No Brasil, o termo violência obstétrica ainda não possui um conceito definido embora evidências apontem que práticas violentas e violações de direitos ocorram na assistência à mulher gestante, parturiente ou puérpera.
A falta de definição do termo acaba muitas vezes dificultando a identificação de práticas violentas que acabam passando por protocolos “normais” de atendimento. Segundo a pesquisa “Mulheres Brasileiras nos Espaços Público e Privado”, feita pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC em 2011, no Brasil, “Uma em cada quatro mulheres que deram a luz em hospitais públicos ou privados relatam algum tipo de agressão durante o parto”.
Para que fique mais claro, a violência obstétrica está diretamente relacionada com a violência institucional e a violência de gênero. Vamos aqui, tentar pontuar algumas delas para facilitar a identificação e tentar prevenir a vivencia de tais situações traumáticas durante o momento mais marcante da vida das mulheres.
Nesse post você vai encontrar
A violência obstétrica é um conjunto muito amplo desde pressão e agressão psicológica até práticas dolorosas e desnecessárias (na maioria das vezes), realizadas no corpo da mulher ou do bebê sem o consentimento dos mesmos e que poderiam ser feitas de outra maneira. Sem ferir, violar e desrespeitar os direitos das usuárias.
As práticas de violência institucional são aquelas que acontecem quando não existe uma relação de igual para igual entre os profissionais de saúde e as usuárias. Dentre as práticas estão:
– Negligência (omissão de atendimento). Sim, isso é uma forma de violência e é mais comum do que imaginamos. Principalmente em casos onde os profissionais reclamam que a mulher é muito “queixosa” e a deixam abandonada.
– Desrespeito (incluindo todas as formas). Um bem conhecido é a famosa frase: “Na hora de fazer gostou, então agora aguenta”. ME DIZ QUE SER HUMANO TEM O DIREITO DE FALAR ISSO PARA O OUTRO?
– Abuso (não é só físico). Como dito acima, procedimentos realizados sem consentimento ou aviso prévio, enganar e/ou mentir sobre o real quadro clínico da mulher ou do bebê para a indução do parto ou até mesmo uma indicação de cesariana desnecessária, omissão de informações, etc.
– Violência física (das mais comuns as mais bizarras). Uso excessivo de medicamentos, manobras e intervenções que não tem benefício algum nem base científica, manipulação e exposição desnecessária do corpo da mulher, tricotomia (raspagem dos pelos), enema (lavagem intestinal), epsiotomia de rotina (corte feito no períneo), negar recursos para o alívio de dor (sejam não farmacológicos ou analgesias quando há indicação), cesária eletiva, etc.
-Maus tratos e violência psicológica (não que os citados acima também não sejam). Tratamento hostil, ameaças, gritos, humilhação intencional, brincadeiras e comentários irônicos, proibição da presença do acompanhante, proibição da presença da doula, etc.
– Violência sexual. SIM, existem relatos de assédio sexual e estupro!
A maioria das práticas listadas acima infelizmente são rotineiras e muitas vezes entendidas tanto pelas gestantes quanto pelos profissionais de saúde como o único possível modelo de assistência a ser oferecido diante da realidade estrutural oferecida pelas próprias instituições, sejam elas públicas ou particulares. E pela crença de que quem causa todo esse transtorno é a mulher que quer parir naturalmente, muitas mulheres são aconselhadas ou optam por agendar a data da cesariana a fim de evitar possíveis violências. O que na realidade não acontece. A verdade é que os exemplos citados são apenas uma pequena parte da realidade do cenário obstétrico brasileiro.
Ficou claro que a violência obstétrica é uma forma de violação dos direitos das mulheres grávidas e em trabalho de parto. São camadas muito sutis e profundas de crenças sobre a incapacidade da mulher de parir naturalmente e sobre a subordinação de nossos corpos que construíram a assistência a que temos hoje.
Se eu posso dar uma dica é: Mulheres, se informem!!!
A melhor fonte de prevenção é a informação. E hoje podemos encontrar informações de qualidade com bastante facilidade. Você pode encontrar sites, canais no Youtube, grupos de gestantes na sua cidade, blogs maravilhosos como o Casa da Doula <3 e perfis de ótimos profissionais no Instagram e no Facebook.
Busque se informar sobre o que você poderá vivenciar durante a gestação, parto e puerpério. Quais são os benefícios do parto normal para você e seu bebê, o processo fisiológico das fases do trabalho de parto, o que esperar e de que maneira lidar com esse momento, quais os procedimentos realizados são necessários e quais são apenas cumprimento de protocolos sem embasamento científico, quais as reais indicações para uma cesariana, etc.
Se estiver dentro dos seus planos contratar uma equipe particular, entenda a importância de ter com você uma equipe humanizada e veja os possíveis lugares onde você pode ter o seu parto. Caso essa possibilidade não faça parte do seu orçamento, busque informações à respeito de todos os protocolos da instituição que for sua referência seja ela pública ou privada. Busque saber também a respeito das condutas do médico que está assistindo ao seu pré-natal e/ou irá assistir ao seu parto.
Informe-se sobre as leis federais e municipais que zelam pela integridade à saúde e pelos direitos das mulheres, bem como leis que garantem a presença do acompanhante e da Doula durante todo o trabalho de parto e pós-parto.
Busque uma Doula, estamos aqui para fortalecê-las e ampara-las em suas decisões e para compartilharmos informações verdadeiras, atualizadas e baseadas em evidências científicas. Procure também saber o que é o plano de parto, a importância de ter esse documento e como faze-lo.
Nesse momento, informações e recursos nunca são demais. O SEU parto pode e deve ser a experiência mais inesquecível da sua vida, de maneira positiva claro.
Só conseguiremos transformar a realidade do nascimento no Brasil quando nos tornarmos conscientes de que o parto é única e exclusivamente da mulher e reivindicarmos nossos direitos. Para que assim os profissionais possam entender que eles estão ali para nos assistir e ajudar no que for preciso sem intervir quando não for necessário.
Amadas, sei que não está fácil até aqui… Falar sobre violência obstétrica é algo que remexe camadas profundas de cada uma de nós, pois sem dúvidas a mulher que não vivenciou nenhum tipo de violência diretamente com certeza conhece alguma mulher que sofreu, seja da família ou amigas.
A mulher que sofreu violência obstétrica não só pode como DEVE denunciar. Não é nada fácil estar recém parida e ter que criar forças para mexer em uma ferida aberta, mas acreditem essa é a única maneira que temos para transformar essa realidade.
Você não está sozinha! Nesse momento busque todo o apoio que puder. Seu parceiro(a), familiares, amigxs, sua Doula, grupos de apoio e ativistas da causa na sua cidade ou mesmo pela internet. Forme uma rede grande e forte que te ampare física e emocionalmente.
-Solicite uma cópia do seu prontuário na instituição (esse documento é seu e você tem direito de solicita-lo);
– Faça um B.O dando o seu relato e o relato de testemunhas que presenciaram a violência que você sofreu;
-Denuncie na ouvidoria do hospital, no conselho regional e federal de medicina;
– Registre uma denúncia na Central de Atendimento à Mulher pelo 180;
– Conte com as mídias, sejam elas sociais, tv ou rádio.
Busque se fortalecer também com outras mulheres que passaram por diversas formas de violências obstétricas e criaram coragem para lutar contra esse sistema de atendimento que temos hoje. O número de denúncias cresce a cada dia e ao invés de pensarmos que isso é ruim, vamos tentar olhar de forma positiva, pois só conseguimos realmente transformar aquilo que conseguimos enxergar com clareza. Unidas somos pura potência e transformação. Vamos juntas!
“Mulheres são como água, crescem quando se juntam.”
Estamos todas juntas!
COM AMOR E CARINHO,
Doula Giulia Ventriglia.
Violência institucional obstétrica no Brasil: revisão sistemática https://periodicos.unifap.br/index.php/estacao/article/view/1592/rafaelv5n1.pdf
Violência obstétrica no Brasil: Uma revisão narrativa http://www.scielo.br/pdf/psoc/v29/1807-0310-psoc-29-e155043.pdf
Violência obstétrica – A voz das brasileiras https://www.youtube.com/watch?v=eg0uvonF25M&feature=player_embedded
Mulheres brasileiras e gênero nos espaços públicos e privados https://apublica.org/wp-content/uploads/2013/03/www.fpa_.org_.br_sites_default_files_pesquisaintegra.pdf
O Renascimento do Parto 2
Lei No 10.778, de 24 de novembro de 2003. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.778.htm
Lei Nº 11.108, de 7 de abril de 2005. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11108.htm
Lei Nº 16602 DE 23/12/2016 https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=334333
Lei Nº 3.134 https://egov.santos.sp.gov.br/legis/document/?view=6541
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