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Como identificar seu período fértil e aumentar as chances de engravidar!

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Se você está tentando engravidar, a dica mais eficiente é: conheça seu corpo!

Escrevi esse texto para te ajudar a entender melhor seu ciclo menstrual e otimizar as tentativas de engravidar através do conhecimento do seu período fértil. Você vai descobrir que conhecer o próprio corpo é uma ferramenta maravilhosa de empoderamento!  Além de auxiliar na concepção, ao compreender o que se passa aqui dentro, encaramos melhor as mudanças de cada fase do nosso ciclo e conseguimos nos acolher e nos respeitar muito mais!

Nossa relação com nosso ciclo menstrual

Vivemos hoje um período muito diferente daquele vivido por nossos pais e avós, onde a maioria dos casais iniciava sua vida sexual somente após o casamento e as aspirações femininas estavam mais relacionadas à construção de uma família e cuidado da casa e dos filhos. Sexo era tabu e para engravidar mais rápido, as mulheres aprendiam com outras mulheres a observar sinais do corpo durante o ciclo menstrual. O uso de pílulas anticoncepcionais era mais restrito e muitas vezes até condenado, portanto era mais comum utilizar métodos naturais para se evitar uma gravidez indesejada, especialmente os métodos de percepção da fertilidade.

Nossa geração viveu e ainda vive uma fase de muitas conquistas femininas: reivindicamos o total controle de nossos corpos! Escolhemos se queremos menstruar ou não, escolhemos a dedo a fase da vida em que queremos engravidar, podemos até escolher a hora que nossos filhos virão ao mundo. Nesse extremo, vivemos um processo de medicalização do nascimento e também do ciclo menstrual. A menstruação passou a ser vista como algo sujo, desnecessário, incômodo. Mulheres passaram a ingerir hormônios para não menstruar, para regular o ciclo menstrual, para melhorar pele e cabelos, para controlar questões hormonais que muitas vezes foram mal diagnosticadas.

A maioria de nós provavelmente iniciou o uso de anticoncepcional muito cedo, até mesmo na adolescência. E seguiu com sua utilização, pois era muito mais conveniente ter total controle sobre nosso ciclo menstrual. A responsabilidade pela anticoncepção passou a ser muito mais da mulher do que do casal. Médicos passaram a prescrever anticoncepcional sem mesmo informar às suas pacientes sobre os riscos associados ao seu uso. Daí vieram os efeitos colaterais: aumento do risco de trombose, AVC e embolia pulmonar, mais enxaqueca, retenção hídrica, depressão…

Mulheres recuperando o conhecimento e a conexão com seus corpos

Por outro lado, a luta pela liberdade feminina trouxe muitos benefícios para as mulheres: estamos questionando o uso de anticoncepcional, estamos buscando alternativas não-hormonais, estamos voltando a nos interessar pelo nosso ciclo e querendo entender como funciona nosso corpo.

Menstruar, ciclar, acompanhar as incríveis mudanças todo mês trazem uma conexão profunda com nosso corpo. Claro, nem todas as mulheres vão querer e gostar de menstruar, especialmente aquelas que sofrem de endometriose ou tem efeitos muito fortes de TPM. Mas estamos ressignificando nossa relação com a menstruação, especialmente através do crescente número de mulheres querendo se libertar de anticoncepcionais hormonais, sem falar do uso de métodos mais naturais de análise de fertilidade e da preferência por coletores menstruais ou absorventes ecológicos.

Muitas mulheres tomaram anticoncepcional por anos, sem conhecer seu corpo. Pararam no momento que quiseram tentar engravidar. E hoje vemos um número enorme de casos de infertilidade e dificuldades para engravidar. Existe aqui também uma relação importante com o nosso padrão de vida pouco saudável, mas com certeza nos distanciamos muito dos sinais maravilhosos de fertilidade que nosso corpo nos dá todos os meses.

Nosso útero tem poder! Ilustração de Priscila Barbosa

A mágica dança hormonal do nosso ciclo menstrual

Você tomou anticoncepcional a vida inteira e então resolve parar para engravidar! Algumas mulheres já engravidam logo no primeiro mês, outras demoram para ter um ciclo regular sem hormônios, sem contar que muitas outras demoram a entender como funciona seu ciclo. Entender como é este ciclo e quais as características do seu corpo durante cada fase é a chave para ter um aproveitamento maior do seu período fértil, aumentando as chances de engravidar.

A cada ciclo, o corpo se prepara para uma possível gravidez. Um ciclo dura em média de 24 a 35 dias, mas isto também varia muito de mulher pra mulher. Um novo ciclo menstrual se inicia no primeiro dia de menstruação. Contamos o primeiro dia de fluxo vermelho, que suje a calcinha ou absorvente. A duração e intensidade da menstruação variam individualmentem e pode ainda variar em cada ciclo. A menstruação nada mais é do que a descamação do tecido que reveste a parte interna do útero, o endométrio. O endométrio é um tecido super vascularizado e que abriga o embrião quando ocorre a fecundação. Não havendo a fecundação, não tem sentido ele ser mantido, iniciando assim um novo ciclo.

A primeira fase do ciclo, da menstruação até a ovulação, é chamada de fase folicular. Nesta fase, o corpo irá se preparar para a ovulação. A hipófise, uma pequena região do cérebro que faz farte do sistema neuro-endócrino, responsável pela produção e liberação de hormônios, produz FSH (hormônio folículo-estimulante). O FSH envia uma mensagem aos ovários para se prepararem para a ovulação. Dentro do ovário existem folículos, que crescem e amadurecem em resposta ao FSH. Basicamente no meio desta fase, um folículo se torna dominante e os outros param de se desenvolver. Será este folículo dominante que irá liberar o óvulo.

Na fase folicular, o hormônio que domina é o estrógeno produzido pelos folículo dominante. Esse hormônio estimula a proliferação do endométrio que descamou com a menstruação anterior, criando um ambiente em que um possível óvulo fecundado possa se fixar e se desenvolver. Próximo da ovulação, é o estrogênio o responsável pelas mudanças no corpo que propiciam a fecundação. Ocorre a mudança do muco cervical, passando para um muco mais receptivo aos espermatozoides, e o aumento da vascularização e da lubrificação da vagina para facilitar a relação sexual. Ocorre também um nítido aumento do desejo sexual. É o corpo todo trabalhando para a fecundação.

O aumento nos níveis de estrógeno nos dias que antecedem a ovulação desencadeia um pico de LH (hormônio luteinizante), hormônio responsável pelo rompimento do folículo dominante e consequente liberação do óvulo. Este hormônio LH é aquele detectado nos testes de ovulação de farmácia. Quando estes testes positivam, detectam o pico de LH, indicando que a liberação do óvulo deve ocorrer nas próximas 24-48 horas.

Uma vez que o óvulo é liberado, ele é captado pelas fímbrias da trompa uterina e inicia sua viagem em direção ao útero. É neste trajeto que a fecundação pode ocorrer. O óvulo fica disponível pros espermatozoides por cerca de 24 horas (apenas!). Já um espermatozoide pode viver dentro do corpo da mulher por volta de 2 a 3 dias, mas alguns espermatozoides mais resistentes podem durar até 5 dias.

Hormônios do ciclo menstrual. Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/biologia/o-que-e-ciclo-menstrual.htm

Observando o muco cervical

O muco cervical é produzido pelas células do colo do útero e passa por constantes mudanças durante todo o ciclo menstrual. Quando a mulher não está ovulando, este muco é mais esbranquiçado e funciona como uma barreira de proteção para o útero, impedindo a passagem de microorganismos. No período fértil, este muco torna-se mais elástico e transparente, favorecendo a lubrificação e a sobrevivência dos espermatozoides, pois os espermatozoides só consegue sobreviver no aparelho reprodutor da mulher quando ela está no período fértil, se nutrindo deste muco.

Em geral, quando se inicia o período fértil, podemos ver claramente a mudança no muco: a vagina passa a ficar mais lubrificada, com um muco mais aquoso, que molha a calcinha. Algumas mulheres podem apresentar um muco mais pegajoso e esbranquiçado na transição para o muco que indica o pico da fertilidade: o muco clara de ovo. Este muco ocorre em resposta ao pico de estrógeno e indica que o óvulo será liberado nos próximos dias. É consistente e pegajoso, escorregadio entre os dedos, e se tentarmos colocar ele nos dedos e abrir, ele estica consideravelmente, pelo menos uns 2 cm.

 

Mudanças no muco cervical ao longo do ciclo. O muco passa de esbranquiçado e quebradiço (muco não fértil – primeiras fotos) para um muco aquoso, escorregadio e transparente, que estica entre os dedos. Fonte: Wikihow

 

Na maioria das mulheres, percebe-se que a ovulação ocorreu quando há uma mudança no muco cervical: a vagina pára de expelir o muco clara de ovo e fica seca, ou o muco transita de novo para o pegajoso. Além disso, algumas mulheres sentem dor quando ovulam, a chamada dor do meio. Essa dor na maioria das vezes significa rompimento do folículo que liberou o óvulo. Esse rompimento pode liberar um pouquinho de sangue, que irrita a cavidade abdominal e gera a sensação de dor. Dessa forma, é possível então perceber de qual ovário estamos ovulando naquele mês.

Após a liberação do óvulo, inicia-se a fase lútea e o hormônio dominante é a progesterona.  O folículo rompido torna-se o corpo lúteo e vira uma mini-glândula, responsável pela produção de progesterona. O muco cervical predominante é um muco cremoso, esbranquiçado ou amarelado, com textura de creme hidratante, que indica que a ovulação já ocorreu. A progesterona da fase lútea é responsável pelo espessamento e manutenção do endométrio, para que ele seja propício para a implantação do embrião caso o óvulo seja fecundado.

Após a fecundação, inicia-se a divisão celular para início da formação do embrião e das membranas anexas, como por exemplo o tecido que dará origem à placenta. Este conjunto de células vai se multiplicando conforme viaja pela trompa e alcança uma das paredes do útero, onde irá se fixar, processo chamado de nidação. Este processo pode durar de 4 a 12 dias, portanto, caso desconfie de uma gravidez, a melhor data para fazer um teste de gravidez é após pelo menos 12 dias da ovulação, mas o recomendado mesmo é que se espere pelo primeiro dia de atraso menstrual! Caso não haja implantação, o endométrio descama com a menstruação e um novo ciclo se inicia.

Como monitorar a sua fertilidade: uso de aplicativos

Você provavelmente deve conhecer aplicativos para monitoramento do ciclo menstrual: Clue, Flo, OvuView… O problema destes aplicativos é que eles são um pouco limitados quanto à detecção da ovulação, pois não levam em consideração os dados que você registra diariamente e sim uma média com base nos seus últimos ciclos. O melhor aplicativo é o Fertility Friend. Ele é todo em inglês, mas é possível usar pelo navegador da internet, com tradução. Indico o Blog Projetando Um Bebê. Além de ter um guia bem completo sobre fertilidade, tem um manual de instrução bastante detalhado sobre o uso do Fertility Friend, pois ele pode parecer um pouco complicado no início.

Neste aplicativo, você consegue monitorar diversos tipos de sintomas todos os dias, e trata-se de um aplicativo inteligente: calcula o seu período fértil e indica a data da provável ovulação de acordo com os dados que você inclui naquele mês, e não baseado apenas na sua média. Algo muito importante de se saber: a duração da fase folicular, antes da ovulação, é variável entre as mulheres e entre os ciclos, por exemplo podendo durar 10 dias num mês e 14 dias num outro. O que é relativamente constante é a duração da fase lútea, após a ovulação. Esta fase costuma durar de 10 a 16 dias, podendo variar em apenas 1 ou 2 dias entre cada ciclo. Ao longo dos seus ciclos você vai conseguir perceber a duração exata desta fase. Saber quanto dura sua fase lútea é crucial para identificar o dia que você ovulou no mês. Dessa maneira, você consegue observar todos os sinais e identificar padrões, que serão exclusivamente seus!

Monitorando sua temperatura basal

Mas, como saber quando você ovulou? Só podemos ter certeza absoluta através de um ultrassom seriado, que identificará o corpo lúteo após o rompimento do folículo. Porém se monitorarmos nossa temperatura basal, que é a temperatura corporal medida todos os dias pela manhã, num horário fixo, após pelo menos 4 horas de sono, podemos observar como nosso organismo se comporta na ovulação. A fase folicular é caracterizada por temperaturas mais baixas, e a fase lútea por temperaturas mais elevadas (cerca de 0,2 a 0,6 graus Celsius de diferença na média). Quando o folículo está prestes a ser liberado, pode ocorrer uma queda na temperatura basal, seguida por um aumento considerável da temperatura (o que chamamos de shift) após a liberação do folículo. O hormônio responsável por aumento na temperatura é a progesterona, que passa a ser produzida em maior quantidade pelo corpo lúteo.

Portanto, se após a menstruação você passar a monitorar sua temperatura basal todos os dias, em conjunto com outros sintomas como o muco cervical, é possível detectar essa mudança no padrão de temperatura e o aplicativo marca o dia da ovulação. Observando e registrando seu padrão por alguns ciclos, podemos então identificar nosso padrão de sintomas de ovulação e a duração da nossa fase lútea.

Observar todo esse conjunto de mudanças e ter esse controle sobre o seu corpo é algo transformador. E de brinde, você se conhece muito melhor e pode se programar de uma maneira mais eficiente com seu parceiro para vocês terem relações sexuais nos dias mais propícios.

Exemplo de gráfico de temperatura basal. Os pontos em azul são as temperaturas medidas ao longo do ciclo, e a linha vermelha indica o dia provável da ovulação, quando ocorreu o shift da temperatura. Os quadradinhos em vermelho abaixo do gráfico mostram a menstruação, e os verdes os dias mais férteis de acordo com o muco cervical.

Então, quais são os dias mais férteis?

Os dias mais férteis são os 3 dias que antecedem essa mudança na temperatura e o primeiro dia após. O pico da fertilidade geralmente é indicado pelo muco clara de ovo. Considerando que os espermatozoides sobrevivem por até 3 dias, mas que o óvulo dura cerca de 24 horas, o ideal é que se tenha relações antes do rompimento do folículo, para que a hora que isto ocorre, já existam espermatozoides nas trompas apenas aguardando a liberação do óvulo. Portanto, você pode se empenhar mais nas relações sexuais quando perceber essa transição para o muco fértil, até que sinta a transição do muco para o muco não-fértil, ou seja, quando após o muco clara de ovo você sentir que a vagina ficou seca novamente.

Recomendação: fazer sexo quando dá vontade. Existem alguns especialistas que recomendam que se faça sexo dia sim dia não no período fértil, ou a cada dois dias, a fim de proporcionar tempo suficiente para a formação de novos espermatozoides. No entanto, tentar engravidar ao longo dos meses de espera pelo positivo pode gerar cobranças no casal, então é muito importante que o casal consiga curtir os momentos de intimidade sem pensar exclusivamente na gravidez!

E quando buscar ajuda? Considerando que as chances de um casal saudável engravidar em um mês são de apenas 20%, é aconselhável aguardar 1 ano por uma gestação natural. Para mulheres acima de 35 anos, alguns médicos indicam que se aguarde 6 meses. Não ocorrendo uma gravidez natural, é importante que sejam investigados alguns fatores de risco para infertilidade, tanto no homem quanto na mulher.

Partiu se empoderar a respeito de seu corpo e seu ciclo?

Bibliografia

Tutorial Fertility Friend: http://projetandoumbebe.blogspot.com/2016/11/passo-a-passo-em-portugues-para-usar-o-aplicativo-fertility-friend.html

Método Sintotermal para monitoramento da temperatura basal e da fertilidade: http://www.ladoocultodalua.com/tag/metodo-sintotermal/

Assistência em Planejamento Familiar – Ministério da Saúde: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0102assistencia1.pdf

App Fertility Friend: https://www.fertilityfriend.com/

 

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Doula Jana De Ross (Ribeirão Preto - SP)

Bióloga de formação, mestrado e doutorado em Neurociências. Porém, em busca de algo que me preenchesse mais, fui profundamente tocada pela humanização da assistência ao parto e pelo apoio a mulheres em suas jornadas transformadoras da gravidez, parto e maternidade.

Ao me tornar doula, passei por um processo interno de transformação muito forte. Hoje trabalho como doula e consultora em amamentação. Aproveitando minha história na vida científica passei a integrar, como doula, grupos de pesquisa sobre saúde da mulher e humanização da assistência, unindo assim duas paixões.

Acredito que todas as mulheres devem receber apoio e informação de qualidade, especialmente no ciclo gravidez-parto-maternidade, para que se sintam seguras e possam tomar decisões conscientes, vivendo assim estas etapas em toda sua essência!

Atuação: Ribeirão Preto e região

E-mail: jana.de.ross@gmail.com

Telefone: (16) 997750408

Instagram: @doula.janadeross

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