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Meu “Diário Semanal” de gestação – semana 26

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Oi gente, como vão vocês?

Estou passando pra relatar mais uma semana do meu “diário semanal de gestação”. À medida que vai chegando cada vez mais perto da hora do parto, parece que a ficha continua caindo e também me deparo com problemas que todas às gestantes estão arriscadas a passar: Violência Obstétrica no pré natal!! Vamos falar sobre isso hoje!

Violência Obstétrica: Mais comum do que se imagina!

vi·o·lên·ci·a
sf
1 Qualidade ou característica de violento.
2 Ato de crueldade.
3 Emprego de meios violentos.
4 Fúria repentina.
5 JUR Coação que leva uma pessoa à sujeição de alguém.
Fonte: http://michaelis.uol.com.br/busca?id=Pqyzk
Acima temos uma definição básica do que é violência. Quando acrescentamos o adjetivo “Obstétrica”, sabemos que o termos se destina à violência ocorrida durante o período em que a mulher busca os cuidados obstétricos necessários ao período gravídico. Portanto, pode ocorrer durante o pré natal, trabalho de parto, parto e período de internação (em caso de atendimento hospitalar). Resumidamente, é qualquer ação, palavra ou gesto que cause sentimento de humilhação, culpa ou gere danos físicos, emocionais ou psicológicos durante qualquer fase do atendimento.
A violência obstétrica tem diversas nuances e infelizmente, ainda muito normatizado nos atendimentos em diversos consultórios, UBSs e hospitais do Brasil. Imagem: pexels.com
Nessa semana 26 eu passei pela consulta pré natal que teria sido na semana passada. Logo de cara, entrei no consultório e ela, sempre com os olhos no computador, me olhou e já perguntou com um tom bem bravo: “O que é que você tá fazendo aqui?”
Óbvio que a pergunta não fez nenhum sentido. Minha resposta óbvia teria sido: “Vim para a consulta pré Natal, ué…”. Mas, como achei que eu tinha entendido errado, pedi que ela repetisse a pergunta. E ela perguntou ainda mais alto o que eu estava fazendo lá! E emendou que eu tinha sido encaminhada pra gestação de auto risco e que eu deveria estar em acompanhamento no hospital. Resumindo, o diálogo se passou mais ou menos assim:
Ela: _Eu te mandei pro auto risco do [Hospital] porque você é auto risco, você não pode estar aqui!
Eu: _Mas foram eles mesmo que me reencaminharam pra cá. A própria médica de lá me falou que não sou auto risco!
Ela: _Falou é? Cadê a contraindicação? [documento do hospital]
Eu: _Eles se comprometeram a enviar. Não me deram nada!
Ela: _Mas isso não pode! você é auto risco! Olha o estado da sua perna… VOCÊ VAI MORRER NO PARTO COM ESSE TROÇO AÍ, SABIA DISSO?
Eu: (respirei fundo)_Eu já tive varizes nas duas gestações passadas. Não sou auto risco. Ela me recomendou uso de meias de compressão, mesma coisa que recomendaram nas outras gestações. Me passou também [Nome de medicação], e já notei melhoras nas varizes e também num início de hemorróida. Não sinto dor, não está inchado!
Ela: _Não tá é? Deixa eu ver o estado disso aí!
Eu: _Estou usando meia agora. É impossível tirar e colocar de volta! Não tem como ver, está praticamente colada na pele (e levantei a calça e mostrei a meia pra ela).
Ela: _…Hunm… tem certeza que não tá inchado? Não tá doendo nada? Nadinha mesmo?
Eu: _ Nesse momento não! Certamente é da medicação que ela passou…
Ela: _É, deve ser mesmo!
Nesse momento ela digitou várias coisas no computador.  Tem um sistema que ela puxa meu prontuário toda vez e sei que qualquer profissional do SUS tem acesso, puxando pelo número do documento e número de cartão SUS. Brigou mais uma vez por não ter a contra indicação para lançar no sistema. Aferiu a PA e pesou. Na hora de pesar, como eu não passei mal desde o final de julho, eu não perdi mais peso, pelo contrário, ganhei quase dois. Ela me xingou de novo, falando que tudo isso estava muito ruim, estava péssimo tudo aquilo. Mandou eu me deitar e mediu a altura uterina. Depois, tentou fazer ausculta e esse foi o pior momento da consulta. Ela não sabia sequer sentir a posição do bebê e foi apertando minha barriga em todos os lugares com a ponta do sonar. Mas ela não ia com cuidado, afundava pelo menos uns 4 cm na minha barriga. De tanto que ela apertava, eu conseguia sentir até os ossos do bebê, fugindo da pressão. Provavelmente, em dois pontos mais sensíveis ou onde pela pegou em cheio tendões ou nervos, eu tive reflexo de fuga e desviei duas vezes a barriga do sonar. Ela não deu bola e ainda perguntou “Tá doendo é?”…
O profissional pode cometer atos de violência institucional sem mesmo se dar conta. Mesmo isso acontecendo, é importante denunciar para que isso não volte a acontecer. Imagem: pexels.com
(No dia anterior, tive uma conversa com uma EO amiga minha, que me acompanhará durante o TP e ela fez ausculta também. Tão leve e certeiro que de primeira ela ouviu os batimentos do bebê, sem machucar, sem apertar. Totalmente diferente).
Eu saí do consultório toda dolorida. Fui pra casa da minha mãe fazer alguns atendimentos e precisei tomar analgésico pra conseguir atender. Fique extremamente sentida com tudo isso. Me senti invadida, debochada, diminuída. Fiquei pensando nas milhares de mulheres que passam por isso todos os dias e sequer sabem que foram violentadas… Meu coração se despedaçou pelos dias que se seguiram… isso não podia ficar assim, nem sonhando.

O que fazer nesses casos?

Foi exatamente o que pensei… e agora? Um acontecimento de VO (Violência Obstétrica) no pré natal, apesar de já ter lido sobre, era a primeira vez que via, sentia, presenciava e experienciava na própria pele. Quando contei pra minha mãe (ela é minha conselheira e amiga de verdade), ela se lembrou que, na rádio local, num determinado programa, cada dia do mês vai alguma autoridade do município e região para conversar com os ouvintes. Era dia de uma representante da câmara e do movimento de mulheres da cidade. Fiz a denúncia no ar e fui orientada a procurar a gerência da UBS e também o conselho gestor. Agendei para a próxima segunda feira!!
Quando a situação ocorrer dentro da UBS, procure:
Gerência ou Coordenação da UBS;
Conselho gestor da UBS;
Defensoria pública (caso os dois primeiros não dêem jeito);
Disk Violência contra a mulher – 180
Disk Saúde – 136
Denúncias podem e devem ser feitas sempre que necessárias! Imagem: pexels.com
Decidi que na próxima semana, eu procuraria as lideranças da UBS para protocolar uma reclamação do atendimento. Do jeito que está, não pode ficar.
Até a próxima semana!

Referência:

https://aviolenciaobstetrica.wordpress.com/como-denunciar-violencia-obstetrica/
http://michaelis.uol.com.br/busca?id=Pqyzk
https://blog.casadadoula.com.br/?p=6308&preview=true
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Doula Arlene Ferreira (Jacareí-SP)

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