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Perda gestacional e a dor do luto silenciado

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A perda gestacional e o luto perinatal se referem à morte de um filho, durante a gestação, o parto e a primeira semana de vida do bebê.

Cada um de nós tem um tempo de vida e o mais importante nesse processo, é saber que somos únicos e insubstituíveis. Pois a grande certeza que temos é que um dia iremos morrer. Independente da sua crença, a vida humana é finita.

Quando se escuta que uma mulher passou por uma perda gestacional, ou que seu bebê faleceu logo após o parto, poucas pessoas conseguem acolher a dor do luto.

Fonte: Pixabay

O significado da palavra luto é:

  • “Sentimento de profunda tristeza pela morte de alguém”.
  • ”Amargura, desgosto”.

Lidar com a morte, pode ser uma experiência dolorosa, mas é importante humanizar esse momento.

O luto perinatal e o aborto infelizmente são perdas que tendem a ser ignoradas ou silenciadas pelas pessoas ao redor, costumam ser colocado na categoria dos lutos não autorizados. Conhecidos também pelo luto silenciado.

As perdas gestacionais e perinatais acontecem por diversos fatores e, mesmo que não sejam muito faladas, é comum que ocorram principalmente na primeira gestação.

No núcleo familiar existem desafios para quem vive as fases do luto, e é preciso que os profissionais da área da saúde sejam treinados para lidar com esses casos.

Quando um bebê morre ainda dentro do ventre materno, os pais recebem a noticia no momento do ultrassom. Logo em seguida os progenitores são deixados sozinhos e é nesse momento onde mais é preciso apoio e escuta.

Acervo pessoal

Depois que se recebe a notícia de um óbito, na maioria dos casos, a mulher pode escolher sobre a via de nascimento. Pode se aguardar o corpo expelir todo o conteúdo intrauterino (em casos de aborto espontâneo), realizar uma indução de parto normal ou por via cirúrgica (cesárea); em algumas situações especificas é preciso ser feita a curetagem (procedimento realizado em centro cirúrgico, que consiste em retirar todo o material genético do útero)

Uma equipe que respeita o processo irá discutir com essa mulher qual o seu desejo e respeita-la enquanto for seguro para a mãe, seja física ou emocionalmente. Após o nascimento desse bebê é direito à escolha do contato da família com o bebê ou não.

Não existe certo ou errado.

Inclusive é escolha dessa mulher se deseja doar o leite materno que seu corpo irá produzir ou vai optar por tomar alguma medicação para secar seu leite e enfaixar o seu corpo. É preciso principalmente nesses casos, orientar a mulher e assim favorecer a uma escolha consciente.

O desfecho desse processo merece ser tratado com respeito, cercado de amor e apoio. Infelizmente ainda não existe um trabalho de conscientização da sociedade sobre a morte perinatal e a perda gestacional. São tidos como assuntos tabus, muitas vezes a mãe é medicada em excesso com remédios que a impedem de vivenciar o seu luto, retardando o processo. O mais comum é ouvir comentários inadequados, como sugerir que logo acontecerá uma nova gestação, ou que talvez assim tenha sido melhor. Não enxergam que ali resta o colo, para um filho que se despediu precocemente.

Foto: Mateus Marx

Como superar o luto

Não existe o melhor modo de superar o luto, mas têm uma maneira de criar memórias que reúnam coisas da vinda daquele bebê. Como por exemplo, uma caixa de lembranças.

Nela pode conter objetos simbólicos que comprovem o luto e confortem a dor, como uma mecha de cabelo, carimbo feito com as mãos e pés, uma ultrassonografia, a pulseira de identificação, a primeira roupa do bebê e até uma foto. Em alguns casos a família pode preferir não ter contato com essa caixa imediatamente, mas algum familiar ou a doula, podem guardar e entregar após um tempo quando for o desejo dos pais.

Pode ser feita também uma cerimonia de despedida, porque em alguns casos não é possível ser feito o funeral ou o enterro.

Fonte: Canva

Cada um terá o seu tempo para elaborar o luto, respeitar as etapas e se abrir para entrar em contato com as emoções.

Quando existe a presença de uma doula, que acompanhou a trajetória ou após o processo acolheu essa família, o fortalecimento e o suporte nesse período é algo construído e que desconstrói os medos e sentimentos de culpa. Inclusive uma doula poderá te colocar em grupos de apoio, para ter contato com outras mulheres que viveram experiências parecidas e de fato entendem  a sua dor.

O luto não precisa e nem deve ser um processo solitário.

Se quiser conversar, eu estou aqui para te ouvir e acolher!

Saiba mais sobre o assunto com os estudos científicos abaixo.

Referências

Aborto e saúde pública no Brasil

https://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2007000900001&l

Luto insólito, desmentido e trauma: clínica psicanalítica com mães de bebês

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-47142007000400004&script=sci_arttext

 

 

 

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Doula Mariana Lopes (Pindamonhangaba - SP)

Sou mãe de 3 filhos, assessora em babywearing e Doula (desde 2018).Foi na gestação do meu último filho em 2016, que conheci a humanização e quando meu olhar para maternidade mudou completamente. Após passar por duas cesarianas desnecessárias eu planejei um parto domiciliar, porém Enzo nasceu em uma cesariana intraparto, onde sofri muitas violências obstétricas numa maternidade do SUS após minha transferência.  Depois de vivenciar esse processo tão intenso tive certeza que ser doula era uma missão de vida para mim.Eu acredito que toda mulher deve ter acesso a informação, para que faça escolhas conscientes e vivencie um parto e nascimentos respeitosos.  Trabalho com palestras para mulheres e casais, acompanhamento na gestação, parto, e pós parto e ofereço suporte á amamentação.Cidades de atuação: Pindamonhangaba e demais cidades do Vale do Paraíba e Litoral Norte.Instagram: @marianalopesdoulaContato: mariana.molopes@gmail.com

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