Sou Juliane, tenho 34 anos, bióloga, reikiana, amante fiel da natureza, mãe do Edu de 4 anos e doula! Encontrei na humanização a cura da minha história e a força para seguir remando contra a maré.
Desde criança eu queria ser mãe, era um sonho, algo que eu aguardava ansiosa para acontecer. Passei um bocado da minha infância brincando de engravidar, parir e amamentar minhas bonecas. Sou tataraneta e bisneta de parteiras, minha mãe e minhas tias nasceram em casa, recebidas pelas mãos de sua avó. Isso sempre me emociona, lamento tanto por não tê-las conhecido em vida, quanto eu teria para perguntar…
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Pois bem, eu estava grávida, eu transbordava alegria, desfilei muito o barrigão e carregava comigo a certeza que o traria ao mundo através de um parto normal.
As gestantes ao meu redor, estavam agendando suas cesáreas, por simples escolha ou por terem sido impedidas de sequer entrar em trabalho de parto, por conta de circular de cordão, por bebê grande demais, etc. confesso que nesses momentos eu ficava insegura, será que eu iria mesmo ser capaz? Nenhum dos exemplos citados acima são indicações reais de cesárea.
Enquanto eu gestava o Edu, estava quase no final da faculdade de biologia, e era com espanto e surpresa que colegas e professores recebiam minha resposta quanto a via de parto, soa um tanto estranho né? Já que ali, estudávamos a vida, desde o seu início até seu fim, incluindo a evolução da espécie humana.
Tempo depois, já mãe e estudando sobre as novas condutas de atendimento ao nascimento, que pude entender o motivo de tanta surpresa ao mencionar a vontade de parir, era o medo impresso na sociedade, o medo de sofrer! Muitas mulheres sofreram violência obstétrica durante o nascimento de seus filhos, seja física ou verbal! Foram impedidas de se alimentar, de se movimentar, de gritar! Tiveram suas barrigas empurradas e seus períneos cortados! E isso foi sendo passado para as gerações seguintes! Segundo
Minha gestação beirava as 40 semanas e eu já havia sido avisada, que estava chegando no limite da espera, que eu iria induzir caso passasse desse prazo. A data provável do parto (DPP), é uma data estimada, calculada a partir do ultimo dia da menstruação, porém uma gravidez pode chegar a 42 semanas ou mais. Sendo que após as 41 semanas é aconselhável um acompanhamento mais frequente e se assim for a vontade da gestante, por aguardar o trabalho de parto espontâneo.
Com 39+5 fui a maternidade depois de algumas horas suspeitando de bolsa rota, pois bem, se ela não estava rota, acabava de ficar, pois o obstetra fofo havia estourado artificialmente sem meu consentimento, e me induziu a aceitar o soro com ocitocina, aí eu já estava amarrada na arapuca do sistema obstétrico brasileiro, e algumas horas depois, Edu nasceu de uma cesárea intraparto, por falta de dilatação, após todas as intervenções desnecessárias terem sido feitas. Estourar a membrana amniótica sem consentimento da mulher também é uma forma de violência obstétrica.
Quanta culpa senti, por não ter buscado informação, por crer que eu seria capaz de parir hoje, sem nenhum conhecimento, a não ser o da minha natureza. Apesar do apoio do meu companheiro incrível, eu me sentia falha e isso dilacerava meu corpo aos poucos. E só uns anos depois, consegui olhar pra esse desfecho com mais respeito, nem lembro da primeira vez que li sobre humanização do parto, mas entendi ali que ainda era possível parir com respeito e amor no país onde vivemos, munida de muita informação e de preferência de uma equipe que compartilha dos mesmos ideais.
Sabemos que as taxas de cesárea no Brasil ultrapassam as recomendadas pela OMS(Organização Mundial da Saúde) que é de 10% a 15%, dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 2015, mostram que as taxas de cesáreas chega a 56% da população, sendo que esses números variam entre os sistemas público e privado de saúde, este último chegando a 85%!
E o universo não me poupou de conhecer pessoas maravilhosas, as quais me ensinaram sobre o sagrado feminino, sobre a força que carregamos conosco, e eu pude, no curso de doulas, me reencontrar com minha própria essência. Ali em meio a mulheres lindas eu recebi uma força incrível e as armas para lutar pelo respeito e acolhimento da mulher, seja no gestar, no parir e no nutrir seus filhos.
Quando presenciei a primeira mulher parir, ali eu tive a certeza de estar no lugar certo, servindo mulheres, com todo respeito e empatia às suas escolhas.
“A doula é continente”, uma das frases que ouvia no curso, e cada parto que acompanho eu sinto que sou o continente delas, sou tudo o que elas precisarem que eu seja naquele instante!
Apesar dos efeitos de se ter uma doula serem positivos no que diz respeito a satisfação da mulher no trabalho de parto e no pós parto, não somos garantia de via de parto, e sim de mais acesso de informação de qualidade, o que vai aumentar as chances da parturiente ser respeitada e acolhida nas suas escolhas, bem como lidar com o puerpério e com os cuidados com o recém nascido.
Que tenhamos a oportunidade de escrever e reescrever histórias de nascimentos e renascimentos baseadas no respeito e amor!
As referências que utilizei para esse texto:
Indicações reais e fictícias de cesariana: http://estudamelania.blogspot.com/2012/08/indicacoes-reais-e-ficticias-de.html
Doulas na Assistência ao Parto: Concepção de
profissionais de enfermagem – http://www.scielo.br/pdf/ean/v13n3/v13n3a18
Violência Obstétrica No Brasil: Uma Revisão Narrativa – http://www.scielo.br/pdf/psoc/v29/1807-0310-psoc-29-e155043.pdf
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Parabéns pela sua capacidade de transformação, fostes uma guerreira em buscar informação e ensinamentos que lhe proporcionaram fazer de você uma pessoa capaz de contribuir para tornar este mundo mais humano.
Obrigada meu amor!
Juli, minha querida!
Quanta admiração tenho por ti.
Texto lindo, qta força e verdade nessas palavras. Amo vc
Obrigada irmã amada!
Me inspiro em mulheres como vc pra seguir! Amo tu!