Eu sou a Selma, tenho 24 anos, sou mãe da Maria Eduarda (Madu) de quatro Anos e sou a filha caçula do terceiro casamento do meu pai, somos ao todo em seis irmãos, cresci com a minha mãe contanto o quanto o nascimento das suas duas filhas foi bom, o quanto foi tranqüilo receber a noticia do médico que seu bebê “já está maduro” e poderia ser tirado do útero através de uma “cesariana segura” segundo o seu medico, a indicação para uma nova cesárea seria o fato de ela ter uma cesárea anterior. Cresci mais um pouco e na adolescência acompanhei de perto a gestação da minha irmã, que por medo da dor do parto normal agendou uma cesárea para quando completasse nove meses de gestação, e no auge dos meus 15 anos achei magnífico você poder escolher a data do aniversário do seu filho ( apesar que nessa situação especifica minha irmã optou por agendar uns dias antes do que gostaria pois logo em seguida seria feriado prolongado e o valor para o parto nessas datas dobra ) e ainda por cima “não sentir dor” , ah! Aquela dor do parto, aquela dor que todos dizem ser terrível, afinal de contas dor é sofrimento, então por que alguém escolheria por um parto normal?
Nesse post você vai encontrar
Aos 19 anos engravidei, uma gravidez nem um pouco planejada, mas apesar do susto inicial eu já tinha um plano, na verdade desde muito pequena, criança ainda, sonhava em ser mãe e com toda a historia familiar pra mim o plano era muito claro! Gostaria de ter três filhos ambos nascidos de uma cesariana agendada. Com oito semanas de gestação fui fazer minha primeira consulta com o ginecologista obstetra que tinha feito a cesárea da minha irmã e por ser muito bem conceituado na minha região eu tinha a certeza que eu iria ter minha filha com ele, durante a consulta conversa vai e conversa vem, perguntei para ele sobre as opções de parto e ele me explicou que o parto normal era muito doloroso e demorado e muito imprevisível, nesse ponto questionei o uso da analgesia durante o parto normal e ele respondeu que só poderia ser usada com oito cm de dilatação ou mais e que às vezes ela não faz efeito e complementou dizendo que por outro lado a cesárea era extremamente segura, indolor e prática, nesse ponto da conversa eu já estava convencida que a cesárea era a melhor opção, mas uma frase que ele disse em seguida fez toda a historia mudar, após eu dizer que gostaria de marcar a cesárea para a 37ª semana de gestação ele exclamou:
– Ainda bem que você optou pela cesárea, pois com a sua idade e uma bacia tão estreita você não conseguiria um parto normal!
Sai do consultório e na minha cabeça os únicos pensamentos que vinham eram “quem ele pensa que é pra dizer o que eu conseguiria ou não?” , “ele nunca pariu como ele sabe que é tão difícil ?” , “ olha o tamanho do meu quadril como ele pode achar que isso é estreito?”.
Chegando em casa a primeira coisa que fiz foi começar a pesquisar sobre o parto normal e a primeira informação que consegui foi que ele não aconteceria sem o soro de ocitocina, episiotomia e manobra de kristeller, e eu me vi sem escolhas e totalmente perdida.
Resolvi esquecer o parto, eu não via escolha então resolvi ignorar o fato de que ele ia acontecer eu querendo ou não, o tempo foi passando e com 30 semanas acidentalmente encontrei um blog de uma doula (palavra que até o momento eu nunca tinha ouvido falar) e comecei a ler um post atrás do outro e quando percebi estava escrevendo um e-mail contando sobre a minha historia e o meu desespero, ela muito gentilmente me respondeu e me indicou uma doula na minha região, mas que depressa escrevi pra ela e ela tirou minhas duvidas, me indicou vários matérias para leitura e vários vídeos, entre esses vídeos um foi muito especial, um vídeo da Naoli parindo lindamente na casa dela e na companhia dos filhos mais velhos, era isso! Eu queria um parto domiciliar, nas semanas seguintes minha doula me ajudou a encontrar a equipe de parto domiciliar e foi quando eu contei minha decisão para a família e é claro que foi aquele “auê”, minha mãe e minha sogra tentavam se manter neutras , o restante dos familiares me achavam louca e meu marido não se sentia nenhum pouco seguro com essa opção, assim mesmo “aos trancos e barrancos” decidi que nada me faria mudar de ideia e com 36 semanas de gestação fui conhecer a equipe pessoalmente e com 39 semanas e 5 dias tive um parto domiciliar super respeitoso do jeito que eu sonhava, e mais que isso, com esse parto eu aprendi na pele que dor não é sinônimo de sofrimento, que o parto normal é muito diferente do que a maioria das pessoas tem, que varias intervenções não são “normais”, foram exatamente 6 horas e quinze minutos de trabalho de parto e parto, foi intenso, foi dolorido mas em nenhum momento foi sofrido, em todo momento eu me senti segura e acolhida, a equipe monitorava o meu bem estar e o da bebê mas quem comandava toda aquela “dança” éramos eu e minha filha, o parto foi exclusivamente meu .
No puerpério ouvindo os relatos dos partos das minhas amigas percebi que nenhuma delas teve uma experiência boa com o parto e quando eu contava a minha elas acreditavam que um parto sem sofrimento era impossível de acontecer, foi nascendo ai um sentimento de impotência por não poder fazer nada a respeito, aquela voz dizendo que eu precisava fazer alguma coisa não parava de ecoar pela minha cabeça, decidi fazer um curso técnico de enfermagem e por duas vezes desisti quando percebi que na área obstétrica o que era ensinado nesse curso fugia completamente das informações baseadas em evidencias e a violência obstétrica era ensinada e incentivada, dois anos depois acompanhei o parto da minha amiga de infância no hospital de referencia da minha região e foi um parto induzido no momento errado (36 semanas de gestação), do jeito errado e com todo o “combo” de violência obstétrica possível e com isso o desejo de ser doula e poder ajudar essas mulheres a buscarem informação e ter um parto respeitoso só aumentava, mas o curso era em outra cidade e minha filha era muito pequena então no momento não era opção, o tempo passou e eu continuei estudando e me atualizando sobre o que acontecia no Brasil em relação a humanização do parto, minha filha foi crescendo e quando ela fez 4 anos surgiu a oportunidade de fazer o curso de doula em santos pelo GAMA (grupo de apoio a maternidade ativa), agora sou oficialmente doula sei que tenho um longo caminho pela frente, sei que na minha região a humanização do sistema obstétrico ainda está muito longe de acontecer mas também sei que para acontecer alguma coisa temos que dar o primeiro passo e aos poucos todas juntas poderemos fazer alguma diferença.
Eu atendo e moro no Vale do Ribeira aonde além de atuar como doula, participo e promovo rodas de gestantes e atuo também na baixada santista, se quiser me conhecer um pouco mais logo a baixo você encontra os meus contatos
Whatsapp – (13) 98144-4229
E-mail – selmaforati.doula@gmail.com
Instagram – @selmaforatidoula
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Adorei Sel. Participar de forma tão positiva desse momento tão especial na vida de uma mulher deve ser maravilhoso. Parabéns maninha, pela profissão e pela estreia nesse blog que deve ajudar muita gente (com boa informação) nos momentos que mais precisam.
obrigada Ju <3