Para essa nossa conversa eu gostaria, antes de mais nada, de pedir que feche seus olhos e se lembre de todos os sentimentos experimentados por você, quando se soube grávida. E você pode ser bem sincera, porque ninguém está vendo ou ouvindo você agora. E durante a gestação, por tudo o que você já passou? O que mudou na sua vida após a gravidez?
Agora que você pensou daí e eu daqui, em tudo isso, podemos continuar.
Nesse post você vai encontrar
Certa vez, estava coordenando um grupo de mães, e ao falarmos dos sentimentos envolvidos na maternidade, uma delas disse que se sentia em um grande liquidificador de sentimentos. Pensei, desde aquela época, e continuo pensando que esta imagem é tão apropriada, que me fica impossível pensar em qualquer outra.
São tantas as mudanças fisiológicas e psíquicas, que não é possível continuar a ser, exatamente, como se era, antes dos filhos. E hoje, ao falarmos sobre a maternidade real, já aceitamos dizer que nem tudo são flores na maternagem. Mas e durante a gestação? Como ficamos, em uma sociedade que ainda romantiza e idealiza o papel da mulher grávida? E que, além dessa romantização, temos e carregamos conosco, nossas próprias expectativas em relação ao parto, amamentação e parentalidade, nossas próprias idealizações, particulares e únicas e que, muitas vezes, nos impedem de olhar para nossas sombras. O que pode acabar gerando uma frustração ainda maior quando as coisas não saem como o esperado.
O fato é que, comumente, há muito mais entre as alegrias e exaltações da gestação, do que sonha nossa vã barriga cheia de vida.
Ambivalência é um conceito que vem da psicologia, e foi cunhado por Bleuler, para falar de sentimentos opostos, que ocorrem ao mesmo tempo, por um mesmo estímulo ou pessoa. Mais claramente, falamos de amor e ódio.
Para a psicanálise, mais especificamente para Freud, a ambivalência de sentimentos, pode fazer parte de todas as relações humanas. E ao ouvirmos isso, somos capazes de aceitar que nossas relações sejam permeadas por estes sentimentos. Nos é possível pensar que, amamos nossos companheiros ou companheiras, e que, os odiamos por vezes. Nos permitimos sentir algo que, culturalmente, está relacionado à coisas negativas e ruins, a respeito de diversas pessoas em nossas vidas, mas nunca em relação aos filhos! Ainda mais aos que ainda sequer nasceram! Nunca em relação à maternidade que pressupõe um amor incondicional que nasce no momento em que nos sabemos grávidas. Como se ali, nascessemos como mães!
Quando nos ofertamos a oportunidade de dizer para nós mesmas:
“Mesmo tendo planejado tanto essa gravidez, agora não me sinto plena e feliz como todos dizem que eu deveria estar”, “às vezes me arrependo de ter querido ser mãe” ou “se eu soubesse que seria assim, eu não teria engravidado”…
…dizer para nós mesmas e aceitarmos que podemos ter sentimentos não prazerosos na gestação. Que podemos não nos sentir plenas. Que podemos descobrir (já grávidas) que a gravidez não é como achávamos que seria, a culpa que poderia existir decorrente do não falar sobre esses sentimentos, pode ser trabalhada e entendida como um dado cultural talvez, que nos exige sermos de um jeito que não corresponde à nossa realidade. Tem aquelas que se sentem plenas e completamente felizes e sem dúvidas na gestação? Sim! Mas as que não se sentem assim, podem ser mais numerosas do que o que você pensa. E saber que está tudo bem duvidar de si mesma, ter momentos de arrependimento, de medo, de raiva, de ódio por não poder controlar os processos naturais do seu corpo, e sentir que está liberada para vivenciar tudo isso, pode ser libertador e muito, muito empoderador! Então, liberte-se, fale com quem quiser sobre seus sentimentos e viva sua gestação com menos culpa, porque está tudo bem, e porque, no fim das contas, os sentimentos que você não gosta de sentir também são seus e fazem parte de quem você é e da mãe que é ou será.
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