Bebês grandes e riscos da macrossomia fetal

Compartilhe:

Trago nesse texto muito de mim. Sou mãe de um bebê grande ou GIG, (grande para idade gestacional) e, quando falamos nisso, pode-se pensar em macrossomia fetal. O meu bebê nasceu com 4,445 kg e 40 semanas, veio em um parto humanizado de cócoras e induzido.

Até chegar no dia do parto tivemos longos momentos de angustia, aflição e ameaça, tudo por conta de um  médico que me encaminhou para cesárea de “urgência” no dia seguinte  alegando diversas vezes que eu mataria meu filho, que ele TERIA uma distócia de ombro que é quando o osso do ombro do bebê fica encaixado no osso púbico da mãe caracterizando uma das emergências mais temidas do parto.

Distócia de ombro.

Durante esse período, me sentia muito confusa e apesar de já ter feito o curso de doula o sentimento era o de perder o chão. Tinha planejado um parto domiciliar e estava lutando para conseguir. Sempre ouvi no meio da humanização que: bebês grandes nascem e não é indicação real para cesárea, mas mesmo assim, não estava certa quanto aos riscos que eu estava assumindo.

Quero falar um pouquinho sobre o que as evidências científicas dizem dessa situação e ajudar as pessoas na hora de fazerem as suas escolhas.

Mãe da à luz a bebê de 6 Kg, de parto natural sem anestesia.

Riscos

Os riscos no nascimento de um bebê grande existem sim e vamos falar sobre eles ao longo do texto, porém é preciso estar certa de que nada nessa vida é zero de riscos. É preciso entender todos eles e fazer a escolha que mais faça sentido para vocês.

Quando é considerado um bebê GIG?

Até 4 kg o feto é considerado de tamanho normal. O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia considera macrossomia fetal pesos acima de 4,500 kg devido ao aumento dos riscos, porém, aqui no Brasil já se considera macrossomia acima de 4 kg.

Fatores de risco para gestação macrossômica.

Existem alguns fatores de risco, a gestante pode ter mais do que um e isso faz com que as chances de um bebê macrossômico quase dobre, isso de acordo com estudos mais recentes. O mais conhecido é a diabetes gestacional ou pré gestacional, também a obesidade ou excesso de ganho de peso durante a gravidez, multiparidade ( mulheres que tem mais de um filho), idade materna avançada, gestações anteriores com bebê grande, feto masculino, pós datismo e hereditariedade, porém, um terço dos casos continuam sem causa definida.

O estado nutricional da mãe interfere diretamente no desenvolvimento do bebê, por isso, se alimentar de forma saudável e estar ativa é muito importante, para prevenir a macrossomia e ou diabetes gestacional.

Imagens retiradas da internet.

Diabetes Gestacional

Imagem retirada do site: http://gliconline.net/diabetes-gestacional-gravidez/

Como comentei logo no início, fui pega de surpresa e não foi confirmada a diabetes, o exame de curva glicêmica está incluso no pré natal para casos que tenham fatores de risco.

Os fatores de risco incluem : idade, obesidade e história familiar de diabetes.

É uma intolerância aos carboidratos, com início ou diagnosticada na gestação, esse aumento da glicemia pode ou não permanecer após o parto.

É importante atentar para o fato de que filhos de mães diabéticas têm maior chance de desenvolver a doença o longo da vida e o desenvolvimento de obesidade

“Meu bebê era muito grande e tive que fazer uma cesárea.”

“Macrossômico flho de mãe diabética” http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2013/v41n3/a4499.pdf

Comumente, a cesárea é indicada como forma de redução dos riscos que envolvem esse parto, alguns argumentos tem fundamento, são riscos reais, mas muitos não são indicação para cesárea.  Os argumentos variam e vão desde o risco de distócia de ombro até “estragar o brinquedinho”, “sua bexiga vai cair¨, “não vai passar” e poderíamos passar o dia falando as mais diversas justificativas. A Dra Melânia Amorim fala aqui nesse post sobre as reais indicações para cesárea e já adianto, são poucas.

No Brasil em 2004 a taxa de nascidos macrossômicos foi de 5%, sendo que neste ano a taxa de parto cesáreo em recém-nascidos macrossômicos foi de 49,18%. No Estado de São Paulo, em 2004, 3,9% dos recém-nascidos vivos eram macrossômicos, destes, 64,84% nasceram de parto cesáreo.

Quais riscos envolvem

Riscos envolvendo a mãe:

  • Trabalho de parto prolongado;
  • Atonia uterina ( alteração na contração uterina);
  • Parto operatório;
  • Laceração do trato genital;
  • Ruptura uterina.

Riscos envolvendo o o bebê:

  • Distócia de ombro e ou asfixia.

Riscos envolvendo a cesariana:

  • Todos os riscos que envolvem qualquer cirurgia, pois são cortadas sete camadas até chegar ao bebê, isso significa uma grande porta para entrada de microorganismos, o que aumenta as chances de infecção;
  • Reação ao anestésico e alguns estudos falam sobre o impacto da anestesia na amamentação;
  • Tromboembolismo;
  • Aumento do uso de analgésicos;
  • Dificuldade de interação entre a mãe e o bebê na primeira hora de vida;
  • Aderências pélvicas;
  • Dor cronica;
  • Risco aumentado de hemorragia;
  • Risco de lesão dos órgãos vizinhos.
Foto retirada do site http://gravidez.online/intervalo-engravidar-pos-cesariana/

“Ele era tão grande que não passou pelo canal vaginal” – Desproporção céfalo-pélvica

É quando o bebê é grande demais para passar pela pélvis da mãe. Geralmente esse diagnóstico vem após um ultra som de 36 semanas e em seguida a indicação da cesárea. O que ocorre é que não existe a possibilidade de se fazer essa avaliação fora do trabalho de parto e antes que haja a dilatação completa.

Por tanto esse risco existe, mas não pode ser diagnosticado fora do trabalho de parto. Cesárea eletiva não é indicação da medicina baseada em evidências.

O ultra som é uma evolução da ciência e deve ser usado com cuidado, pois não é incomum seus resultados não serem precisos. Ele tem uma margem de erro para mais e para menos de  cerca de 10%.

Distócia de ombro

Essa é uma das emergências obstétricas mais temidas do parto, o risco aumenta de 5 a 9% quando o bebê tem de 4.000 a 4,500 Kg e 0,6 a 1,4%  em bebês de 2,500 a 4,000 Kg, no entanto, cerca de 50% dos casos ocorrem em bebes de peso normal. Na sua maioria está relacionado com a diabetes gestacional.

Imagem retirada do artigo: Distocia de ombro: proposta
de um novo algorítmo para conduta
em partos em posições não supinas.

A indicação de cesárea para prevenção de distócia de ombro não é eficaz já que  cerca de 3.600 cirurgias seriam feitas para a prevenção de um único caso.  Medidas intraparto preventivas como elevação dos membros inferiores e pressão suprapúbica demonstraram efeitos benéficos.

Atualmente a indicação é que todos que prestam assistência ao parto, ( médicos da família habilitados, médicos obstetras, enfermeiras obstetras e obstetrizes), sejam treinados e capacitados para o diagnostico e pronto atendimento dos casos de distócia de ombro com o objetivo de reduzir as complicações maternos e fetais.

Uma equipe preparada pode atender um parto nessas condições seguindo alguns protocolos. Converse com quem irá te atender sobre todas as possibilidades.

Como foi meu parto

O desfecho da minha história foi feliz, um parto com duração de nove horas, optamos por fazer o descolamento de membranas nas 40 semanas pois, a indicação é ou a indução nas 40 semanas ou monitoramento mais frequente, eu optei pela indução junto com a minha médica Dr Mariana Simões que atende em Campinas, eu já estava cansada e com meu psicológico muito abalado, foi uma parto tranquilo e veio com duas circulares de cordão de brinde. Como mãe não me arrependi em nenhum momento de ter feito minha escolha.

O que eu mudaria? Com certeza cuidaria da minha saúde física e mental, mas essa é a minha história e a do meu bebê e ela serve como inspiração e talvez ajudar em um direcionamento, desejo que a sua história seja de sucesso.

Fico por aqui deixando um grande abraço apertado e não esqueça que um bom pré natal é preciso e sempre que possível procure aquele profissional que trabalhe com base nas evidências, respire fundo e acredite!

Bibliografia

  1. Distocia de ombro: proposta de um novo algorítmo para conduta em partos em posições não supinas. ( http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2013/v41n3/a4499.pdf)
  2. Atonia uterina e hemorragia pós parto. ( file:///C:/Users/ketib/Desktop/BKP/RELACIONADOS%20%20parto%20amamentação%20arte%20gestacional/Portal%20Casa%20da%20Doula/Desafio%204/v21n4s6a06.pdf)
  3. Resultado perinatal na macrossomia fetal. (http://medicina.fm.usp.br/gdc/docs/revistadc_104_144-147%20863.pdf)
  4. Fatores de risco para macrossomia em recém-nascidos de uma maternidade-escola no Nordeste do Brasil. (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032009000500007)

 

 

 

 

 

Compartilhe:
Doula Ketib Kelian (SP)

Oi amadas, sou doula há 4 anos formada pela ANDO/Campinas, graduanda no curso de enfermagem e um desejo enorme de me tornar parteira, me aventuro no mundo da maternidade com dois garotinhos fofos que me ensinam muito.Meu maior sonho é que todas as mulheres tenham um assistência integral e humanizada, as que podem pagar e as que não podem.

View Comments

  • Adorei o relato. Ainda
    Fale-se pouco e sem detalhes sobre casos específicos como de bebê GIG.
    Gostaria de saber se tem mais detalhes sobre a indução do parto.

    Na próxima semana completo 39 semanas e como meu bebê também é “grande” tive essa sugestão do médico.

    • Oi Danielle, sobre a indução somente por ser um bebê grande não é uma justificativa concreta para a indução, a não ser que tenha alguma complicação associada que justifique, uma gestação saudável pode ir até 42 semanas.Beijos

  • Olá,
    Tive diabetes gestacional e completei 41 semanas. Fui internada para induzir e foi constatada falha de indução após 24h, 4 comprimidos inseridos e dilatação e contrações zero. Meu sonhado parto natural não foi aconteceu dessa vez.
    Tive um bebê macrossômico, veio com 4.825kg e 54cm. Durante o internamento, ela perdeu quase meio kg e fizemos o acompanhamento do peso na maternidade por uma semana. Agora, com 58 dias, minha bebê está com 5.620 kg e 59cm. Ela até hoje não teve o ganho de peso considerado normal para um bebê de tamanho normal, fica sempre abaixo mas o pediatra disse estar ok.... Como tem sido o desenvolvimento do seu bebê? E o ganho de peso? Não encontro nada sobre isso, nada pra me nortear..

    • Olá Marizete.
      Então o meu bebe hoje está com 5 anos e continua uma criança grande pesa 29kg, mas durante os primeiros meses ganhou bastante peso, sempre foi um bebe gordo e grande, dei preferência por acompanhar com uma pediatra que fosse favorável a livre demanda e a amamentação e segui amamentando até os dois anos e meio, mas ele sempre ficou a cima da curva esperada.

  • Adorei seu post. Super bem escrito, referências boas e seu relato pessoal nos envolve muito. E eu me identifiquei, mas o meu acabou virando cesarea.
    Bjos,

    • Oi, Aline!
      Obrigada, sinto muito por vc, mas essa é uma realidade muito mais forte do que podemos imaginar e a informação é uma arme poderosa que temos em mãos. Gratidão

  • Minha Dra. Me aconselhou a indução com 39 semanas. Estou com 36 semanas e meu bebê está com 3.400. Ainda estou apreensiva quanto ao procedimento. Comecei caminhadas e vou fazer exercícios pra ver se ele resolve vir por conta antes disto.

Recent Posts

Roda de conversa para pessoas grávidas

Buscar um parto normal humanizado pode ser bem solitário. Parece que um evento natural é…

1 ano ago

Filmes e séries para quem quer o parto normal

O parto normal é o processo mais natural e saudável para o nascimento de um…

2 anos ago

5 perfis valiosos para seguir no instagram

O parto normal é um tema que desperta muitas dúvidas e questionamentos nas gestantes e…

2 anos ago

Não foi como sonhei, mas foi tranquilo

Dia 28/01 sábado por volta as 18:30, comecei a ir ao banheiro fazer xixi e…

2 anos ago

Era meu sonho um VBAC, e consegui!

Minha dpp era 26/12, e eu já estava com consulta marcada pro dia 27 pronta…

2 anos ago

Foi o momento mais feliz da minha vida

Minhas contrações se intensificaram no dia 05/12 (sim no dia do jogo do Brasil contra…

2 anos ago