Bruna Simões Carvalho Teixeira
A Ancestralidade do Parto
Enquanto Geraldo plantava, “apartava” vaca e tirava leite, Léa pariu 12 filhos em seu lar. Enquanto “Toco” era motorista, Izoleta pariu cinco filhos em seu lar. Assim vieram meus pais, viveram uma infância simples, e um dia em Caldas no sul de Minas Gerais uma nova família se formou.
Nasci no dia 13 de agosto de 1987, de parto normal hospitalar, a primeira filha de três. Vivi a tranquilidade de ser criança no interior, muita brincadeira na rua e fim de semana na roça. Amava estudar!
As histórias dos partos da minha avó Léa e da minha mãe sempre me chamavam atenção e adorava ouvi-las quando criança.
De um interior ao outro
Anos se passaram e na adolescência vivi meu primeiro amor, seguindo juntos até hoje.
Com 19 anos sai de casa e cursei Ciências Biológicas na Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais.
Uma paixão pela Amazônia, pelos bichos, pela natureza me levou a fazer mobilidade estudantil e conheci o norte do nosso país, onde residi por um semestre em Belém/PA. Lá eu me senti em casa, e vivi uma fase de muitos conflitos internos, mas voltei de lá com um querer que até então estava fora dos meus planos, ser mãe.
Me casei, fiquei grávida e me formei. Gestação tranquila. Estava convicta que teria minha filha de parto normal.
Durante toda a gestação continuei ouvindo, das minhas tias, primas e minha mãe, as histórias dos partos da minha avó e mais histórias das mulheres da família até então desconhecidas a mim. Eu amava cada relato!
Primeiro Parto: a triste realidade brasileira
E no dia 13 de março de 2012, Flor resolveu chegar. E assim vivi meu primeiro parto. Um parto normal hospitalar “recheado” de intervenções. Vivi uma mescla de naturalidade e bloqueio, um misto de alegria e impotência, tentava me entregar, mas me perdia entre as paredes brancas, a luz fria e os inúmeros toques que recebi. Claro que senti alegria quando ela nasceu e fiquei sim muito feliz por ter conseguido parir, foi rápido e foi lindo olhar nos olhos arregalados da Maria Flor. Mas, fiquei duas horas sentindo um frio que vinha de dentro por não tê-la em meus braços, essa talvez seja a maior dor que vivi naquele dia, maior que a contrações fortes, maior que a bolsa rompida sem avisar, maior que a episiotomia não consentida, maior do que a cãibra que sentia nas minhas pernas amarradas.
Ali eu renasci mãe, e por um tempo me senti perdida, já não sabia mais quem eu era. Era muito amor pro meu coração, me vi a Leoa que não conseguia expressar até então.
Em 2013 foi lançado o filme, O Renascimento do Parto e a ficha “caiu”, chorei na maior parte do filme. Tive consciência que fui vítima de Violência Obstétrica, que infelizmente no nosso país é algo tão naturalizado que passou despercebido por mim por um longo tempo. E felizmente vi ali outra forma de nascer, é possível viver um parto com respeito e amor.
Nessa mesma época decidimos ter mais um filho. Entre livros e filmes minha barriga crescia. E mergulhei no universo da “Humanização do Parto”. Um caminho sem volta, onde me sinto bem, onde me vejo compartilhando informações com amigas, trocando conversas longas de apoio. Sinto-me feliz em estar junto de mães, de mulheres e passei a acreditar cada vez mais na nossa força, na nossa natureza, na nossa união.
Segundo Parto: é possível nascer num ambiente de amor
Lineu chegou numa manhã fria de maio, em nosso lar, cercado de amor e pessoas especiais, um segredo entre nós (eu, meu marido, um casal de amigos e a equipe) que surpreendeu toda a família e aos poucos foram chegando com olhar curioso em nossa casa. Alguns questionavam, outros admiravam, e nós, felizes no nosso aconchego. Papai e Florzinha que cortaram o cordão, e minha relação com meu marido se fortaleceu passando por todo esse processo juntos.
As crianças estavam crescendo felizes e quando Lineu estava com dois anos e dois meses, eis que me vejo novamente grávida. Surpresa! E dois meses depois nos mudamos pra Alter do Chão uma vila do município de Santarém, oeste do Pará. Vida nova no paraíso Amazônico!
Terceiro Parto: a força da natureza
Em abril de 2017 recebemos a Pérola, também em nosso lar, num parto rápido onde me conectei imensamente comigo mesma. Sinto ao fechar meus olhos, cada fase do meu trabalho de parto, cada dor foi uma conexão com a minha natureza, nossa paraense chegou em meus braços e ficou comigo o tempo todo.
“Sou Doula”!
Em janeiro de 2018 fiz minha formação como doula no “Revelando Doulas”. Foram dias intensos de muito estudo, imersão, conexão, foram cinco dias inesquecíveis.
Hoje atuo como doula na região de Santarém, onde estou conhecendo aos poucos a realidade obstétrica dos hospitais; a forte presença das parteiras e puxadeiras, em atuação nas comunidades; e começando a acompanhar gestantes, parto, pós-parto e amamentação. Participo do “Grupo Família Gestante Moira”, que é um grupo de mulheres, mães, que acolhe e apoia as gestantes e suas famílias. Fazemos rodas mensais abertas ao público.
A cada dia tenho mais gratidão pelo caminho que escolhi. Ser doula foi algo que nasceu do meu interior, da minha alma, fui me permitindo sentir esse chamado ao longo da vida. Vejo como uma missão de amor e acolhimento, pela qual escolhi estudar e lutar, afim de que todas as mulheres tenham o direito de parir com respeito.
Leitura Recomendada
O movimento da Humanização do parto. (Diniz,2005)
O Renascimento do parto. Dir. Eduardo Chauvet, 2013. Filme (90 min.)
Doula: A Doula no Parto – O papel da acompanhante de parto especialmente treinada para oferecer apoio contínuo físico e emocional a parturiente; Fadynha; Editora Graund; 2003.
Instagram do “Grupo Moira”: @familiagestantemoira
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Que Deus abençoe seu trabalho amada Bruna.
Quando engravidar quero fazer parto humanizado se Deus me permitir!
Amem!!! Que assim seja!!!
Parabéns. Lindo.
Obrigada Tio!
Eu tive o privilégio de ter a Bruna como doula no parto hospitalar. Tinha muito medo e receio de como seria aquele momento. E foi mágico, abençoado! As informações que me deu, as palavras de incentivo na hora do parto, me fizeram acreditar que era capaz. Eu, meu esposo Bill e nosso filho Biel somos eternamente gratos a Deus pela sua vida!
Obrigada♡
Me sinto honrrada pelas suas palavras e sentimentos! Agradeço muito a vocês, a Deus por ter cruzado nosso caminho e pela beleza que foi o nascimento do Gabriel.