Também chamada de ‘quarto trimestre’, a exterogestação se refere aos 3 primeiros meses de vida do bebê. Tão importante quanto os outros três trimestres da gestação, a exterogestação é infelizmente muitas vezes esquecida durante a gestação. Nos preocupamos muito com o parto, a chegada do bebê. Fazemos preparação para o parto, tentamos aprender como lidar com a dor do parto, aprendemos sobre as fases do trabalho de parto e quando ir para a maternidade, e assim vai. Mas e depois? Quem se preparou para real aventura que começa assim que esse serzinho está no seu colo?
Nos diferenciamos de outros animais em vários pontos. Um deles é nossa vulnerabilidade quando bebês. Quando nascemos, nosso cérebro ainda não está completamente desenvolvido, ele ainda vai dobrar de tamanho no primeiro ano de vida. Caso a natureza decidisse esperar, nao seria possivel a passagem da cabeça do feto pelo canal vaginal. Sabendo disso fica mais fácil perceber que esses primeiros meses são realmente uma fase de transição na vida dos bebês. Essa é a teoria formulada pelo antropólogo Ashley Montagu e disseminada pelo pediatra Harvey Karp.
Nesse post você vai encontrar
Para entendermos melhor o que um bebê precisa durante a exterogestação é necessário saber como era sua vida no útero. Com certeza você já leu ou ainda vai ler muito sobre isso, então vou tentar dar uma boa resumida:
Agora imagina só, sair dessa bolha de conforto, do nada e chegar em um ambiente frio (sim até mesmo 0,5°C de diferença é muito para um bebê), com muita luz, as vozes agora são mais altas, usar roupas e as vezes ser privado do contato com as próprias mãozinhas (luvas)… Até para se alimentar agora ele precisa fazer um esforço ou até mesmo chorar… Caramba é muita coisa de uma vez só!
Acredito que precisamos ter mais empatia com esse serzinho, recém chegado e tentarmos nos pôr no seu lugar para entendermos suas necessidades. Acho que só assim podemos ter um pós-parto um pouco mais leve e consciente.
Como já sabemos agora, o recém-nascido é neurologicamente immaturo, sendo assim, quanto mais lenta e gradual essa fase de transição for, melhor.
Resgate de uma prática muito antiga, mas esquecida pela nossa sociedade : prática do babywearing
Para que o bebê possa desenvolver e se abrir para o mundo, ele precisa primeiro se sentir seguro e acolhido. O que melhor do que o wrap ou sling para proporcionar isso?
Claro que temos várias técnicas para simular o ambiente intrauterino para que ele se sinta “em casa”, mas para mim a mais completa e mais eficaz é a prática do babywearing.
Laura Gutmant no livro Maternidade e o encontro com a própria sombra: o resgate do relacionamento entre mães e filhos: “ desde o nascimento até os 9 meses o bebê têm necessidades básicas : comunicação, contato, movimento e alimentação permanente.”
Aos meus olhos, até mesmo antes do alimento, a primeira necessidade imediata do bebé que acabou de nascer é o contato físico com a mãe : o pele a pele!
O toque é uma necessidade básica do ser humano e precisa ser satisfeita para que o organismo sobreviva, sendo considerada uma das suas sensações mais primitivas. O contato em tempo integral com a mãe permitirá também a termorregulação do recém nascido.
No pele a pele ou agarradinho no sling o bebê já está também perto de seu alimento. A mãe perceberá imediatamente os sinais precoces de fome de seu pequeno e sua produção de leite será ainda mais abundante. Importante lembrar que não é aconselhado esperar o bebê chorar para amamentá lo pois esse já é um sinal tardio, o bebê já está irritado e isso pode dificultar a pega correta. E claro a amamentação proporciona não somente o alimento, mas também o aconchego, o conforto, a proximidade com a mãe.
Para bebês que não são amamentados, esses momentos de contato pele a pele e o fato de ser carregado pode ser ainda mais necessários, tanto para mãe quanto para o bebê.
Usando um carregador ergonômico como o wrap ou sling, sobretudo nesses primeiros meses de vida podemos atender todas essas necessidades do bebê e ao mesmo tempo ter uma certa autonomia e mobilidade. Dentro do útero ele passava 24h por dia apertadinho, quentinho, na posição fetal: cabeça para baixo, coluna encolhida, joelhos contra a barriga. O ideal é que ele possa encontrar tudo isso fora do útero também, e pouco a pouco, conforme vai se desenvolvendo, essa necessidade de ser carregado, de ficar grudadinho diminuirá. Sim sim, pode acreditar, no final das contas passa rápido e deixa saudades. Então aproveite.
“Mas é só colocar na cama que ele acorda…” Sim, é normal! A vida no útero era tão rica. Rica em sons e barulhos. Mas a maior parte era movimento. Movimento contínuo. Quando a mãe senta, levanta, caminha e vira o corpo – movimento, movimento, movimento.”(Frederick Leboyer, Loving Hands). Por essa razão que bebês carregados em wraps e sling geralmente estão calmos ou dormindo; eles encontram a sensação conhecida do balançar natural do caminhar da mãe.
Bebês aprendem muito imitando tudo que vem. Quando estão sendo carregados próximo ao corpo do cuidador, eles vem tudo da mesma perspectiva que seu cuidador. Isso os torna mais ativo e a interação vem ainda com mais facilidade pois ele tem acesso a todos esses estímulos ambientais, porém sempre com a possibilidade de voltar a atenção para o seu porto seguro: quem o carrega.
Além disso você tem olhos nele o tempo todo, está sentindo e percebendo instantaneamente suas reações (medo, susto, desconforto..)
Digestão
Carregar seu bebê ajuda também na prevenção ou tratamento de cólicas e choro excessivo. O Dr. Carlos González, pediatra espanhol muito famoso, relaciona as cólicas e o choro excessivo à essa falta de contato necessária. No sling ou wrap o bebê está sempre na vertical, com a barriga quentinha, na posição fetal; isso tudo são fatores que ajudam muito a digestão do bebê.
Já perdi as contas de quantas vezes eu ouvi isso. Mas vou explicar direitinho; Com o tecido, o peso do bebê é distribuído corretamente pelo seu corpo, o que evita que sua coluna fique torta, causando uma sensação de cansaço, dor nos braços e, principalmente, nas costas. Se tem dor é porque algo está errado! Existem vários carregadores diferentes, tem que testar e ver qual se adapta melhor ao seu corpo, ao seu bebê e as suas necessidades.
Lembrando que o babywearing também é uma ótima oportunidade para o pai, os avós, as tias, criarem uma conexão maior com o bebê. Ao ser carregado ele vai se acostumando com a voz, com os batimentos cardíacos e movimentos, fortalecendo o relacionamento entre os dois e causando maior troca de calores e energias. Além disso, sendo carregado por outra pessoa, a mãe terá um tempinho para descansar, tomar um longo banho em paz, comer tranquilamente…
Cama compartilhada, banho de ofurô, shantala, fazer charutinho… São algumas das opções para proporcionar mais conforto ao seu bebê e auxiliar seu desenvolvimento no período da exterogestação.
Vale lembrar que existem inúmeros carregadores ergonômicos de marcas, tecidos e formas diferentes. E importante se informar e testar o que convém melhor a você, a seu bebê e as suas necessidades. Se sentir a necessidade de uma ajuda individualizada, procure uma consultora em babywearing.
Em Bruxelas ofereço oficinas de babywearing e consultorias a domicílio.
Refêrencias:
GVA: Grupo Virtual de Amamentação
Livro: O Diário de Bordo do Bebê: Um guia prático para um pós-parto mais feliz, De Luciana Herrero
Exterogestaçao: a importancia de gestar do lado de fora
Regras de segurança básicas para o uso de qualquer portabebês – por Elena de Regoyos (Mamaememima)
https://carregarergonomico.wixsite.com/carregarergonomico/ilustracoe-explicadas
http://onossoblog.com.br/o-resgate-da-arte-de-carregar-bebes/
https://stpauls.vxcommunity.com/Issue/Us-Experiment-On-Infants-Withholding-Affection/13213
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Maravilhosa ! Estamos agora mesmo na exterogestação! Gratidão por nos brindar com tanta informação de qualidade e o carinho conosco ❤️