuda da gravidade e não tem os puxos direcionados, as chances de lacerações graves caem drasticamente.
Laceração é uma lesão no períneo causada pela passagem do bebê no canal de parto durante o nascimento. Existem quatro tipos de lacerações:
1° grau: atinge apenas pele e/ou mucosas, normalmente não precisa de sutura
2° grau: atinge pele e/ou mucosas e músculos, às vezes precisa de sutura
3° grau: além de pele e/ou mucosas e músculos, atinge o esfíncter anal
4° grau: atinge pele e/ou mucosas, músculos, esfíncter anal e mucosa do intestino.
As lacerações de 3° e 4° graus são graves e precisam de cirurgia reparadora para evitar sequelas. Apesar disso, elas são extremamente raras em modelos de assistência ao parto não intervencionistas.
Um estudo realizado no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA) em Campina Grande mostrou que mais de 60% das mulheres que não foram submetidas a episiotomia tiveram o períneo integro após o parto (nenhuma laceração) e cerca de 82% de todas as mulheres não tiveram necessidade de sutura.
Não há como garantir que o períneo não sofrerá alguma lesão durante o parto, mas algumas ações podem ser realizadas para diminuir as chances de que a laceração ocorra. Dentre elas:
Lembrando que massagem perineal, prática de fisioterapia pélvica e utilização de Epi-no devem ser acompanhadas por fisioterapeuta especialista em fisioterapia pélvica.
Uma laceração pode causar incômodo por alguns dias e algumas medidas podem ser tomadas para alívio da dor e auxílio da cicatrização:
Lembre-se que um evento fisiológico em geral será bem melhor que um trauma provocado artificialmente, a cicatrização é mais rápida pois os tecidos são rompidos no sentido das fibras e não através delas. Além disso, existe uma boa chance de você sair do parto com o períneo íntegro se todo o processo for conduzido de acordo com as melhores práticas.
Se quiser saber mais sobre meu trabalho e/ou ser adicionada aos grupos de apoio, clique aqui.
Prevenção do traumatismo perineal: uma revisão integrativa da literatura
Assistência humanizada ao parto no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA): resultados maternos
WHO recomendations: intrapartum care for a positive childbith experience (em inglês)
Recomendações da OMS no atendimento ao parto normal (traduzido)
Buscar um parto normal humanizado pode ser bem solitário. Parece que um evento natural é…
O parto normal é o processo mais natural e saudável para o nascimento de um…
O parto normal é um tema que desperta muitas dúvidas e questionamentos nas gestantes e…
Dia 28/01 sábado por volta as 18:30, comecei a ir ao banheiro fazer xixi e…
Minha dpp era 26/12, e eu já estava com consulta marcada pro dia 27 pronta…
Minhas contrações se intensificaram no dia 05/12 (sim no dia do jogo do Brasil contra…
View Comments
Boa noite, eu tive parto noramal e tive uma laceraco de 2 grau. Que no periodo de recuperação abriu se ja passa 1 ano k nao consigui a preparação