O início de mim
Vim de uma família grande, de maioria mulheres, minhas avós somadas tiveram 23 filhos, desses, 20 nasceram em casa com parteira. Minha mãe teve 4 partos normais hospitalares, no último deles com toda sabedoria de seus 42 anos, nasceu essa que agora vos escreve.
Durante a infância a minha brincadeira preferida eram as que envolviam nascimentos, ou eu era a parteira ou a parturiente, sempre fui apaixonada por bebês e pelo processo de gestar e parir. Conforme fui amadurecendo, fui notando que o cenário obstétrico real era bem diferente do cenário amoroso e respeitoso de minhas brincadeiras, algo não estava certo. Por que as mulheres da minha família e do meu círculo social não pariam mais naturalmente? Por que todos os bebês estavam nascendo apenas de dia, durante a semana e com hora marcada? Há algum problema com o corpo da mulher moderna? Todos esses questionamentos instigavam meu subconsciente, mas eu ainda não estava pronta para entende-los.
O descobrimento…
Em 2014 uma pessoa muito querida e próxima a mim engravidou e o interesse que antes era apenas brincadeira começou a ser objeto de estudos nas horas vagas. Fui me envolvendo cada vez mais, e foi quando tive meu primeiro contato com a existência da Doula. Não posso dizer que foi amor à primeira vista, mas posso dizer que depois daquele dia as coisas nunca mais foram as mesmas. Ah, e eu acho que nem preciso dizer como nasceu o bebezinho dessa história, não é? As coisas continuam iguais por aqui, faz uma década que não há nascimentos naturais na família, a mesma família das dezenas de partos domiciliares lembra? Sinto a mesma tristeza que você neste momento…
Mas acredito que tudo na vida tem tempo certo para acontecer, e anos mais tarde senti o chamado mais que especial para me tornar Doula e assim o segui. Como disse Ana Paula Markel membra do DONA International no curso de formação: “vocês sempre foram Doulas, mas se estão aqui é porque ouviram o chamado”. Não tive como fugir, se há algo que me deixa feliz nesta vida é poder doular, sentir todo poder feminino brotando das entranhas de uma mulher, assistir o companheiro mergulhando junto a cada contração, exercendo a paternidade ativa. E quando o bebê nasce, a família ali nasce também.
Mas afinal, quem é a Doula e o que ela faz?
A palavra Doula deriva do grego e significa “mulher que serve”. Em todas as civilizações as mulheres sempre pariam com o auxílio de mulheres da família e da comunidade que já haviam passado por esse processo. Atualmente a Doula é a mulher treinada para prestar suporte físico, emocional e principalmente informativo a mulher e a família no ciclo gravídico puerperal, podendo ou não ter formação na área da saúde.
Estudos mostram que ter uma Doula no ambiente de parto proporciona a parturiente mais segurança e autoconfiança para receber seu bebê, aumenta a satisfação com o parto, diminui os índices de cesárea, pedidos de analgesia e a necessidade de partos com instrumentos.
Uma Doula para chamar de sua
Atuo na grande Florianópolis e região de Itajaí – Santa Catarina, atendendo quem vai parir na rede pública ou privada. Depois de concluir a formação inicial, continuo em construção diária afim de auxiliar o processo de emponderamento das mulheres. Cada uma que cruza meu caminho querendo parir é acolhida de braços abertos, é um livro a se colorir, mostro todas as cores disponíveis e elas decidem com quais irão pintar suas histórias.
Na gestação as auxilio na criação de seu plano de parto, sugiro leituras e documentários, trabalho os medos e expectativas da família em relação a todas as mudanças que estão ocorrendo.
No momento do parto as auxilio com a respiração, massagens, sugestão de posições, exercícios na bola de pilates ou cavalinho, caminhadas, sugiro utilizar o chuveiro, pois a água quente gera alivio das contrações. Incentivo a participação do acompanhante de livre escolha da mulher no trabalho de parto e parto.
Crio sempre que possível um ambiente acolhedor para que a parturiente se sinta bem, com luz baixa e músicas. A lembro de se hidratar e alimentar.
Digo palavras de carinho e incentivo quando elas pensam em desistir, mas acima de tudo respeito suas decisões. Não as salvo de violências obstétricas ou cesáreas desnecessárias, pois essa não é minha função, minha função é proporcionar uma experiência de parto positiva.
Ao longo dessa caminhada como Doula tive a oportunidade de acompanhar várias famílias em experiências lindas de nascimento de seus filhos e filhas.
Hoje sei que não há problema nenhum com a mulher moderna, a natureza moldou nossos corpos a milhares de anos para que pudéssemos trazer ao mundo nossas crias. O que há de errado na verdade é o sistema obstétrico falho que temos. E é isso que tento transmitir. Mulheres, se informem, acreditem em si mesmas, busquem assistência baseada em evidências. Seu corpo, suas regras, não deixem que decidam por você como será a chegada de seus filhos (as), seja a protagonista do seu parto.
Informação é luz que não se apaga jamais. E estou aqui para te auxiliar no que você precisar…
Referências:
Benefícios de uma Doula presente no nascimento de uma criança: http://pediatrics.aappublications.org/content/114/Supplement_6/1488.full
Benefícios da Doula no parto: http://www.cochrane.org/pt/CD003766/apoio-continuo-para-mulheres-durante-o-parto
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