A dor do Parto

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Parir dói, e isso é fato. Mas por que isso acontece? Como Suportar?

Sentir dor e ter medo da dor são coisas completamente distintas. Normalmente temos medo daquilo que não conhecemos, do incontrolável, por isso a convido a esta leitura, para que desmistifique essa questão.

A dor do parto é uma dor muito sábia, que nos ensina instintivamente o que fazer, serve para nos alertar de que chegou a hora do bebê nascer, de que precisamos de um lugar seguro e de pessoas confiáveis ao nosso lado, caso contrário, correríamos sérios riscos, pois poderíamos ter o bebê em qualquer lugar, já que ele nasceria sem que sentíssemos absolutamente qualquer sinal que pudesse nos alertar.

Portanto é o momento das mulheres reverem seus conceitos sobre a dor do parto. É preciso encara-lá como uma aliada.

Minha intenção é contribuir para desfazer mitos que envolvem a dor do parto e quem sabe ajudar mais mulheres a se fortalecerem para viver esta experiência com mais consciência e de forma mais prazerosa.

Para isso compartilho minha experiência como doula e também minha vivência como mulher que viveu um parto natural, sem anestesia.

Viver a experiência do parto tendo ele como conhecido e com uma assistência adequada é uma oportunidade ímpar de nos desenvolvermos, de nos redescobrirmos, de vermos o quanto somos fortes. 

Dor do parto e o medo

Crédito: Blog Grão de gente

Antes de mais nada vamos falar sobre a dor do parto: A dor é uma sensação desagradável, produzida pela excitação de terminações nervosas, e sua intensidade será sentida de forma individual, podendo até mesmo ser percebida de forma diferente pela mesma mulher em diferentes partos. Esta sensação da dor é sentida no corpo, apenas nos picos das contrações que vem e vão, dando intervalos sem dor alguma entre uma contração e outra. É uma percepção real e presente para a grande maioria das mulheres no momento do parto.

O medo da dor, entretanto, é um processo mental e que acontece independente da dor real que acontece no corpo. Ela acontece na mente e carrega memória, ansiedade, crenças que nos assustam e limitam. Pode assombrar uma mulher por toda a gestação sem nem mesmo ser sentida em momento algum. Pode ser vista como uma inimiga, fortalecendo a falsa auto percepção da mulher como frágil e incapaz de suportar o parto.

Entender que a dor nada mais é que um sinal de que a fisiologia está acontecendo e seu corpo está saudável e se abrindo para dar luz a um novo ser humano, torna o processo grandioso e intenso e ajuda a enfrentar todos esses medos em nós escondidos.

A dor do parto só é sinal de que algo está errado se ela for contínua e não cessar nem mesmo nos intervalos das contrações. Fora isso é apenas um sinal de que a fisiologia está funcionando e seu corpo se abrindo para o bebê nascer.

Quando e como a dor acontece?

O que traz o estímulo que pode ser percebido como doloroso é a contração do útero. O útero é como um saco de músculo com uma pequena abertura embaixo chamada colo de útero. É o colo que precisa se abrir e dilata até 10 cm para que o bebê possa descer pelo canal vaginal e depois nascer.

A contração do útero é um ato involuntário provocado pela nossa liberação hormonal e que vai fazer com que as fibras musculares do útero se contraiam abrindo a parte debaixo (colo) e ao mesmo tempo empurrando a cabeça do bebê para baixo. Nas contrações também são encurtados diversos ligamentos que prendem o útero a pelve, favorecendo a abertura da pelve para a passagem do bebê. Para um bebê nascer é preciso várias contrações eficazes em sua duração e intensidade, para que o colo do útero e pelve se abram para o bebê passar.

A percepção de dor é crescente e o corpo se adapta a cada etapa, liberando mais endorfinas e outros hormônios que nos permitem aceitar o processo. Começa como uma cólica menstrual e vai gradualmente aumentando durante o trabalho de parto. Vem um patamar de dor, o corpo se acostuma até ficar bem suportável, logo vem um novo patamar mais alto e o corpo se acostuma e assim por diante.

É diferente de tudo o que você já viveu, além disso a percepção da dor varia de mulher para mulher e esquecemos dela pouco depois do parto, portanto é difícil de descrevê-la.

Mas podemos dizer que no início ela é semelhante a uma cólica menstrual não muito forte, localizado no baixo ventre que se intensifica com o desenvolvimento do parto. Depois pode se localizar também na região lombar, trazendo uma sensação de repuxar para frente do corpo. No final a sensação é de uma pressão forte para baixo, abrindo a porção inferior dos quadris.

O que torna o parto excessivamente dolorido: receber intervenções para acelerar o parto como ocitocina sintética ou misoprostol, estar sozinha, sofrer violência obstétrica, medo e tensão também contribuem para aumentar a percepção da dor e ela se transformar em sofrimento.

Qual momento dói mais?

Quem nunca viveu um parto certamente vai imaginar que o momento mais dolorido é o momento em que a cabeça do bebê está passando pelo final do canal vaginal, pelo períneo, portanto nascendo de fato. Quem já viveu um parto pode dizer, sem sombra de dúvidas, que o momento mais exigente do parto é o final da dilatação do colo de útero, entre os 7 e os 10 cm de dilatação, também chamado como “fase de transição” ou a “hora da covardia” (que diga-se de passagem de covardia não temos nada, pois já chegamos até aqui com muita coragem rs). Esta fase precede a fase expulsiva e envolve uma descarga grande de adrenalina e altíssima liberação de endorfinas. No final da fase de transição vem a vontade instintiva de fazer os puxos (ou como muitas dizem, vontade de fazer cocô) e ao fazê-los percebemos que a dor fica absolutamente controlável, que dói menos, justamente porque ajudamos o bebê a nascer. Pode ser até mesmo prazeroso o momento do expulsivo.

Crédito: Selena RollasonPhotographer Educator & Doula

Preparar-se para o parto, conhecendo como ele acontece, o que você vai sentir, o local de parto e se possível a equipe é uma forma eficaz de reduzir o medo e a ansiedade, minimizando a sensação de dor.

O papel da Doula

Na minha experiência parindo e com os diversos relatos que vejo e compartilho com minhas colegas Doulas, é que existe um momento do parto onde a mulher que “sofre o parto” precisa “virar a chave”, abandonar o lugar da vítima e assumir a posição de mulher guerreira, autora do ato de parir. Neste momento ela entende que ninguém poderá fazer o parto normal por ela, então ela assume o parto para si, coloca-se numa postura ativa e pode parir com garra e confiança. Virada a chave, o parto é dela! E ninguém a tira deste lugar de excelência.

Existem várias técnicas naturais de alívio para a dor do parto que ajudam a mulher a lidar com ela, vivendo apenas o fisiológico e evitando que entre na dor do sofrimento. São conhecidas como “métodos não farmacológicos de alívio da dor” e seus benefícios são comprovados por evidências científicas consistentes. Ter, por exemplo, uma doula que entenda e possa oferecer um suporte contínuo emocional e aplicar técnicas de alívio da dor naturais é um dos métodos mais comprovados, justamente porque o parto acontece no campo das emoções e da mente, além do corpo.

Eu acredito no potencial da mulher e a ajudo a virar a chave. Muitas vezes virar esta chave pode ser um processo difícil pelo momento de vida da mulher em seu mundo interno, pelos limites da assistência que não a apoiam de forma sensível ou até mesmo por um bebê mal posicionado na pelve. Nestes casos o recurso da anestesia farmacológica no parto pode ser uma grande aliada no processo, permitindo que a mulher descanse, diminua o stress causado pela dor e sofrimento excessivos, e retome o ato de parir com mais tranquilidade.

É essencial que a mulher que vá viver o parto saiba durante a gestação quais os recursos que ela tem para lidar com a dor, conheça e tenha quem ofereça a ela no momento do parto os recursos não farmacológicos e entenda os prós e contras da analgesia farmacológica.

Referências:

A Doula no Parto – Autora Fadynha, Ed. Ground, 3° edição, São Paulo, 2016

As dores do parto. Reflexões psicopatológicas em torno da angústia e do narcisismo primitivo – http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71282014000100005

Diretrizes Nacionais de assistência ao Parto Normal – http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf

OMS emite recomendações para estabelecer padrão de cuidado para mulheres grávidas e reduzir intervenções médicas desnecessárias – https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5596:oms-emite-recomendacoes-para-estabelecer-padrao-de-cuidado-para-mulheres-gravidas-e-reduzir-intervencoes-medicas-desnecessarias&Itemid=820

Controle da dor – http://www.sepacoautogestao.org.br/home/dicas-de-saude/gestantes/controle-da-dor-metodos-nao-farmacologico/

 

 

 

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Doula Pâmela Amaral (São Paulo-SP)

Administradora por formação, mãe e Doula (com muito amor). Desde o nascimento do meu filho me apaixonei pelo universo da gestação e do parto. O Henrique veio ao mundo de forma natural e muito respeitosa e saber que muitas mulheres desconhecem seu potencial ou não são respeitadas no seu parto me fez estudar ainda mais para ajudá-las.Me formei em Doula de parto (2019) e consultora em aleitamento materno, meu trabalho é levar informações de qualidade para as gestantes, para que possam fazer escolhas conscientes e terem um parto com respeito e empoderamento. Ofereço consulta individualizada e personalizada para cada gestante, conforme suas necessidades, acompanho parto e pós parto.Ser doula me dá a oportunidade de cuidar, acolher e oferecer suporte para nascimentos felizes e pós-partos transformadores.Cidade de atuação: São Paulo-SP.Instagram: @doulapamamaralContato: Whatsapp: (11) 976650698 / e-mail pam_doulasp@outlook.com

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