E assim com lágrimas nos olhos, começo a minha história, meu primeiro encontro com a doulagem. Ela não começou linda, em um momento alegre, assistindo a vida. Ela começou triste, em um dos piores dias da minha vida, doulando a passagem de alguém muito especial.
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No ano de 2013, recebo uma ligação que partiu meu coração ao meio. Eu estava a quilômetros de distância, e alguém do outro lado da linha me pedindo, com uma voz baixinha mas com muita lucidez, se eu pudesse ir para lá que ela estava indo…
Recebi essas palavras com uma imensa tristeza, uma dor que cortava a alma. Desliguei o telefone, desesperada, sem pensar duas vezes corri para o aeroporto, do mesmo jeito que eu estava, apenas com uma bolsa na mão. Em poucas horas, desembarquei na cidade e em pouquíssimo tempo estava no hospital, ao lado do meu anjo de luz, tudo organizado por Deus. Cheguei em tempo de vê-la ainda em vida. Conversamos, nos abraçamos, ficamos ali algumas horas imersas em uma emoção indescritível, uma despedida de duas almas e um amor inexplicável.
Ela me pediu para dar banho nela, passar creme no corpo, limpei, sequei, enxuguei, vesti a roupa e voltamos ao leito, fiquei ali ao seu lado. Assim que ela se deitou novamente, me pediu para passar a mão no rosto dela. Fui acariciando seu rosto, e ela com a mão sobre a minha guiava cada movimento meu. Era uma despedida, nós duas sabíamos. Uma troca profunda de olhares, um toque sutil, era pura conexão.
Em determinado momento e sobre forte emoção, eu a disse que ela poderia ir, que ia ficar tudo bem aqui, que nós íamos aprender a ficar sem a sua presença física, mas sabíamos dos laços profundos de amor que nos unia. “Você cumpriu lindamente a sua missão aqui, pode ir”, foram minhas últimas palavras. E assim em pouco tempo, ela sobre os meus braços, um suspiro forte, aquela luz se apagou… Senti seu corpo molinho, seus olhos fecharam, sua respiração parou. Que momento, meu Deus, que momento! Jamais sairá da minha memória este dia. Minha dinda, minha segunda mãe tinha ido morar com Deus.
E assim sem saber, doulei a sua passagem. Naquele momento não entendia nada. Tudo aquilo que vivi ali ainda era escuro dentro de mim, não fazia sentido. Era só tristeza por perder alguém tão especial.
Passado este momento tão doloroso, vivi o luto e a dor da perda ao lado da família e voltei para São Paulo, dar seguimento a vida, ainda sem muita motivação, processando tudo aquilo que tinha vivido.
Anos após esta experiência, atuando como professora de Pilates em São Paulo, recebo uma gestante com seus quase 9 meses. Um barrigão lindo, ela ainda se movimentava bem, tivemos uma aula tranquila, conversamos bastante. Em um momento da aula ela me disse: “Si, você já pensou em ser doula? Você é muito parecida com a minha!” Eu nunca tinha ouvido falar naquela palavra, não fazia a menor idéia do que era, mas ela entrou com uma flecha no meu coração! Senti que ela me era familiar, mesmo eu nem sabendo do que se tratava.
Terminamos a aula e eu fui para casa, ainda pensando sobre aquilo. Passei a tarde inteira pesquisando sobre o assunto, li tudo a respeito, procurei relatos, matérias, informações, como era esse universo e aos poucos comecei a me identificar com aquele “trabalho”. Vi que podia juntar e aplicar tudo o que eu já tinha feito na vida (exercícios, massagens, terapias manuais, etc), o que me alegrou profundamente.
No mesmo dia eu já estava matriculada em um curso de doula, sim no mesmo dia! E assim, com esta intensidade comecei esta incrível jornada.
Durante o curso estudando sobre a vida, sobre a morte, sobre parto, sobre o universo feminino e sobre a vida misteriosa dos bebês, tudo começou a fazer sentido dentro de mim. Aquilo que era escuro e confuso, começou a ser claridade. Desde a experiência da perda, até a chegada no curso de doula, um universo inteiro se abriu na minha frente. As mesmas mãos que acariciam, cuidam, abraçam, também podem massagear, apoiar e amparar. Vida e morte se misturam, o tempo todo.
Entendi que as minhas mãos e o meu coração resumiam perfeitamente a minha missão nesta vida. Graças a ela, meu ser de luz, que agora lá de cima guia cada passinho meu!
E assim me tornei doula, ou talvez sempre fui uma. De um dia triste a uma descoberta de um propósito de vida! Ela tinha me escolhido para o seu rito de passagem, assim como as famílias que eu tenho a honra de acompanhar.
Com as mesmas lágrimas nos olhos do início, mas agora com o coração repleto de gratidão por todo caminho percorrido, sigo caminhado, a disposição da vida!
Além de doula, sou educadora física e perinatal, acompanho a gestação, parto e amamentação. Atuo também com arte gestacional (pintura na barriga) e com a Inteligência Emocional Bioflow, um trabalho terapêutico que funciona através da respiração. Sou natural de Porto Alegre, mas escolhi São Paulo nos últimos 10 anos para me desenvolver pessoal e profissionalmente. Sempre fui apaixonada pelo mundo misterioso e curioso dos bebês, pelo nascer e pela parte educacional dos mesmos. Penso que estamos vivendo uma nova era, com o resgate de valores voltados ao bem-estar, crescimento e evolução da nossa sociedade como um todo. Escolhi essa fase da vida, de gestar, parir e educar não como uma carreira, mas um propósito de vida!
Apoiar mães e pais em seus processos gravídico-puerperais, tem sido um caminho apaixonante. Minha atuação como doula e educadora perinatal tem como base a educação consciente, seja do corpo, da mente e das emoções, o resgate de valores pessoais e individuais, gerando consciência e responsabilidade com a chegada da vida.
Minha figura é de apoio, informação, suporte e acolhimento!
Estou inteiramente a serviço da vida!
Um grande beijo, Si
Referências:
Estudando sobre doulas http://estudamelania.blogspot.com/2012/08/estudando-sobre-doulas.html
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