Eu nasci doula após uma gestação que durou alguns anos e um trabalho de parto intenso e doloroso. Uma trajetória que começa com uma mulher questionadora e é permeada por obstáculos, perdas irreparáveis e um penoso, porém libertador, processo de autoconhecimento.
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O ano é 2012 e eu tinha recém completado 28 anos, a maternidade era algo que passava pela minha cabeça, mas ainda não estava nos meus planos. O que eu sabia – acho que sempre soube – era que quando o momento chegasse, eu QUERIA PARIR.
Neste mesmo ano, aconteceu um baby boom. Três mulheres do meu círculo social engravidaram quase que simultaneamente. Mulheres jovens, com 30 e poucos anos, saudáveis, que tiveram gestações tranquilas e sem intercorrências. Mulheres que manifestavam a vontade de ter um parto normal, mas que por algum motivo, não conseguiram.
Esse fato me causou estranheza, não me parecia normal que de repente todas essas mulheres tivessem apresentado algum problema que as levou para a mesa de cirurgia. Conversando depois com as pessoas ao meu redor, descobri que era mais “normal” do que eu imaginava. Eu mesma nasci de uma cesariana, assim como meus primos e a maioria dos meus amigos e conhecidos. Todos nós fazemos parte das estatísticas de um país que desponta mundialmente no quesito taxa de cesáreas.
Será que quando chegasse a minha vez eu ia conseguir? Esse questionamento se manteve comigo até o momento que eu decidi engravidar.
A sementinha da doula Natália Simões foi plantada numa conversa descontraída com uma amiga sobre a vontade de engravidar. Foi nesta conversa que eu ouvi sobre essa profissão pela primeira vez. Não aprofundamos muito o assunto naquele momento, mas aquela palavrinha – DOULA – ficou guardada na minha memória.
Mais de dois anos já haviam se passado daquele baby boom (ou seria cesárea boom?), e agora que eu estava decidida a ser mãe, precisava me preparar para conseguir o que aparentemente era muito difícil, o tão desejado parto natural.
Resolvi me preparar da maneira que eu sabia, estudando muito. Eu queria saber tudo o que eu podia sobre o assunto para poder embasar minha decisão. Aquela palavrinha que tinha ficado registrada, ressurgiu nos meus pensamentos e eu fui procurar entender afinal de contas, quem era aquela profissional que estava presente no parto da minha amiga, o que era uma doula?
É importante apontar que naquela altura eu já estava com 32 anos e simplesmente não fazia ideia de que caminho eu queria seguir profissionalmente; tinha um emprego sacal que me tomava quase 50 horas semanais, mas como pagava bem e era home office, me mantinha nele sem nenhum entusiasmo.
A sensação de descobrir o maravilhoso mundo aonde as doulas existem foi inebriante!
Entender o seu papel, o que elas faziam, os benefícios que poderiam trazer para a experiência de parto, as informações preciosas que elas compartilham e ainda por cima tendo o prazer de ver bebês nascendo e mulheres se transformando, foi como uma revelação para mim. Enfim eu tive certeza, era isso que eu queria ser, eu queria ser doula.
Depois da descoberta foi tudo muito rápido, no mesmo ano (2016) me formei doula de parto e pós-parto pelo Revelando Doulas, voltei para São Paulo após uma temporada no interior do Paraná e de cara acompanhei 3 gestantes e seus partos, a cada nascimento a certeza renovada de que essa era a profissão que eu queria seguir.
E aí veio a inesperada (mas nem tanto) notícia, eu estava grávida!
Pela minha Data Provável de Parto (DPP), o Vicente estava previsto para Junho de 2017. Meu plano era seguir acompanhando gestações e partos – junto com meu trabalho sacal, que eu ainda não tinha condições de largar – até Abril e retomar os atendimentos alguns meses depois do parto.
Até então eu imaginava que com um trabalho home office e podendo agendar os encontros com as gestantes em horários livres, só teria que me preocupar em conciliar os cuidados com o bebê quando precisasse sair pra acompanhar um parto. O pai do Vicente, meu companheiro, também trabalhava home office, então esse arranjo me pareceu algo muito fácil de ser organizado.
Mas uma das primeiras lições que devemos aprender sobre a gestação é que não temos controle de nada, e aos poucos os acontecimentos da vida foram me empurrando cada vez mais longe do planejamento.
Dois bebês aguardados para Janeiro nasceram e eu percebi que precisava parar, meu corpo pediu (alô Doulas, condicionamento físico é importante!), não me senti fisicamente inteira nesses partos e consequentemente, penso que não fiz um bom trabalho. Lá se foi o primeiro plano, não ia rolar trabalhar como doula até Abril, mas resolvi seguir com o restante da programação inicial.
Minha gravidez foi bem tranquila, mesmo com uma Diabetes Gestacional diagnosticada às 28 semanas. Segui um acompanhamento mais cuidadoso com minha equipe, dei uma super atenção à alimentação e tudo correu muito bem até o final, sem intercorrências. No final da gestação, eu só estava muito ansiosa pro Vicente nascer antes de 40 semanas, não queria ter que partir pra indução, que era a conduta indicada no meu caso. De resto, eu seguia plena!
Até que com 37 semanas outra surpresa. Fiquei desempregada! E prestes a parir, eu precisei repensar tudo que eu tinha planejado.
Depois do nascimento do Vicente – sem indução! -, num parto potente e a jato (um total de 3 horas e 40 minutos de intervalo entre a primeira contração dolorosa e um neném quentinho no meu colo), eu me perguntei aonde que eu tava com a cabeça quando achei que ia conciliar um trabalho de 46 horas semanais (é gente, não ia rolar licença) e um recém nascido.
Os meses foram passando, um puerpério tranquilo na medida do possível, um vínculo de amor regado a cada dia e a vontade de voltar a trabalhar, mesmo com os partos que eu tanto amava, não aparecia. A doula iria esperar mais pra nascer, eu precisava mergulhar fundo na maternidade, não estava pronta para conciliar essa mãe que eu queria ser com um trabalho que me demandaria tanto, de tempo, de corpo, de disponibilidade emocional.
Pude curtir cada dia com meu filho da maneira que eu desejava, vivenciar minhas escolhas e ver aquele serzinho crescendo a cada dia sem precisar me afastar; a vida me deu a sorte de encontrar um novo trabalho antes do Vicente completar 1 ano, também home office, com horários flexíveis e um chefe incrível e compreensivo. Era tudo que eu precisava pra conciliar minhas demandas financeiras com a disponibilidade que eu queria ter pro Vicente.
Parecia que tudo estava tranquilo, até começar 2019, o ano mais difícil da minha vida, mas que também personificou um sofrido e intenso trabalho de parto que terminaria com o renascimento da Natália doula.
Logo no início do ano precisei assumir todas as despesas da casa após a demissão do meu companheiro. Depois, num intervalo de 4 meses, perdi meu pai e meu sogro. Ver a morte a assim tão de perto me fez entender que a vida está aí pra gente viver e correr atrás do que queremos de todo o coração. Eu já tinha conseguido sair do mergulho profundo do puerpério, já conseguia olhar pra mim com mais cuidado e dedicação. Já era tempo, o meu tempo.
Eu precisei ser mãe e passar por um intenso processo de reconhecimento, antes de deixar a doula surgir. A maternidade me conectou com muitas mulheres, ouvi suas dores, alegrias, dificuldades e vitórias e isso me moldou como a mulher que sou e a profissional que quero ser.
Hoje, 17 de Janeiro de 2020, no mesmo dia em que eu encarnei nesse mundo, com o Sol em Capricórnio, após um trabalho de parto intenso e desafiador, um ano de perdas inestimáveis e redescobertas irremediáveis, eu renasço!
Natália Simões, doula, educadora perinatal e facilitadora da amamentação.
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Acredito que toda mulher merece apoio e escuta empatica e informação de qualidade no ciclo gravídico puerperal e fiz disso minha profissão e missão de vida.
Prazer, essa sou eu!
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