Plano de parto é uma ferramenta muito utilizada hoje em dia para deixar claro quais os desejos da parturiente para esse momento tão intenso que é o nascimento de um bebê. Percebo que muitas gestantes ainda tem dúvidas de como escrever o documento, então resolvi fazer esse texto pra auxiliar você a montar o seu, de forma simples e eficiente.
Plano de parto pra que?
O plano de parto é um documento que serve para que você deixe registrado antecipadamente tudo aquilo que você quer para o seu parto e principalmente aquilo que não quer que aconteça.
Pode até parecer besteira, mas sempre reforço para as gestantes que estou acompanhando que mulher que chega bem informada no hospital gera um sentimento de cautela por parte dos profissionais de saúde que estão atendendo, isso porque não podem simplesmente sair fazendo qualquer coisa que serão questionados e, dependendo do que for feito, pode até caber denúncia.
Com os recentes debates sobre violência obstétrica, algumas campanhas governamentais foram lançadas para que a mulher seja respeitada durante todo o pré natal, parto e pós parto, e a montagem no plano de parto foi incentivada.
Além disso, considero a montagem do plano de parto uma ótima oportunidade para a mulher estudar e entender um pouco sobre o momento do nascimento, sobre as intervenções que podem acontecer, auxiliando no processo de empoderamento pessoal.
Como montar o plano de parto
Normalmente, o plano de parto está dividido da seguinte forma:
Trabalho de parto – Todas as intervenção que podem acontecer durante a internação, incluindo raspagem dos pelos pubianos e lavagem intestinal, informações sobre a presença do acompanhante de livre escolha, garantido pela lei nº 11.108, de 07 de abril de 2005, desejo de liberdade de movimentação e utilização de chuveiro/banheira, uso ou não de ocitocina sintética e analgesia, acesso à dieta leve, etc.
Parto – Aqui ficam registrados os desejos com relação a hora do nascimento, tais como posição que deseja ficar, proibição da episiotomia (corte na vagina), proibição da manobra de Kristeller (empurrar a barriga), entre outras.
Sobre a episiotomia, de acordo com um estudo feito pela Cochrane e publicado em 8 de fevereiro em 2017, não existem evidências suficientes que justifique o uso de episiotomia de rotina. A prática desse procedimento pode trazer muitos desconfortos na região do períneo no pós parto, muitas vezes se estendendo pelo resto da vida, dificultando inclusive a retomada da vida sexual.
No plano de parto, pode-se deixar claro a preferência pela laceração natural, que causa muito menos danos nos dias logo após o parto, tem recuperação mais rápida e não deixa grandes sequelas.
Pós parto imediato – Assim que o bebê nasce, pode-se solicitar que o bebê seja colocado imediatamente no colo da mãe, aguardar o nascimento da placenta para então cortar o cordão, etc
Em caso de cesárea – As vezes a cirurgia é necessária e alguns pedidos podem ser feitos para que esse momento seja o mais tranquilo possível, tais como luz baixa na sala, aumento da temperatura do ar condicionado, presença do acompanhante e da doula, se tiver, contato pele a pele se o bebê estiver bem, entre outros pedidos possíveis.
Cuidados com o bebê – Muitas mulheres se preocupam bastante com o momento do parto e acabam esquecendo que o bebê também pode sofrer intervenções desnecessárias, tais como aspiração das vias aéreas sem real necessidade e aplicação de colírio de nitrato de prata de rotina, mesmo em mulheres que possuem exames para gonorreia e clamídia negativos. Aqui também pode ser solicitado que respeitem a primeira hora de vida do bebê e que todos os procedimentos necessários sejam feitos após isso.
Plano de parto – Ferramenta de transformação
Agora que você já sabe para que serve o plano de parto e como pode estruturar o seu, vou deixar algumas dicas importantes:
1 – Pesquise sobre cada procedimento para tomar a sua decisão. Use as intervenções que constam no plano de parto para estudar sobre o assunto e realmente entender para que serve e se faz sentido pra você negar ou não. Muitas vezes, o que funciona pra sua amiga não vai funcionar pra você, então faça as SUAS ESCOLHAS. Lembre-se que a protagonista do seu parto é você
2 – Discuta sobre o plano de parto com o acompanhante e tenha certeza que ele entendeu sobre as intervenções e quais são as suas escolhas. Essa dica é fundamental e muitas mulheres esquecem que o acompanhante é a pessoa que vai pedir que todos os itens do plano de parto sejam cumpridos. Não importa se é marido, mãe, tia, amiga, a pessoa que estará com você durante todo o processo precisa estar ciente de tudo e pronta pra agir quando necessário.
3 – Não faça do momento do parto um campo de batalha. Nós sabemos que o cenário obstétrico no Brasil não é nada tranquilo, então precisamos saber como lidar com tudo isso. Em um ambiente hostil, será necessário saber conversar e negociar sobre todas as intervenções. E se mesmo com a conversa algo for feito contra a sua vontade e você se sentir violada ou violentada pela equipe que estiver atendendo, não tenha medo! Peça ao acompanhante que anote o nome dos profissionais e abra uma denúncia contra o hospital. Só assim conseguiremos mostrar toda a violência que as mulheres sofrem em um dos momentos mais bonitos e intensos de suas vidas.
4 – Lembre-se: se for possível ter uma doula te acompanhando, ela estará lá pra te dar apoio físico e emocional. O papel da doula é te auxiliar com a montagem do plano de parto, mas a presença dela não vai impedir que alguma coisa aconteça. A responsabilidade de exigir que o seu plano de parto seja seguido é do acompanhante. Ainda assim, é presença da doula pode ser fundamental para que a sua experiência de parto seja mais positiva.
Quer um modelo de plano de parto bonitão? Registra o seu desejo no link abaixo que vou disponibilizar o que montei e passo para as gestantes que acompanho preencherem.
https://forms.gle/k8FbKHn1KgGeAPh48
Com carinho
Camila Medeiros – Doula, consultora em aleitamento materno e mãe de 2
Referências:
Estudo sobre episiotomia, leia aqui:
https://www.cochrane.org/pt/CD000081/episiotomia-seletiva-ou-de-rotina-no-parto-vaginal
Diretrizes do Ministério da Saúde para o parto normal:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf
Lei do acompanhante:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11108.htm
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