Na complexidade de tudo o que somos, tem dentro o tudo que vivemos e já fomos um dia lá atrás. E como fui me transformando de atriz e cineasta, para psicóloga e doula tem, no caminho, um pote mágico cheio de vivências intensas e desconstruções. Não é fácil encontrar um ofício, que não é como qualquer trabalho, porque é um trabalho que tem tons de predestinação, de paixão e de profundo saber-se aquilo que se faz. Eu posso me dizer alguém que tem a sorte de ter encontrado alguns. E é essa trajetória que quero compartilhar aqui com vocês.
Nesse post você vai encontrar
Sempre fui artista. Trabalho com arte desde os meus 12 anos. A dança, a música e o teatro sempre fizeram parte da minha vida em um lugar de essencial mesmo. No entanto, ao me profissionalizar, e fazer da arte um trabalho, fui me dando conta do quanto a arte é sagrada para mim e se encaixa em uma dimensão curativa e terapêutica. E foi então, que deixei de trabalhar como artista, pois as necessidades sociais e financeiras colocaram a meu fazer, em um lugar no qual ele não podia mais ser, nem curativo, nem sagrado. E me entendi como alguém que queria ajudar outras pessoas, sobretudo a compreender estas dimensões especiais da arte e de si mesmo. Me voltei para minha segunda opção lá de trás, da época do vestibular, e a psicologia entrou na minha vida junto com uma pós- graduação em arteterapia. E neste novo caminhar, este ano completo 10 anos de carreira como arteterapeuta e 8 anos como psicóloga.
Quase no final da graduação em psicologia, e apesar de uma imensa falta de desejo em ser mãe, porque já intuía que a maternidade muito te dá, mas muito te tira. Que não querendo perder nada do que achava que tinha, engravidei do meu primeiro filho. Ali, naquele exame de farmácia, toda minha vida passou diante meus olhos e soube, que como boa sagitariana, uma enorme jornada, eu estava prestes a empreender, porque sou assim me jogar de cabeça, e porque a parentalidade parece mesmo uma profunda e misteriosa lagoa, daquelas que nos bota medo, mas nos chama para um gelado e transformador mergulho.
Sem informação alguma sobre gestação e parto, sentido uma ingenuidade descabida, foi que caí no conto do obstetra fofo porém tosco, e acabei numa cesárea eletiva. E assim, no clima de puerpério e de desconfiança de que havia sido enganada, comecei a ler e pesquisar sobre os aspectos fisiológicos da gravidez e do parto. Na época, queria crer que minha busca tinha um fim unicamente profissional, visto que meu interesse na maternidade e na relação entre mães e bebês já existia, e era um assunto que me interessava tanto, que me fazia rubrar a face e brilhar os olhos com um discreto sorriso de canto de boca.
E a doulagem entrou na minha vida, assim como quem nada queria, bem de mansinho, com a desculpa de ser mais conhecimento para atender gestantes no consultório, e pronto! Se instalou em meu coração no momento em que acompanhei o primeiro parto, assim só para entender como se dava a tal cena de um parir.
A partir daí, minha vida mudou tão drasticamente que, olhando para trás, fica até difícil contabilizar e racionalizar. A doulagem trouxe para minha vida, a humanização, que trouxe o feminismo, que me trouxe força para finalizar um relacionamento abusivo e, finalmente, voar profissionalmente, experimentando uma liberdade que desconhecia e uma maternagem para meu filho que me fazia sentido. A doulagem me trouxe amigos, uma nova família lotada de mulheres excepcionais que me mostraram que tudo é possível. Eu experimentei tantas cenas intimas e grandiosas de tantas famílias, que toda essa grandeza só me fortaleceu e continua fortalecendo. Me trouxe a possibilidade de sonhar com um parto, com uma nova gestação, me trouxe resiliência para lidar com uma segunda cesárea, desta vez intraparto e extremamente bem indicada e necessária. A doulagem me impulsionou dentro da psicologia, me trazendo desejo de me aprofundar cada vez mais dentro do universo de uma mulher que se torna mãe, me levou à pós de Psicologia Perinatal e Parental e, finalmente, me levou ao lugar de concluir que nenhuma das nossas escolhas profissionais, são apenas profissionais. Hoje sei que tenho uma vocação sim, tendo encontrado um lugar para a arte dentro do que faço, e um lugar para o desejo de ajudar outras pessoas. Um caminho de vida, entendendo que é um ciclo lindo este de ajudar a crescer e crescer junto!
A doulagem, por fim, me trouxe até mim mesma. De onde nunca mais sairei!
CASTELO, Camila Cristina Saraiva. A doulagem como um “divisor de águas”: uma etnografia do Curso de Formação de Doulas e Educadoras Perinatais da Matriusca. 2016. 98 f., il. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Ciências Sociais)—Universidade de Brasília, Brasília, 2016. http://www.bdm.unb.br/handle/10483/16590
MALDONADO, Maria Tereza. Psicologia da Gravidez. São Paulo, Idéias & Letras, 2017.
URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia: a transformação pessoal pelas imagens. Rio de Janeiro, Wak, 2008.
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Que linda sua história!
Te admiro cada dia mais!
❤️
Ah querida,
gratidão! É totalmente recíproco!!!
Chorei de emoção com cada palavra sua! Te amo de toda alma... Não imagino você trabalhando com outra coisa... Foi mais q essencial no parto da minha filha! Obrigada todos os dias por ser quem você é!
Que emoção te ler também!Gratidão minha querida. Seu parto foi lindo demais, você é uma mulher extremamente forte!
Erika que trabalho fantástico este de vocês aqui, adorei. Parabéns aos idealizadores!
Seus textos são ótimos, uma leitura gostosa, com muita sutileza. Quero ler depois dos outros profissionais também. Vou acompanhar vocês.
Gratidão Kátia! Leia sim, tem muita gente fera por aqui e conteúdo excelente!
Que texto lindo. Mergulhei no seu universo tão rico e potente. Obrigada por ser quem é.
Teu caminho é muito bonito de ver.❤️
Eu que agradeço por ter compartilhado comigo o nascimento do Gabriel. Foi lindo!