Minhas lembranças quando bem pequena, são de longos dias de histórias e brincadeiras na casa de minha avó. E as mais fascinantes eram de como eu vim ao mundo, e o quanto minha bisavó andava pelos sítios para ajudar bebês a nascerem, com o auxílio da nossa família. São lembranças carinhosas, que me emocionam até hoje, e que foram decisivas para a escolha do meu caminho: A Doulagem
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Nascida em casa com 28 semanas, 1.030 kg, de uma mãe maravilhosa que não sabia ao certo que estava grávida, o parto dela foi o famoso tsunami que assustou a todos. Vovó acompanhou o parto, fazendo o que para ela já era rotineiro, porém não tinha lembranças de um bebê tão pequeno ter sobrevivido em um parto domiciliar não planejado, onde tinham dificuldades de atendimento médico. No dia seguinte ao parto fomos ao hospital, e este recusou o internamento na uti neonatal pois conforme o médico, levava risco aos bebes internados devido a contaminação. Hoje sei que era um caso de total negligência, e alí começava uma luta pela sobrevivência. Fui isolada em um quarto, contato apenas com a Mãe e avó. “Precisávamos colocar o leite na sua boca com um conta gotas”. “Não emitia sons, as vezes ouvia um som de ursinho de pelúcia”. “Esse bebe não vai sobreviver!” – falava uma tia. “Foram muitos dias de espera até ser um bebê que realmente reagia” – fala minha mãe se referindo ao que para ela foi um milagre.
Com 20 anos nasceu meu primeiro filho, neste momento escolhi a melhor médica, o melhor hospital, e fui apavorada para meu trabalho de parto. Nada seria ruim, cunhados médicos acompanhando o parto, o pai nervoso ao meu lado e minha médica já havia dito que não me deixaria sofrer por muito tempo. Indução com ocitocina. Na primeira contração realmente dolorida veio a anestesia: “Vou aplicar anestesia, porém você precisa sentir a sua perna, ok?” – Já não sentia elas há tempos.
Resultado: Kristeller (manobra para empurrar o bebê), episio (corte), e a médica puxou meu bebe no expulsivo, ocasionando uma fratura grave de clavícula. Eu não sabia o que estava acontecendo, não tinha informação, mas consegui dentro das possibilidades resgatar o significado de tudo quando colocaram João no meu colo.
O tempo passou e gestações difíceis vieram. Entre uma delas tive uma doula do luto.
Até que chegou Louise, e então conheci a palavra Humanização. Surgiram mulheres maravilhosas na minha vida, me disseram que eu poderia parir, que não precisava de interferências desnecessárias e que poderia identificá-las. Disseram que eu poderia falar NÃO para procedimentos que eu não concordava! Eu poderia chorar, gritar, poderia curtir o meu parto, poderia vive-lo intensamente, poderia não sofrer e sim renascer! E foi isso que aconteceu.
Este parto me curou, me fez feliz. Me fez sentir uma leoa que pode chegar em qualquer lugar. Me fez entender que Eu sou dona do meu corpo, e ele é poderoso, funciona, pode gestar, amamentar perfeitamente. Como eu sou plena em ter descoberto isso! E se eu conseguir colaborar para que mais mulheres tenham um pouco dessa sensação, serei uma pessoa realizada.
Bibliografia:
Prematuridade e fatores de risco
http://www.scielo.br/pdf/ean/v13n2/v13n2a09
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