Você já deve ter ouvido que o risco de ter parto normal após cesárea é muito grande e que “uma vez cesárea, sempre cesárea”. Mas será que isso é verdade? Existe mesmo grandes riscos de ter um parto normal após a cesárea? E cesáreas de repetição? Venha comigo desvendas os mistérios de um dos maiores mitos do mundo da obstetrícia.
Nesse post você vai encontrar
Antigamente as cesarianas eram realizadas através de cortes verticais que atingiam a parte superior do útero. Como as contrações começam justamente nessa porção, as chances de ruptura do útero eram muito maiores quando comparadas com as cirurgias atuais. Ruptura uterina (ou rotura uterina) é quando o útero se rompe, se rasga, o que é uma complicação grave que põe em risco a vida da mãe e do bebê e é a principal justificativa dos profissionais que perpetuam o mito de “uma vez cesárea, sempre cesárea”. Pra você ter uma ideia, quando o corte era vertical, o risco de ruptura uterina chegava a 5% do total de partos normais após uma cesariana. Atualmente, com o corte sendo realizado na horizontal, atingindo somente a porção inferior do útero, esse risco caiu para 0,2 a 0,6%, índice muito parecido com o risco de ruptura sem história prévia de cesariana.
Viver é um risco! Tanto é que o termo “gestante de baixo risco” foi substituído por “gestante de risco habitual” nas mulheres em que a gestação está saudável. O risco existe sim! Mas ele é tão baixo, cerca de 0,2 a 0,6% do total de PNAC em caso de uma cesariana prévia, que os benefícios do parto normal nesses casos superam os riscos. O parto normal, mesmo após uma cesariana, tem taxas de morbimortalidade materna e fetal (complicações) muito inferiores quando comparadas à cesariana e isso deve ser considerado na hora de decidir. A cada cesariana a mais, aumenta o risco de ruptura.
Novamente: viver é um risco! E cesarianas de repetição, principalmente quando são mais de duas, envolvem grandes e significativos riscos à saúde da mulher e do bebê. Os principais estão relacionados a placenta prévia (quando a placenta se implanta na parte baixa do útero, impedindo a saída do bebê por via vaginal), placenta acreta (quando a placenta se fixa profundamente na parede uterina com uma aderência, dificultando ou impedindo sua saída e com isso podendo causar hemorragias graves e necessidade de histerectomia), necessidade de histerectomia (cirurgia de retirada do útero), lesões intestinais e vesicais, hemorragia (sangramento intenso e anormal).
Em termos de porcentagens, o risco de placenta prévia sobe de 0,5 para 5% em mulheres com cesariana anterior. O risco de placenta acreta sobe de 3,3% para 11% quando a mulher já sofreu uma cesariana; 40% se sofreu duas e 61% se sofreu três cirurgias.
A recomendação do American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) é de que o PNAC deve ser uma opção aceitável para parturientes com incisões segmentares transversas (técnica atual) caso um médico capacitado para realizar cesárea de emergência esteja à disposição. O Ministério da Saúde e a OMS nas suas recomendações pelo parto adequado também sugere que o parto normal seja a opção de escolha em mulheres que tem cesariana prévia. Diversos estudos tem mostrado a superioridade das taxas de complicações quando comparadas às cesarianas de repetição. Mas mesmo assim muitos profissionais continuam conservadores quanto ao risco de rupturas uterinas.
O ideal é que a primeira cesariana seja evitada, já que ela aumenta os riscos de morbimortalidade materna e fetal em ambos os casos, tanto na cesariana de repetição quanto no parto normal após cesariana. Precisamos lembrar sempre que a cesárea é uma cirurgia fantástica que salva vidas todos os dias ao redor do mundo. Mas deveria ser feita apenas em casos de real necessidade, com indicação clínica correta. Nunca por comodidade médica ou materna.
Mas quando ela já foi feita, independente se foi por necessidade real ou fictícia, é importante procurar uma equipe que esteja embasada cientificamente e que respeite as suas escolhas. Pois a ruptura não acontece de uma hora pra outra. Ela dá sinais claros de quando está prestes a se concretizar. Uma equipe experiente é capaz de identificar esses sinais e encaminhar a parturiente para uma cesariana de emergência sem que a ruptura cause os danos nefastos que ela pode causar se não for rapidamente diagnosticada.
Se informe! Se empodere! Escolha uma equipe experiente e humana e seja feliz com a sua escolha. Uma coisa eu posso te garantir: um PNAC é de lavar a alma! Eu já vivenciei o meu e a cada parto que eu assisto como doula nessas condições eu reafirmo a cura emocional que ela representa na vida de muitas mulheres que tinham o sonho de parir e não puderam.
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O vbac não é uma realidade brasileira. Todos essas mulheres que realizaram uma vbac pagaram pra ter isso.
O sus não faz vbac somente se for uma cesarea e mesmo assim é muito difícil.
Ou seja vbac é utopia.
Oi Juliana, tudo bem? Fico muito, muito mesmo, feliz em dizer que está enganada.
VBAC é uma realidade inclusive dentro do SUS. O que pode ser fator determinante para que ele aconteça ou não é o nível de informação que essa mulher tem para poder argumentar, exigir seus direitos e ser respeitada segundo as recomendações da OMS e Ministério da Saúde.
Tenho uma filha de 3 anos e 6 meses. Estou grávida de 24 semanas e quero muito parir normal. A cesarea foi terrível pra mim, nao posso tomar remedio e a dor era insuportável. Onde posso conseguir uma doula que me acompanhe?
Oi Anne, tudo bem? Temos um espaço no blog especialmente dedicado a você encontrar uma doula pra chamar de sua... Onde você mora? Espero de coração que você consiga parir da forma que escolher, sendo respeitada e acolhida. Bjs, Larissa.
Olá, tive duas cesáreas, a primeira por ter tido eclâmpsia antes e depois do parto e a segunda, pq minha bolsa não romper qdo a enfermeira que me acompanhava rompeu, meu filho "subiu" e ficou entre as minhas costelas e ela tentou algumas manobras, mas sem sucesso, por fim fui para a mesa de cirurgia. Hoje estou com 43 anos e planejando uma gravidez, com minha idade e duas cesáreas, posso ter parto normal?
Obrigado
Bjs 😘
Oi Andrea, tudo bem?! Possível é! Porém é muito importante ter uma equipe humanizada que tenha experiência com VBAC e que saiba agir rapidamente no caso de alguma complicação. Bjs e boa sorte!!!