Como fica o sexo na gestação e amamentação?

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Sexo continua sendo um assunto tabu e não é diferente durante a gestação e amamentação. Parece haver um necessário abismo entre sexo e maternidade e isso se reflete nos diferentes estudos com resultados similares apontando para disfunções sexuais femininas, não somente nas diferentes fases do “tornar-se mãe”, mas agravadas durante e após a gestação.

NAS DIFERENTES FASES DA GESTAÇÃO

 

 

 

Diversos fatores são apontados como possíveis explicações para tantas dificuldades sexuais. No início da gravidez, os desconfortos próprios desta fase tais como enjôos e sonolência  podem prejudicar a libido. Outro fator relevante é o receio de prejudicar a gestação, ou seja, medo de causar algum mal ao embrião. Somado a isso, surgem os sentimentos de incerteza, duvidas e preocupações acerca das mudanças que estão por vir.

Conforme a gestação avança outras dificuldades vão surgindo: como encontrar uma posição que acomode a barriga, bem como aspectos relacionados à auto estima feminina e às novas formas adquiridas com o crescimento do bebê e as adaptações fisiológicas necessárias. A diminuição da sensibilidade na vulva e nos seios pode contribuir para as disfunções, assim como o aumento do hormônio prolactina, que tende a diminuir o desejo.

Conforme o final da gestação se aproxima, o aumento de peso, inchaço, fadiga e ansiedade são fatores comuns que costumam interferir no apetite e frequência sexual da mulher. Além disso, também é comum haver um medo de parto prematuro, ou seja, medo de que a relação sexual possa causar algum dano e/ou incentivar um trabalho de parto prematuramente. Vale o registro de que, se a gestação é saudável, é positivo fazer sexo.

O QUE PODE AJUDAR?

Fonte: Flávio Santos – Photography

Estudos indicam que a manutenção da auto estima feminina, o diálogo com o parceiro com a compreensão por parte dele do momento vivido pela mulher, seu interesse na gestação e outras formas de empatia e aproximação contribuem de forma significativa para o aspecto “sexo” na qualidade de vida e saúde (em amplo sentido), da gestante.

Além disso, seria importante receber orientações dos profissionais que acompanham o período gestacional: médicos, doulas, enfermeiras, etc. Orientações a respeito da segurança da relação sexual durante a gestação e de posições e práticas que deixem a mulher confortável, apesar do volume elevado da barriga.

A maior parte das dificuldades encontradas foram a redução da libido (menos desejo), redução da excitação, dificuldade em chegar ao orgasmo e dor durante a relação (dispareunia), sendo mais frequentes os dois primeiros. Uma boa opção para os casais é conhecer, explorar as novas formas da mulher, descobrindo novas formas de se relacionar, novas fontes de prazer.

O sexo costuma estar muito ligado ao ato da penetração em si da vagina pelo pênis e isso é observado até mesmo nos estudos sobre o tema, porém, é importante que ressaltar que sexo vai muito além da penetração e o momento da gestação, especialmente com algumas dificuldades de posicionamento e excitação, pode ser uma excelente oportunidade para resgatar os estímulos à totalidade do corpo.

A mulher que consegue contornar esses obstáculos exercendo sua sexualidade de forma satisfatória durante o ciclo gestacional, terá menos dificuldades de retomar a vida sexual após o nascimento do bebê e durante a amamentação.

“MA-MA-MA-MA-MA-MAMÃE, EU QUERO; MAMÃE EU QUERO MAMAR!”

Após o nascimento do bebê, estudos demonstraram haver um aumento no risco de disfunções sexuais. Embora não tenham sido constatadas diferenças significativas de acordo com a via de nascimento do bebê (parto normal ou cesárea), traumas no períneo, fatores anatômicos e a amamentação contribuem para as dificuldades de retomada da vida sexual.

Fatores comumente apontados são o cansaço, a privação de sono e exaustão física, especialmente da mãe, que acabam atrapalhando os momentos de privacidade e intimidade, com isso, o interesse sexual vai diminuindo.

O pós-parto e as alterações hormonais decorrentes, especialmente quando há prevalência da amamentação, levam a mudanças fisiológicas que reduzem mesmo o interesse e a disponibilidade sexual da mulher. A natureza busca fazer com que o foco da mãe esteja no bebê, já que ele depende dela (do leite materno, mais especificamente) para sobreviver. Assim, a mãe fica alerta para atender qualquer necessidade de seu bebê, tendo, portanto, uma dificuldade de se concentrar no parceiro e, quando se concentra, sua atenção é facilmente desviada. Além disso, os hormônios pós-parto reduzem a lubrificação da mulher, podendo causar maior desconforto durante a penetração.

Fonte: Flávio Santos – Photography (Projeto Amamenta Brasil: Mama Londrina)

Outro fator que mostrou ter grande interferência na vida sexual é a amamentação. Estudos mostraram que quanto mais e por mais tempo a mãe amamenta, menor a frequência e satisfação sexual. Parece haver uma satisfação substituta da mãe no processo de amamentação, ou seja, ela se sente realizada em ser capaz de amamentar seu bebê. Além disso, a amamentação também libera o hormônio ocitocina e endorfinas que são os hormônios do amor/prazer e da satisfação, transformando parcialmente em um substituto para os prazeres sexuais.

A mãe amamenta geralmente porque, apesar do cansaço e das dificuldades em realizar outras coisas, sabe dos benefícios para o filho e sente uma força materna subjetiva, em parte também devido ao contexto social, de ser uma mãe “cumpridora de seus deveres”, funcionando como um emblema materno que se mistura com sua identidade de mulher.

O TABU DO SEIO MATERNO

 

 

 

Pressões sociais e culturais muitas vezes colocam a mãe como uma figura quase santificada, desvinculada de qualquer aspecto sexual. A mulher deixa de ser vista como mulher e passa a ser vista como mãe, sendo essa figura materna quase um ícone inatingível. Do mesmo modo, o seio que, em geral, antes era fonte de prazer durante o ato sexual, agora passa a ser fornecedor de alimento e, por isso, parece haver uma separação simbólica entre o seio da mulher e o seio da mãe.

Ao mesmo tempo que, muitas vezes, a amamentação é sexualizada de uma forma não saudável, o seio que amamenta e, consequentemente, a mãe, especialmente a que amamenta é, contraditoriamente, colocada como intocável.

Esses aspectos, somados aos fisiológicos já citados, contribuem para dificuldades na retomada da vida sexual.

Parece haver uma constante presença simbólica do filho que é o que faz dela uma mãe e essa figura, em alguns casos, pode ser tão presente que parece uma interferência de uma terceira pessoa na relação sexual, o que acaba por atrapalhar a intimidade.

DICAS PARA RETOMAR A VIDA SEXUAL

Apesar das dificuldades, diversos fatores podem contribuir para a retomada da vida sexual. Um deles e que aparece constantemente nos estudos sobre o tema, é preparar os profissionais para orientar as mulheres acerca do sexo no pós-parto. Foi constatado que frequentemente as mães são orientadas acerca de QUANDO podem retomar a prática sexual, porém poucos são os profissionais que dialogam a respeito das dificuldades ou mesmo que estão preparados para fazê-lo.

É importante uma rede de apoio que ofereça para a mãe momentos de autocuidado até mesmo para melhora da autoestima e descanso para que ela possa se recuperar dos cuidados com o bebê e ter mais energia e interesse para exercer sua sexualidade.

A participação ativa do parceiro, colaborando nos cuidados com o bebê e, muito além disso, mantendo um olhar empático e atento à mãe, elogiando-a, admirando-a, e enaltecendo suas qualidades contribuem para manutenção do vínculo e despertar do foco no bebê, tanto quanto os carinhos de cunho não sexuais.

Fonte: Flávio Santos – Photography

No mais, com o tempo a mulher se reencontra e pode descobrir juntamente com seu parceiro novas formas de exercer sua sexualidade de maneira saudável e satisfatória.

Vale dizer que, caso existam dificuldades maiores, é importante buscar ajuda de um profissional especializado em sexualidade e disfunções para investigar outras causas.

Quer saber mais a respeito? Abaixo alguns links de materiais que foram fonte de pesquisa para este texto:

Prevalence of Sexual Dysfunction among Expectant Women (Ocorrência de Disfunções Sexuais nas Mulheres):

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032016001100559&lng=en&nrm=iso&tlng=en

Impacto da Gestação na Função Sexual Feminina: http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v35n5/03

Oscilações do Desejo Sexual no Período Gestacional: 

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2003000300003

Sexualidade e Puerpério: Uma Revisão da Literatura: https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/159223

 

Vivenciando la Lactancia y la Sexualidad en la Maternidad:
“Dividiéndose entre ser Madre y Mujer”:

http://ojs.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/5079/3297

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Doula Jandi Pinheiro ( Araçatuba - SP)

Sou Administradora de formação, mas desde o nascimento do meu primeiro filho (são 3!) em um parto normal com intervenções descobri o mundo da humanização e não saí mais! Após o nascimento do caçula, já vindo estudando há anos sobre gestação, parto, amamentação e temas relacionados fiz as formações de Educadora Perinatal, Doula Parto, Doula Pós Parto e Facilitadora em Aleitamento Materno. Iniciei a atuação nessas áreas e de lá para cá formei com outras doulas uma equipe que hoje conta com 3 membros, a Doulare, Doulas de Araçatuba e região, que é o local em que atuamos.Instagram: @jandipinheiroInstagram Doulare: @doulareataContato: contato@doulare.com.brWhatsapp: (18) 99104-6715

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