Categories: Gravidez

Pré-natal: uma abordagem humanizada

Compartilhe:

No Brasil, onde o corporativismo médico ainda dita as regras de assistência à mulher no parto, temos o costume cultural de procurar um/uma obstetra para iniciar o pré-natal. Em diversos países, isso não acontece.

Na Europa é diferente

Na Inglaterra, por exemplo, o único momento que uma gestante é avaliada por um médico é quando visita um clínico geral para ser encaminhada para uma parteira, no início da gestação.

Lá as parteiras são as profissionais que acompanham a mulher ao longo de todo o ciclo gravídico-puerperal, cabendo ao médico intervir somente em casos de gestação de alto risco ou parto com intercorrências.

De acordo com o relatório Changing Childbirth de 1993, é recomendado que gestantes de baixo risco tenham seus filhos em domicílio e coloca a parteira como figura central de assistência às gestantes.

Esta assistência garante uma abordagem mais humana, respeitosa e menos intervencionista. Como resultado, além das mulheres relatarem uma experiência de parto mais positiva, o índice de cesáreas é de 25%, mesmo tendo as gestantes o direito de escolher a via de nascimento.

Foto: Flickr

E as parteiras brasileiras?

O que poucas mulheres brasileiras sabem é que também temos acesso a estas profissionais.  As enfermeiras obstetras e obstetrizes são profissionais especializadas e podem oferecer a assistência necessária no pré-natal, parto e pós-parto.

Foto: Omane Parto Domiciliar/Arquivo pessoal

Nos últimos anos, graças ao aumento da procura pelo parto humanizado, enfermeiras obstetras, obstetrizes e doulas tem ganhado mais espaço no mercado já que têm tido a chance de mostrar a relevância de seu trabalho na assistência à mulher.

Saindo do convencional: pré-natal coletivo!

Uma experiência de sucesso e alternativa à convencional é o pré-natal coletivo. Nele, a enfermeira obstetra ou obstetriz acompanha as gestantes, seguindo todas as recomendações do Ministério da Saúde, e as mulheres tem a oportunidade de compartilhar suas dúvidas, alegrias e inseguranças da gestação em um ambiente acolhedor e familiar.

Foto: Omane Parto Domiciliar/Arquivo pessoal

Formatado em rodas temáticas, os encontros contam sempre com a presença de doulas que enriquecem os temas, compartilhando informações atualizadas, baseadas em evidências científicas.

O que acontece na consulta de pré-natal?

 Endi Pi, enfermeira obstetra da Omane – Parto Domiciliar, trabalha com pré-natal coletivo e parto domiciliar em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, e explica como este serviço funciona.

O Ministério da Saúde recomenda no mínimo 6 consultas de pré-natal durante toda a gravidez mas, em geral, as mulheres fazem consultas mensais até 34 semanas de gestação. A partir de 36 semanas, as consultas passam a ser realizadas quinzenalmente e a partir de 38, semanalmente, até o nascimento do bebê.

Foto: Omane Parto Domiciliar/Arquivo pessoal

A enfermeira realiza os mesmos procedimentos que seriam realizados por um médico:

  • Afere a pressão arterial, verifica peso e outros sinais vitais
  • Avalia a frequência cardíaca  do bebê com um sonar
  • Verifica a altura uterina
  • Faz a palpação uterina para avaliar a posição do bebê
  • Analisa resultados de exames
  • Conversa, dá orientações e esclarece dúvidas
  • Encaminha para o obstetra caso encontre algo que saia do que se considera uma gestação de risco habitual

Elas têm autorização para solicitar todos os exames do pré-natal, menos o ultrassom morfológico. Para isso, é necessário passar em consulta com um médico para obter as guias. Enfermeiras também não podem prescrever remédios.

E a doula?

A participação da doula na gestação é complementar: a doula realiza encontros para conversar sobre assuntos específicos que envolvam o contexto daquela família em particular.

Seu papel é auxiliar a gestante a resgatar a sabedoria que tem sobre seu corpo, a confiar em seus processos e fazer escolhas conscientes.

Neste sentido, o trabalho da doula é fundamentado em três pilares: o de Informar, de Apoiar e de Conectar.

Informar

Para algumas gestantes o mais importante é obter informações atualizadas sobre o universo da maternidade. Aprender sobre o que acontece com seu corpo e suas emoções, entender o que esperar e o que fazer nas diferentes fases do trabalho de parto,  aprender sobre violência obstétrica e seus direitos.

Apoiar

O papel da doula é o de apoiar a gestante e suas escolhas. Acolher suas decisões pautadas em informações atualizadas, de qualidade e conscientes, levando em considerando seu protagonismo, seu contexto familiar, social e valores pessoais. Não cabe à doula julgar, decidir ou convencer a mulher do que ela deve ou não fazer.

Conectar

Para que a relação gestante-doula aconteça é preciso haver conexão. É fundamental que a gestante se sinta à vontade na presença da doula para falar o que pensa, o que sente, sem medo de ser julgada. É um encontro profissional, mas que resulta em uma relação profunda de respeito e carinho.

Foto: Renan Yoshino

Você merece!

Este acompanhamento multidisciplinar apoiado pela assistência profissional de enfermeiras e doulas, tem como objetivo central colaborar para que a gestante se sinta fortalecida, respeitada e possa seguir confiante para o parto, seja ele em ambiente hospitalar ou domiciliar.

Procure por grupos de apoio ao parto humanizado em sua cidade! Lá você encontrará profissionais dedicadas e comprometidas com seu protagonismo.

 

 

Caso queira estudar mais sobre o pré-natal e o trabalho das parteiras, aqui você encontra alguns links de referência.

Boa leitura!

 

Manual técnico de pré-natal e puerpério da Secretaria da Saúde do Governo do Estado de São Paulo: http://www.saude.sp.gov.br/resources/ses/perfil/gestor/homepage/programa-de-fortalecimento-da-gestao-da-saude-no-estado-de-sao-paulo/consultas-publicas-manuais-da-linha-de-cuidado-da-gestante-parturiente-e-puerpera/manual_de_consulta_rapida.pdf

Obstetrícia: você sabe o que realmente faz uma parteira?https://lunetas.com.br/mulheres-atendidas-por-parteiras-tem-maior-satisfacao-no-parto/

Changing Childbirth Report: https://www.magonlinelibrary.com/doi/10.12968/bjom.1993.1.4.157

Resolução Cofen Nº 0477/2015Dispõe sobre a atuação de Enfermeiros na
assistência às gestantes, parturientes e puérperas: http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-04772015_30967.html

Ministério da Saúde – Pré-natal e Parto:    http://portalms.saude.gov.br/saude-para-voce/saude-da-crianca/pre-natal-e-parto

 

Compartilhe:
Doula Marina Pedrosa (SP)

DOULA MARINA PEDROSA

 

Profissional de comunicação, doula terapeuta corporal biodinâmica. Iniciei minha carreira como doula e educadora perinatal em 2015. Além de atendimentos particulares na gestação, parto e pós-parto, desenvolvo trabalho no SUS conduzindo rodas para gestantes e puérperas nos postos de saúde de Ubatuba.

 

Cidades de Atuação: Ubatuba-SP, Caraguatatuba-SP, Paraty-RJ

 

Instagram@marinapedrosa

 

Website: www.marinapedrosa.com.br

 

Facebook: @marinapedrosadoula

 

Contato: marinapedrosa@gmail.com

Recent Posts

Roda de conversa para pessoas grávidas

Buscar um parto normal humanizado pode ser bem solitário. Parece que um evento natural é…

1 ano ago

Filmes e séries para quem quer o parto normal

O parto normal é o processo mais natural e saudável para o nascimento de um…

2 anos ago

5 perfis valiosos para seguir no instagram

O parto normal é um tema que desperta muitas dúvidas e questionamentos nas gestantes e…

2 anos ago

Não foi como sonhei, mas foi tranquilo

Dia 28/01 sábado por volta as 18:30, comecei a ir ao banheiro fazer xixi e…

2 anos ago

Era meu sonho um VBAC, e consegui!

Minha dpp era 26/12, e eu já estava com consulta marcada pro dia 27 pronta…

2 anos ago

Foi o momento mais feliz da minha vida

Minhas contrações se intensificaram no dia 05/12 (sim no dia do jogo do Brasil contra…

2 anos ago