Me tornar doula faz parte de uma jornada de auto- empoderamento que começou antes mesmo de eu me tornar mãe. Eu tinha o desejo de trabalhar em algo que ajudasse as pessoas, que mudasse a vida dela de alguma forma. Eu cursava Letras e iria me tornar professora. Mas estava em crise em relação a essa profissão que, hoje, enfrenta diversos problemas e é bastante desvalorizada. Quando ouvi a palavra doula e o que significava pela primeira vez e vi que eram mulheres ajudando outras mulheres, senti muita vontade de fazer aquilo!
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Nesse período em que eu estava prestes a me formar e em crise em relação à minha profissão, engravidei. Eu tinha 23 anos, já estava casada há dois anos e sonhava muito em ser mãe. A gravidez de Vladimir foi um momento muito especial na minha vida. Me sentia muito conectada ao meu bebê. Eu não queria uma cesárea, pois tinha tido o exemplo da minha mãe que teve 6 partos normais. Mas ainda estava insegura por causa dos mitos acerca desse tema. Só de imaginar uma cabeça passando pela minha vagina eu morria de medo!!!Rsrsrs!!!Por isso comecei a ler tudo sobre parto, ver vídeos de parto humanizado e participar de grupos de parto online e presencial.
Após muita leitura, pesquisa e uma intensa partilha de informações entre mulheres nos grupos de gestantes presenciais, perdi o medo da dor do parto e optei por ter um parto domiciliar. Vladimir nasceu em um parto domiciliar planejado com a equipe do Sofia Feldman, na banqueta de parto, embaixo do chuveiro, sem nenhuma intercorrência, após 12 horas de parto. Tive o acompanhamento de uma doula maravilhosa que foi peça fundamental na construção do meu parto e me ajudou a passar pelas contrações. A serenidade no olhar dela me acolheu e me deu forças para encarar as contrações. Depois de parir, me senti uma leoa! Capaz de tudo! Eu nasci novamente. A Meiriele, menina, insegura, morreu para dar lugar a uma mulher dona de si mesma!!!
E como parir foi maravilhoso e transformador para mim, queria que outros mulheres tivessem a mesma experiência positiva que a minha. Falava de parto humanizado com todo mundo. Tentei incentivar duas amigas a se informarem mais sobre parto e optarem por um parto humanizado. Mas ambas acabaram passando por cesárea, por falha de indução. Fiquei muito frustrada em não ter conseguido ajudar minhas amigas e decidi fazer o curso de doulas.
Fiz o curso do Minhas Doulas- ISHTAR, em 2015. Nesse curso tive contato com mulheres maravilhosas! Pude ter uma dimensão maior do mundo do parto e entendi que parir é uma escolha que vem de dentro da pessoa. Eu não poderia assumir um protagonismo que não era meu. Como doula eu auxílio na construção do parto, mas quem constrói o parto mesmo é a mulher! Eu estou ali para apoiar e não escolher por ela.
Não comecei a doular logo em seguida ao curso, pois engravidei do meu segundo filho. Dessa vez não tinha sido planejado. Foi uma gravidez emocionalmente difícil, mas que me fez enxergar a complexidade do que é ser mulher nos dias atuais. Graças à gestação de Dimitri, me entendi feminista e entendi, realmente que como doula eu estava enfrentando um sistema obstétrico obsoleto, tecnicista e sobretudo machista! Parir no Brasil é, antes de mais nada, uma luta contra o patriarcado!
Dimitri nasceu em um parto domiciliar também. Foi um parto rápido com um expulsivo suave na banheira. Nesse parto tive mais certeza ainda do quanto o olhar acolhedor da Doula é importante para a mulher e decidi me empenhar e seguir esse caminho. Queria ser também uma mulher que acolhe outras mulheres e criei a página Acolhedoula para divulgar informações sobre parto e meu trabalho como doula.
Uma colega do Pilates, Gizeli, soube que eu tive um parto domiciliar, me viu como inspiração para que ela pudesse tem também um parto normal e me escolheu como doula. Foi a primeira mulher a confiar em mim e sou muito grata por isso. Ela também teria o parto domiciliar com a equipe do Sofia. No entanto, o parto dela foi desafiador de muitas formas. Com 35 semanas a médica do pré-natal fez o toque e viu que ela estava com 2 cm de dilatação e pediu que ela ficasse de repouso pois a bebê poderia nascer prematura.
No entanto, ela chegou a 41 semanas sem trabalho de parto. Toda a família já estava ansiosa e ela sofria pressão da mãe e da sogra. Ela estava sobrecarregada psicologicamente. Com 41 semanas ela fez o descolamento de membranas no Sofia Feldman e no fim do dia começou a sentir contrações. Fui para casa dela, pois estava ansiosa também. Fiquei a madrugada inteira com ela e as contrações não evoluíram. Pela manhã, a enfermeira chegou e ao medir a pressão dela, viu que estava elevada. Ela teve que induzir o parto no hospital.
Foram 10 horas de trabalho de parto com ocitocina, rompimento de bolsa e um expulsivo longo e uma laceração de terceiro grau, mas ela pariu. O parto dela foi um intensivão! Aprendi muito com toda a experiência. Admiro demais toda a coragem e força de vontade que a Gizeli teve, pois mesmo com todos os empecilhos ela conseguiu parir!
Depois atendi outra gestante que passou por uma indução, pois a bolsa rompeu e ela não tinha contrações. Um outro parto super tranquilo e um vbac. Todos no hospital Sofia Feldman. Também atendi uma amiga que induziu devido à diabetes Gestacional que acabou virando uma cesárea, no Hospital da Unimed. Com todas aprendi um pouquinho. Aprendi sobre as intervenções, sobre a conduta médica e sobretudo a força que nós mulheres têm! Cada parto é mágico!
No instante em que o bebê nasce e a mãe e o pai o veem pela primeira vez tudo se transforma! É impossível não chorar! É impossível não sentir que tudo vale a pena!A ocitocina, o hormônio do amor, contagia a todos! Eu revivo meus partos em todos os partos que acompanho e é como se eu parisse novamente! É o ciclo da vida sempre se renovando!
Depois de participar do Siadoula em 2017, senti que eu precisava saber mais sobre parto e ler não era o suficiente. Eu precisava ter mais experiência. Fiz o curso de Doulas da prefeitura e comecei a atuar como Doula Voluntária no Hospital Risoleta Neves. Foi a experiência mais desafiadora e mais recompensadora que eu vivi na vida! Lá eu tive contato com a dor da perda gestacional, acompanhei mulheres que passaram por várias gestações, adolescentes, usuárias de drogas, etc. Vi o reflexo da desigualdade social,presenciei violência obstétrica, mas vi também mulheres fortes, maridos companheiros, mães amorosas e famílias sendo formadas. Muitos partos que acompanhei ali me marcaram para sempre. Foi no SUS que aprendi que a ferramenta essencial de toda doula é a empatia e a escuta ativa. Foi um período de intenso aprendizado!
Em 2018, eu e algumas amigas de maternidade, que também haviam se tornado doulas, nos juntamos e criamos a Equipe Gerânio.Atendi três partos pela equipe e auxiliei no atendimento pré-natal de outras gestantes. Tem sido ótimo formar essa rede de mulheres que ajudam outras mulheres.
Apesar de gostar de trabalhar como professora, ser doula é algo que me inspira todos os dias! Amo ser doula! Sigo estudando sobre gestação e parto, procurando me aperfeiçoar para proporcionar um atendimento e acolhimento cada vez melhor às gestantes em todos os contextos de parto.
Em breve, começaremos uma roda de gestantes em Belo Horizonte. E quem quiser conhecer mais do meu trabalho é só seguir a página da Equipe Gerânio. Oferecemos vários pacotes dos atendimentos que, além do encontros pré-parto, pós parto e a doulagem durante o parto, incluem, reiki, massagem, consultoria em aleitamento materno e medicinas da placenta.
Crenças, mitos e tabus de gestantes acerca do parto normal. https://periodicos.ufsm.br/index.php/reufsm/article/view/10245
Parto Domiciliar Planejado: resultados maternos e neonatais. http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?pid=S0874-02832010000400009&script=sci_arttext&tlng=en
Parto normal ou cesárea? O que toda mulher precisa saber (e todo homem também). http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832005000200020&script=sci_arttext&tlng=pt
Indução do trabalho de parto em primíparas com gestação de baixo risco. https://www.revistas.ufg.br/fen/article/view/10359
Gestão da qualidade e da integralidade do cuidado em saúde para a mulher e a criança no SUS-BH: a experiência da Comissão Perinatal. http://www.tempus.unb.br/index.php/tempus/article/view/846
O papel da doula na assistência à parturiente. http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/380
Humanização da atenção ao parto e ao nascimento: a história do Hospital Sofia Feldman. http://www.tempusactas.unb.br/index.php/tempus/article/view/847
Sobre as dores e os temores do parto: dimensões de uma escuta. https://core.ac.uk/download/pdf/37462702.pdf
A “violência obstétrica” e a disputa entre os direitos sexuais e reprodutivos. http://www.fg2013.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/20/1372972128_ARQUIVO_PULHEZ_MarianaMarques_fazendogenero10_ST69.pdf
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Linda e inspiradora história de minha amiga Meiriele! Parabéns pela mulher de garra que você é.
Beijos,
Francine
Obrigada! Você é uma das mulheres de garra que me inspiram todos os dias!
Um trabalho honrado, complexo, emocionante, que exige muita empatia e paciência, nem consigo imaginar toda complexidade que envolve todo o processo, só de ler o texto fiquei zonzo. Te desejo muito sucesso com essa carreira linda que você escolheu. Parabéns pelo excelente trabalho!
Muito obrigada! 😍😍😍
Parabéns e sucesso nesse lindo trabalho. Um momento de muitas expectativas, sonhos e o começo de uma nova vida para todos os envolvidos.
Muito obrigada!😍😍😍