Uma gravidez ectópica é aquela que acontece fora do útero. A expressão deriva do grego “ektopos”, que significa “fora do lugar”. Isso acontece quando o óvulo é fecundado no “lugar errado”, segue um caminho diferente do que deveria ou quando há um problema no caminho e ele não consegue passar. Geralmente o embrião que daria origem ao bebê se fixa na trompa (estrutura que liga os ovários ao útero), ao invés de se implantarem no local certo, que é dentro do útero, no endométrio.
Essa é uma complicação do desenvolvimento da gestação que afeta de 1-2% das gravidezes. Na maioria das gestações ectópicas, cerca de 97% dos casos, o embrião se fixa nas trompas (gravidez tubária), mas também há relatos de gestações no ovário (0,5%), no peritônio (gravidez abdominal, 1% a 1,4%), cervical (0,1%), intramural (0,6%).
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A maioria dos casos está associada à uma falha na mobilidade do óvulo na trompa ou até a uma malformação no sistema reprodutor feminino. O embrião não consegue chegar ao local certo a tempo e fica “emperrado” na trompa. Ou sai dela por algum espacinho e fica “solto” na cavidade abdominal.
O risco de gravidez ectópica é maior para mulheres que já tiveram gestações fora do útero anteriormente. As mulheres que passaram por cirurgia cesariana, que tiveram doenças inflamatórias pélvicas ou que são laqueadas também correm mais risco. Doenças como a endometriose costumam aumentam os riscos de um bebê ser gerado fora do útero.
A gravidez ectópica também pode ser um efeito colateral de uma reprodução assistida ou de uma fertilização in vitro. Mulheres negras também correm mais riscos de ter uma gravidez ectópica do que mulheres não-negras.
A gravidez ectópica é a primeira causa de morte materna no primeiro trimestre da gestação. O índice de mortalidade materna chega a ser 90 vezes maior entre as mulheres com gravidez ectópica do que entre as que tiveram uma gestação uterina, considerada normal.
Algumas gestações ectópicas são assintomáticas, mas, na maioria delas, as mulheres apresentam sintomas similares ao de uma gravidez uterina: amenorreia (ausência/atraso da menstruação), enjoo, seios sensíveis. Porém, ao contrário do que acontece numa gestação normal, a mulher tende a sentir tontura, cólica e dor no lado esquerdo ou direito da barriga, ou seja, na trompa ou no ovário onde o embrião está.
Em alguns casos, a mulher pode ter pequenos sangramentos e confundir com o início da menstruação. Um teste de gravidez inconclusivo também pode ser sinal de uma gravidez ectópica. Isso porque a dosagem do hormônio HCG no exame conhecido como Beta HCG em mulheres com gravidez ectópica geralmente é mais baixa do que deveria para aquela idade gestacional, mas é mais alta do que se a mulher não tivesse grávida.
Em caso de suspeita de gravidez ectópica, o médico, parteira ou a enfermeira obstetra costumam pedir um ultrassom para avaliar a implantação do embrião. Caso constate que está implantado fora do útero, podem ser feitas três abordagens: expectante (observação e monitoramento por ultrassom), cirúrgica (por laparoscopia, videolaparoscopia, cirurgia cesariana) ou medicamentosa.
As gestações ectópicas são raras e dificilmente terminam com um final feliz. Quando o bebê se desenvolve na trompa, por exemplo, não há espaço para ele crescer lá e a gestação pode evoluir para dois cenários.
No primeiro, o embrião para de se desenvolver neste local “incorreto”, o que é considerado um aborto espontâneo, seja ele com expulsão natural ou com abordagem medicamentosa/cirúrgica. O medicamento usado é diferente dos casos de abortamento com embriões implantados no útero.
Em casos de gestações ectópicas, o uso de misoprostol, um medicamento usado para induzir o trabalho de parto, tanto no fim da gravidez quanto em caso de abortamentos incompletos, é contraindicado. Isso por que este medicamento causa contração no útero e, caso o embrião esteja na trompa, pode aumentar o risco de rompimento da trompa.
A segunda possibilidade é a trompa/ovário não aguentar e se romper, dando origem a uma hemorragia interna. Neste caso, a abordagem mais comum é a cirurgia de emergência. Em ambos os cenários, pode ser necessária a retirada da trompa ou do ovário em que houve a gestação ectópica.
O uso de contraceptivos reduz o risco de gravidez e, por isso, o risco de gravidez ectópica. Em casos de falha no método, porém, alguns trazem mais riscos de desenvolvimento de gestações fora do útero. É o caso do Dispositivo Intra-Uterino (DIU), dos contraceptivos hormonais à base de progesterona (incluindo o DIU Mirena). A falha na laqueadura das trompas também aumenta o risco de gravidez ectópica.
Infelizmente não dá, o risco é muito alto. A imensa maioria das gestações ectópicas não tem viabilidade e coloca a vida da mãe em risco, sendo desaconselhada a sua continuidade.
Apesar do altíssimo risco pra mãe e pro filho, existem raríssimos relatos na medicina de bebês gestados no ovário e na cavidade abdominal que sobreviveram. Em 2013, uma mulher descobriu que estava gestando um bebê no ovário na 28ª semana de gestação. Por causa da complexidade do caso, ela ficou internada até às 37 semanas, quando foi realizada a cesárea (que existe exatamente para casos como este!). O bebê nasceu com 44,5 centímetros e 1,7kg. Durante a cirurgia, a equipe optou por deixar a placenta dentro do ovário por causa do risco de hemorragia na retirada.
Em 1999, uma mulher do interior de Pernambuco foi atendida no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), que fica no Recife e é um hospital de referência para gestações de risco. Ela estava grávida de 37 semanas e sentia desconforto abdominal intenso, estava anêmica e desnutrida. Após a avaliação clínica, a gestação ectópica foi confirmada por meio de ultrassom.
O bebê estava fora do útero, na cavidade abdominal. A bolsa já havia se rompido e a menina estava com um dos pés para fora do saco membranoso em que foi gerada. A cirurgia foi realizada e a bebê nasceu com 2,570kg.
Apesar de complicações e infecção pós-parto, a mãe foi medicada e recebeu alta no 10º dia. Ambas foram embora com bom estado geral de saúde e aleitamento exclusivo.
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Tive uma gravidez ectópica, será que poderei engravidar novamente? (PARTE 1)
https://blog.casadadoula.com.br/gravidez/tive-uma-gravidez-ectopica-sera-que-poderei-engravidar-novamente-parte-1/
Gravidez ectópica tubária: Diagnóstico, abordagem terapêutica e impacto na fertilidade – Revisão
http://www.revistafertilidad.org/articulo/Gravidez-ectoacutepica-tubaacuteria-Diagnoacutestico-abordagem-terapecircutica-e-impacto-na-fertilidadenbsp—Revisatildeo/119
Gestação ectópica: compreensão e crenças a respeito do diagnóstico, tratamento e suas repercussões
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-74092013000200002
Bebê de gestação abdominal nasce saudável no Pará
http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/01/bebe-de-gestacao-abdominal-nasce-saudavel-no-para.html
Manual técnico de gestação de alto risco do Ministério da Saúde
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_gestacao_alto_risco.pdf
Gravidez ectópica não rota – diagnóstico e tratamento. Situação atual
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032008000300008
Gravidez ectópica retroperitoneal: um relato de caso
http://s3.amazonaws.com/host-article-assets/prmjournal/5b8933170e88253d0ae4c89e/fulltext.pdf
Causas relacionadas ao aborto espontâneo: uma revisão de literatura http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/3300/1/Silvia%20Barbosa%20Mattos.pdf
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