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Placenta, a árvore da vida

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Fotografia de Mari Cardoso (@maricardosofotografiadeparto)

Ao longo da minha caminhada como Doula, muitas pessoas já me perguntaram sobre a placenta, são tantas dúvidas a respeito que eu resolvi falar um pouquinho sobre ela. Um órgão tão maravilhoso e importante, mas que geralmente nas maternidades nem é visto ou tocado pelas parturientes, é logo descartado pelos profissionais. Se você tem curiosidade em saber mais sobre quem nutriu seu bebê ao longo da gestação ou se assim como eu adora placentas, esse texto pode te ajudar.

Foto de Cat Fancote via birthphotographyperth.com.au

Após a fertilização, o óvulo fecundado migra até o útero, nesse momento ele passa a se chamar blastocisto. As células do zigoto se dividem em duas partes, a parte de dentro dará origem ao bebê e a parte de fora será a bolsa amniótica ou bolsa das águas e a placenta.

A placenta é o único órgão que só existe durante uma fase da vida, a gestação. Ela começa a se desenvolver nos primeiros dias da gestação e deixa de ter função minutos após o nascimento do bebê, quando se desprende da parede do útero e também nasce.

Uma face da placenta fica totalmente presa a parede uterina e a outra face fica voltada para o bebê, é dessa face que surge o cordão umbilical.

Mas afinal, para que serve a placenta?

Foto Amanda Franco (@fotodeparto)

Esse órgão tão importante, sagrado e digno de saudação é a ponte entre a mãe e o bebê dentro do útero, é através dela que ocorrem as trocas entre o binômio. É conhecida carinhosamente como a “árvore da vida”, pois se assemelha realmente com uma árvore, os vasos sanguíneos se parecem com galhos ramificados e o cordão umbilical o tronco da árvore, mas também porque tem funções importantes como:

  • Respiração: A placenta transporta oxigênio para o bebê e recolhe gás carbônico;
  • Nutrição: É a placenta que recolhe do sangue da mãe substâncias que serão necessárias para o desenvolvimento do bebê;
  • Excreção: O bebê libera e deglute a urina com o líquido amniótico dentro da bolsa das águas. Nesse processo, se não fosse a placenta o bebê se intoxicaria e não sobreviveria. Ao passar pelo sangue do bebê os resíduos são enviados pelo cordão umbilical até a placenta que irá despejar no sangue materno que então excretará esses resíduos;
  • Proteção: A placenta também tem função de imunização para o bebê;
  • Produção de hormônios: A placenta é responsável pela produção de hormônios importantes para a manutenção da gestação como a progesterona e o estrogênio.
Ilustração do útero na gestação por dentro

 

Em que local do útero fica a placenta?

Somente no final da gestação pode-se afirmar a posição correta da placenta através de ultrassom, pois ela se move pelo útero conforme ele vai se expandindo com o crescimento do bebê. Ao final do terceiro trimestre de gestação, a placenta pode ter se instalado em 3 lugares distintos:

Placenta anterior: Quando a placenta está fixada na parte da frente da barriga da mãe.

Placenta posterior: Quando a placenta está fixada na parte de trás, nas costas da mãe.

Placenta prévia: Quando a placenta está fixada na parte de baixo do útero, totalmente ou parcialmente em cima do colo do útero. Um dos principais fatores para a placenta estar prévia no final da gestação é em razão das cesáreas anteriores aquela gestação. No caso de a placenta estar prévia, a cesárea se faz necessária.

Ilustração da posição comum da placenta no útero X Placenta prévia

 

O que é descolamento de placenta?

Descolamento prematuro da placenta pode ocorrer a partir de 20 semanas de gestação, é quando a placenta de desprende do útero fora do período expulsivo ou do trabalho de parto, é uma emergência e uma justificativa real de cesárea, uma vez que o bebê ficará sem receber oxigênio e nutrientes após o descolamento.

Graus de placenta

A placenta é nomeada de grau I, grau II e grau III. Conforme a gestação vai avançando, a placenta vai amadurecendo e as vezes calcificando (ficando mais dura), mas isso não é motivo para alarde ou que você deva interromper a gestação em uma cesárea eletiva, calma, é apenas um dado técnico que não deve ser avaliado sozinho, é necessário avaliar o desenvolvimento do bebê dentro do útero e como está o funcionamento da placenta. É esperado que uma gestação as 38 semanas esteja com placenta grau III, pois em breve o bebê irá nascer e a placenta perderá sua função, mas uma gestação de 33, 34 semanas com placenta grau III merece cuidados e acompanhamento mais específicos que serão orientados pelo médico (a) obstetra. Cada caso deve ser tratado individualmente.

 

E o cordão umbilical, onde entra nessa história?

Foto de Cat Fancote via birthphotographyperth.com.au

O cordão umbilical é o tubo de ligação entre a placenta e o bebê, mede em torno de 50 cm de comprimento e 2 cm de diâmetro e é através dele que circulam todas as trocas entre mãe e bebê. É composto de uma veia que importa oxigênio e nutrientes e duas artérias que exportam para fora o que não será usado, envoltas por uma substância gelatinosa.

Você já deve ter ouvido alguém falar que “foi cesárea pois o cordão estava enrolado no pescoço”. Saiba que isso é uma falsa justificativa de cesárea (se o profissional de saúde te indicar uma cesárea por esse motivo, foge rápido que é treta) o cordão não é assassino, a natureza não teria o feito caso ele pudesse fazer mal ao bebê. Durante a gestação o bebê recebe oxigênio apenas pelo cordão e não pela traqueia, não há como o bebê se enforcar. A substancia gelatinosa que cobre o cordão faz com que a veia e as artérias fiquem protegidas de compressão, até mesmo a maioria dos casos de nó verdadeiro de cordão não causam problemas.

Fotografia de Mari Cardoso (@maricardosofotografiadeparto)

 

E o que acontece depois do parto?

Fotografia de Mari Cardoso (@maricardosofotografiadeparto)

Após o nascimento, o cordão umbilical vai deixando de pulsar e vai ficando esbranquiçado à medida que o restante do sangue da placenta é transferido para o bebê, estudos mostram que o ideal é que se espere pelo menos 3 minutos para se cortar o cordão, período suficiente para que o bebê receba uma quantidade de sangue considerável, ajudando a prevenir anemias na primeira infância. O cordão pode ser cortado pelo profissional de saúde, por alguém da família ou pela própria parturiente.

Fotografia de Mari Cardoso (@maricardosofotografiadeparto)

 Minutos após o parto, a mulher geralmente sente algumas cólicas, é a placenta se desprendendo da parede do útero para dequitar e encerrar seu ciclo de vida.

Atualmente algumas famílias fazem o carimbo da placenta com o próprio sangue ou tinta para emoldurar e guardar de recordação essa que foi tão importante. Outras levam a placenta para plantar em casa em um sinal simbólico. Há também quem encapsule a placenta para ingestão no puerpério, ou consuma pedaços da placenta dentro de uma vitamina por exemplo, logo após o parto. Não há estudos comprovados, mas quem ingere diz sentir melhora no estado emocional e na disposição física no pós-parto entre outros benefícios.

Carimbo de placenta da pequena Aurora

A placenta é a representação mais pura de força e conexão, ligação única como jamais teremos novamente. É parte de um ciclo, é o início da vida.

 

Referências:

Fisiologia Gestacional: http://seer.pucgoias.edu.br/files/journals/3/articles/3700/submission/review/3700-10788-1-RV.doc

Placenta e anexos embrionários:

http://www.ibb.unesp.br/Home/Departamentos/Morfologia/placenta-e-membranas-fetais-med.pdf

Placenta prévia:

https://www.researchgate.net/profile/Antonio_Moron/publication/26353638_Placenta_Previa_Fatores_de_risco_para_o_Acretismo/links/02e7e52c0b51cab418000000/Placenta-Previa-Fatores-de-risco-para-o-Acretismo.pdf

Descolamento de placenta:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-42302006000300008&script=sci_arttext&tlng=pt

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Doula Julia Agnes (Grande Florianópolis e Itajaí - SC)

Sou natural de Florianópolis e aqui me tornei Doula em 2017. Presto auxílio na gestação, parto e pós parto e sou facilitadora do aleitamento materno. Sou fundadora e artesã da By Dinda Enxovais e cofundadora do Grupo Grão do Ventre.

Mulher em construção e desde criança nutro muita curiosidade no processo de gestar e parir. Sou apaixonada por nascimentos e milito pelo direito das mulheres de terem seus desejos respeitados e que seus filhos(as) possam nascer de uma forma amorosa e suave.

Atuo na Grande Florianópolis e região de Itajaí/SC.

Telefone: (48) 99805-7430

E-mail:  juliaagnesdoula@gmail.com

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