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A Fisiologia Hormonal do Parto

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Bruna Simões Carvalho Teixeira

Nós, seres humanos, somos pertencentes ao Reino Animalia, Classe Mammalia e somos da espécie Homo sapiens. Por que estou fazendo estas considerações? Porque somos animais, somos mamíferos placentários (que possuem placenta) e é de fundamental importância que vejamos o nascimento dos seres humanos como um evento da natureza. Nossa espécie avança por milhares de anos, ou seja, desde sempre “nascemos”.

O corpo da mulher é anatomicamente “preparado” para conceber, gestar e parir. Ela carrega, além dos órgãos reprodutivos, um sistema que funciona em conjunto no momento do parto. Cérebro, útero, placenta e bebê se unem desencadeando a ação de diversos hormônios e sinais químicos. Diante da presença desses hormônios o corpo feminino responde, o comportamento feminino responde, a emoção feminina responde, e acontece o nascimento.

Com a instrumentalização do parto, a transição deste para o hospital, e a mão do médico guiando todo o processo feminino, o parto tornou-se nas últimas décadas um ato médico. Mas, é necessário estarmos cientes de que o parto é um evento fisiológico! É isso que vamos entender melhor adiante.

 

Um parêntese para o Cérebro Humano…

O cérebro humano é dividido em Neocórtex ou cérebro racional, que está envolvido com o pensamento lógico e atividades intelectuais, e o Sistema límbico ou cérebro emocional que é o “cérebro primitivo”, ou seja, parte do cérebro que comanda nossas emoções, nossas reações frente a uma sensação. O Hipotálamo é uma glândula que fica localizada no interior do sistema límbico e é lá são secretados alguns hormônios presentes no trabalho de parto e parto.

Cérebro Humano (Fonte: emaze, São Fernandes)

 

O Coquetel Hormonal

Não se sabe ao certo o que desencadeia o início do trabalho de parto. Mas está claro que é uma relação da maturação do bebê interagindo com o corpo da mãe, e a partir daí uma cascata hormonal faz com que todo o processo aconteça.

  Michel Odent, em seu trabalho The Scientification of Love (A Cientificação do Amor), nos ajuda a entender a fisiologia hormonal do parto, e chama os hormônios produzidos pela mãe durante o trabalho de parto de coquetel complexo de hormônios do amor”.

Os hormônios são substâncias químicas produzidas por glândulas, que ao serem liberadas na corrente sanguínea  agem com especificidade nos tecidos e órgãos do nosso organismo. Eles são responsáveis por mecanismos de sinalização, regulação e “comunicação” , através de um processo bioquímico altamente refinado.

Quais são os principais Hormônios do Amor? Ocitocina, Endorfina, Adrenalina e Prolactina.

Eles são extremamente sensíveis aos fatores ambientais, por isso já foram chamados de “hormônios tímidos”.

 

Quem são estes Hormônios?

A Ocitocina que é chamada por Niles Newton de Hormônio do Amor e é a responsável pelas contrações uterinas, e também proporciona o alívio da dor. Ela é produzida pelo hipotálamo e armazenada na hipófise. A hipófise libera ocitocina na corrente sanguínea através de pulsos, que chegam ao útero. Cada pulso gera uma contração na musculatura uterina. As contrações vão ficando mais fortes e próximas, ou seja, os níveis de ocitocina vão aumentando. Assim, o colo vai se abrindo mediante ação de outros sinais químicos e a cabeça do bebê vai descendo, até chegar ao momento do parto ou período expulsivo (descida do bebê pelo canal de parto). O pico de ocitocina acontece no nascimento da placenta. Este hormônio também está ligado ao processo de vinculação e apego da mãe ao bebê logo após o nascimento.

As Endorfinas ou Hormônio do Prazer são compartilhadas pela mãe e pelo bebê.  Assim como a ocitocina elas também são produzidas pelo hipotálamo e agem da seguinte forma: quando há um pulso de ocitocina, ocorre também uma descarga de endorfina na corrente sanguínea, elas trabalham juntas, e a endorfina dá a mulher uma sensação de alívio natural da dor. Quando a mulher consegue ficar num ambiente propício, em silêncio, e atinge altos níveis de endorfina ela entra na “Partolândia”, que é uma sensação de transe, de intensa conexão com si mesma.

 A Adrenalina é conhecida como Hormônio de Luta e Fuga e sua presença no trabalho de parto (fase latente e fase ativa) não é bem vinda, pois faz com que os níveis de ocitocina baixem, atrapalhando a evolução do mesmo. Interferências externas no processo natural que a mulher está vivendo, podem ocasionar um pico de adrenalina e diminuir as contrações uterinas, ou até mesmo cessa-las.  Mas, no parto (expulsivo), a adrenalina atua como um “gatilho”, sua presença dará a sensação de medo (“medo fisiológico”), momento em que geralmente as mulheres pedirão ajuda, e nesse momento  sua presença é benéfica, pois aumentará os níveis de ocitocina gerando o reflexo para o parto.

A Prolactina é o Hormônio da Maternagem Carinhosa, a mulher recebe uma descarga de prolactina antes do parto, que será responsável pelo instinto materno de “proteção” e pela produção de leite. Os níveis de prolactina continuam altos enquanto a mulher estiver amamentando.

 

As Mulheres e seus Hormônios do Amor

Como vimos acima o parto é um evento involuntário, sob o controle de estruturas primitivas do cérebro feminino, comum a todos os mamíferos. E quando uma mulher está em trabalho de parto, em primeiro lugar, o que ela precisa , é de menos estímulo neocortical (conversas, barulhos, luz forte, e intervenções de rotina), para que possa agir de acordo com seu sistema límbico diante da presença do Coquetel de Hormônios do Amor.

O estímulo do neocórtex leva à secreção de adrenalina, que inibe a produção de ocitocina e endorfinas. Gerando a partir daí, contrações menos eficientes, percepção da dor mais elevada e trabalho de parto mais lento.

Por isso, Janet Balaskas em seu livro Parto Ativo, descreve como é importante a mulher ter liberdade para movimentar-se, ser espontânea e desinibida. Assim ela irá se conectar com a natureza do seu corpo. Sem nenhuma restrição ou direcionamento externo, ela é guiada por si mesma, na busca das posições mais confortáveis que, inevitavelmente ajudarão no progresso do seu trabalho de parto e na descida do seu bebê.

Os Hormônios do Amor

É fundamental entender que se for necessário algum tipo de intervenção, ou até mesmo a cesariana, é importante que os Hormônios do Amor continuem sendo estimulados, principalmente através do contato pele a pele, por maior tempo possível.

A mensagem principal de Odent em seu livro é acima de tudo uma mensagem de esperança. E esta esperança pode mudar a humanidade. Ele acredita que é nos braços da nossa mãe, imediatamente após nascermos, envoltos pelos Hormônios do Amor, que aprendemos o que é amar e ser amado!

A Esperança, por Hellen Joplin

Neste momento utilizamos nosso neocórtex pra entender melhor sobre a Fisiologia Hormonal do Parto e a partir dessas informações podemos permitir que a nossa espécie continue vivenciando a presença desse coquetel hormonal capaz de mudar o mundo. Que possamos viver e disseminar este amor!

 

Leitura Recomendada

O que são hormônios? https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/biologia/o-que-e-hormonio.htm

The Scientification of Love (A Cientificação do Amor), Michel Odent, Free Association Books Ltd., Editora saint Germain, 1999.

Parto Ativo – Guia Prático para o Parto Natural, Janet Balaskas, Editora  Ground, 2017.

Fisiologia Hormonal do Parto: www.comparto.com.br/portal/os-hormonios-do-parto/

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Doula Bruna Simões (Santarém - PA)

Bióloga, "Leoa" mãe de três e Doula. A maternidade me trouxe outras formas de sentir e viver a vida. Me sinto feliz entre mães, entre mulheres. Acredito na natureza feminina, na nossa força e união. Sou Doula por amor, por amor a todas nós!

Cidade de atuação: Santarém/PA

Instagram: @brunadoula

Contato: simoes.bruna13@gmail.com

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