Sabe quando você quer um parto normal, mas parece que o mundo ao redor te acha doida? Passei por isso. Quando me apresentei aqui no blog em 2018, falei um pouco sobre minhas maternidades: duas gestações, uma cesárea, um parto natural domiciliar e meu encontro como doula.
A parte que faltou contar foi o oceano de gente incomodada desde a minha primeira gravidez com meu desejo em ter parto normal e como atravessei ele.
Nesse post você vai encontrar
Na primeira gravidez, eu já sabia que ter um parto normal sem intervenção seria algo difícil. Parecia que era eu contra o mundo – a louca chata que queria “parir feito índia”. Então, a sorte me sorriu: faria o pré-natal e parto normal com o obstetra que “fez” os sete partos normais da minha sogra. Médico da família há mais de vinte anos! Me sentia segura quando a gente falava sobre parto normal e ele dizia com confiança: “Mais pra frente a gente fala nisso“, “ainda é cedo“, “se estiver tudo bem, com certeza…”
Até que cheguei a 37ª semana de gestação.
“É que está vindo um feriado aí, né? E eu vou viajar, e toda minha equipe também. E você pode entrar em trabalho de parto, passar horas e horas sofrendo, ser atendida por um plantonista mau humorado e no final ir pra faca. Né melhor marcar logo?”
Nesse dia minha mãe e minha avó estavam comigo no consultório. Mulheres que passaram por situações distintas, mas difíceis: Minha mãe teve duas cesáreas após tentar partos normais onde foi abandonada pelo obstetra, atendida pelo plantonista, passou horas sofrendo e no final foi para a faca, e minha avó, com três partos normais regados a cortes, empurrões, abandono e descaso.
Eu levei um caldo da-que-les e fui levada pela correnteza.
Ele pegou na ferida e apertou forte no “dia mais feliz da vida”.
Minha história não é nova: é só o retrato da maré que mulheres que querem parto normal se encontram no nosso país. De um lado, cesárea a torto e a direita, sem indicação com base na saúde da mãe e do bebê, de outro, partos normais com intervenções e grosserias a direita e a torto.
No Brasil, 55% de todos os nascimentos são por cesárea. Na rede privada de saúde a taxa chega aos 85% fácil.
Mesmo com a Organização Mundial de Saúde dizendo que essa taxa deveria estar em 15% e existindo de fato um grande movimento contrário a essa epidemia cirúrgica (ressaltando contra a epidemia e não contra a cirurgia em si), a mudança vem de ré em um cavalo manco.
Para ilustrar, quase dez anos após minha cesárea eletiva, em plenos 2016/2017, eu enfrentei o mesmo mar revolto contrário ao nascer normal.
Depois do nascimento de Caico, passei muito tempo mal com a situação: uma experiência que me foi roubada. Nem entrar em trabalho de parto eu entrei! Meu filho não mamou na primeira hora de vida. Fiquei mais de 12 horas em jejum. Eu não senti meu coração transbordar de amor na hora que o vi. Foi especial, lógico, ele nasceu, mas… Faltou algo. E eu me culpei por tudo o que senti e, principalmente, pelo que não senti.
Na gravidez de Murilo eu tomei outro rumo. Eu sabia que era minha chance de ouro e eu estava decidida:
Quando eu lutava e dizia que queria o parto normal as pessoas ouviam que eu jamais faria uma cesárea. E não era esse o ponto.
Se esforçar e ir atrás de um parto natural, lutar contra a maré, é se posicionar junto ao que é benéfico para a mulher e para o bebê. E se houver necessidade de uma cesárea ( com verdadeiras indicações), recorrer a ela.
Desejar um parto normal fazia as pessoas olharem para mim como “a louca que queria parir como índia” e eu achava uma pena!
Pena não enxergarem como eu estava bem: segura sobre a gestação, sobre os sinais do trabalho de parto, as possíveis indicações de cesárea, o que fazer se a bolsa estourasse antes das contrações e até quando eu estava disposta a esperar sem intervenções para estimular o trabalho de parto.
E valeu a pena tudo o que fiz, não porque tive meu parto natural domiciliar, mas pelo caminho que trilhei. Eu tinha os planos A, B e C. E se a cesárea viesse? Eu estaria preparada!
A via de nascimento em si não é algo doloroso. Doloroso é querer uma via de nascimento e não poder escolher de verdade.
Com meu caçula de 04 meses no braço, eu me tornei doula em 2017 e entrei nesse mar turbulento para dar a mão a outras mulheres que desejam passar pelo parto normal.
A doula é uma profissional capacitada para dar suporte informacional, físico e emocional para a mulher desde a gestação até o pós-parto – tornando a experiência mais positiva.
Já é sabido que ter uma doula é benéfico para a mãe e para o bebê, aumentando a probabilidade de se ter um parto normal, com menor intervenções e uso de medicamentos, e diminuição da duração total do tempo do trabalho de parto. Para o bebê, Score de Apgar superior da 8 (entenda o que é aqui) e o aconchego do seio materno, com maior chance de se aproveitar a Hora de Ouro.
Ainda, a atuação da doula se estende com benefícios ao pós-parto, com menor incidência de depressão pós-parto e dificuldade com o aleitamento, por exemplo.
Ter uma doula não garante um parto normal ou uma assistência de saúde adequada, mas ajuda a seguir um caminho mais favorável. Quem faz a diferença nesse caminho é a mulher.
E eu? Eu caminho com meu trabalho presencial aqui em Recife, tentando disseminar informações de qualidade para gestantes e as pessoas que a apoiam.
Pensando nisso, criei a Roda Itinerante – uma roda de conversa para grávidas e acompanhantes que acontece cada vez em um lugar diferente de Recife. Junto a minha parceira de profissão e amiga, Itamisse, realizamos a roda mensalmente e de forma gratuita. O objetivo é que as famílias tenham um espaço de acolhimento para tirar suas dúvidas, compartilhar experiências e com acesso a informações de qualidade de forma simples.
Essa roda é aberta ao público em geral, não é pré-requisito ser minha cliente – apesar delas a frequentarem também. O foco mesmo é empoderar gestantes e acompanhantes, informá-los e, se eles desejarem, seguir lado a lado na recepção de suas crianças.
Sem medo. Sem culpa. Com segurança, afeto e confiança.
Para quem quiser conhecer mais sobre meu trabalho, estou no Facebook (aqui) e no Instragram (aqui).
Para quem quiser chegar numa Roda Itinerante, se liga que a de Janeiro será no próximo sábado (19.01.19).
Referências Bibliográficas:
Alta taxa de cesáreas no Brasil é tema de audiência pública ( leia aqui)
Declaração da OMS sobre taxas de cesáreas ( leia aqui)
Evidências qualitativas sobre o acompanhamento por doulas no trabalho de parto e no parto ( leia aqui)
Apoio contínuo para mulheres durante o parto ( leia aqui)
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