Categories: Cesárea

Cesárea de Natal? Cuidado com as armadilhas do sistema!

Compartilhe:

Estamos nos aproximando de um dos maiores feriados do ano e com ele chegam também as desculpas esfarrapadas para cesáreas eletivas de “urgência”.

Não é à toa que todo ano, profissionais e ativistas pela humanização do parto e nascimento alertam para essa prática rotineira nos hospitais nessa época. Dia 20 de dezembro é considerado o “Dia Nacional do Sofrimento Fetal”, uma denúncia sobre o aumento significativo do número de cesáreas agendadas antes das festas de Natal e Ano Novo.

Cenário obstétrico brasileiro

Nosso atual modelo de assistência obstétrica é centrado no hospital e no médico, excessivamente tecnocrático e caracterizado por elevadas taxas de cesárea, de partos traumáticos e/ou com excesso de intervenções e de prematuridade. Apesar da Política Nacional de Humanização do Parto e Nascimento preconizada pelo Ministério da Saúde, esse “novo” modelo ainda não permite assistência ao parto de forma humanizada e segura à maioria das mulheres. E embora tenhamos 98% de partos hospitalares e a adoção indiscriminada da tecnologia para assistência ao parto, a mortalidade materna e neonatal persistem elevadas.

Foto de Richard Catabay no Unsplash

A concepção de que o parto é um processo perigoso e que precisa ser controlado para garantir um bom desfecho é ainda um discurso muito forte e defendido pelo sistema. Mesmo as evidências científicas comprovando que tentativas de controlar o parto estão sujeitas a riscos iatrogênicos reais e comumente resultam em uma cascata de intervenções, além de mais riscos para mães e bebês.

As “cesáreas de fim de ano” salvam a vida social dos médicos e equipes, além da rotina hospitalar, mas colocam em risco a vida de inúmeras mulheres e bebês.

A cesárea desnecessária

A cesárea é uma cirurgia de grande porte que pode salvar a vida de mães e/ou bebês quando ocorrem complicações durante a gestação ou o parto, mas que só deve ser realizada quando há uma real necessidade, pois pode acarretar uma série de problemas para a saúde da dupla mãe-bebê.

Algumas delas, para a mãe:

  • maior risco de morte,
  • maior risco de infecção,
  • recuperação mais lenta,
  • maior risco de complicações na próxima gravidez.

Para o bebê:

  • maior risco de prematuridade,
  • maior chance de problemas respiratórios,
  • bebê sob efeito de anestesia.

Para ambos:

  • primeiro contato afetado,
  • interferência no vínculo,
  • interferência no aleitamento materno.
Foto de Jonathan Borba no Unsplash. Na rede privada, o percentual chega a quase 90% de cesáreas (Fonte: Nascer no Brasil – 2016)

Mas o que presenciamos no Brasil é uma utilização abusiva dessa intervenção médica, sem real benefício para as mulheres e seus bebês. A pesquisa Nascer no Brasil (2016) revelou que o número de nascimentos por cesariana está mais de três vezes acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Foram 56% de nascimentos por cesariana, quando a taxa aceitável é de até 15%. Esse número excessivo de cesáreas expõe desnecessariamente as mulheres e os bebês aos riscos de efeitos adversos no parto e nascimento.

Prematuridade iatrogênica

Recentes evidências sugerem que o modelo medicalizado de nascimentos, onde há excesso de intervenções no parto (medicamentos para indução ou aceleração do parto, amniotomia, anestesia, episiotomia), e principalmente a cesariana desnecessária, tiveram como uma das suas consequências o aumento na taxa de nascimentos prematuros.

Dado confirmado também pela pesquisa Nascer no Brasil (2016), que revelou que a taxa de prematuridade brasileira (11,5%) é quase duas vezes superior à observada nos países europeus, sendo 74% destes prematuros tardios (34 a 36 semanas gestacionais). Apontou também que muitos desses casos podem decorrer de uma prematuridade iatrogênica, ou seja, bebês retirados sem indicação, em mulheres com cesarianas agendadas ou com avaliação incorreta da idade gestacional.

Foto de Hush Naidoo no Unsplash

A prematuridade é a principal causa de morte de crianças e está associada a várias doenças na infância e ao longo de toda a vida. São bebês que têm risco quase 3 vezes maior de morte neonatal, que internam mais, ficam afastados de suas mães e perdem a oportunidade de vinculação e afeto, têm mais problemas respiratórios, icterícia mais grave, dificuldade no aleitamento materno, problemas alimentares, alergias e asma. Também têm mais problemas no desenvolvimento neurológico e psíquico. Mais chance de obesidade, diabetes e hipertensão na vida adulta.

São bebês retirados antes de estarem prontos, que não adquiriram o peso e a maturidade que poderiam ter, minando sua força e capacidade de desenvolvimento pleno. Mesmo não sendo prematuros (menos de 37 semanas), podem ser imaturos.

Quem tem informação, tem poder!

Quer saber um pouco mais sobre o assunto? Vem estudar com a Melania Amorim as indicações reais e fictícias para a cesárea e outros links que disponibilizei abaixo.

Informação é poder e juntas somos mais fortes!

Além de informação, apoio também é fundamental! Quem é a sua rede?

* Quer conhecer mais sobre mim e fazer parte de um grupo VIP de discussão? Inscreva-se aqui!

** Foto de capa: Foto premiada pelo Birth Becomes Her (2018), de Neely Ker – Georgia. Retirado do site brasil.elpais.com

Referências:

Compartilhe:
Doula Aline Teixeira (Belo Horizonte-MG)

Psicóloga, fotógrafa e doula. Desde que descobri a humanização do parto e nascimento, com o documentário O Renascimento do Parto, não parei mais de estudar sobre o tema e lutar pela causa. Mãe do João, um menininho encantador nascido em um parto domiciliar pelo SUS.

Acredito no poder da mulher e luto pela garantia dos nossos direitos no cenário obstétrico, por uma assistência humanizada e livre de violência obstétrica. Ofereço atendimentos antes e após o parto, acompanhamento durante o trabalho de parto/parto e suporte à amamentação.

Cidades de atuação: Belo Horizonte/MG e Região Metropolitana.

Facebook: @alineteixeiraa

Instagram: @ateixeiras

E-mail: alineteixeira.doula@gmail.com

Celular/WhatsApp: (31) 99407-5939

Recent Posts

Roda de conversa para pessoas grávidas

Buscar um parto normal humanizado pode ser bem solitário. Parece que um evento natural é…

1 ano ago

Filmes e séries para quem quer o parto normal

O parto normal é o processo mais natural e saudável para o nascimento de um…

2 anos ago

5 perfis valiosos para seguir no instagram

O parto normal é um tema que desperta muitas dúvidas e questionamentos nas gestantes e…

2 anos ago

Não foi como sonhei, mas foi tranquilo

Dia 28/01 sábado por volta as 18:30, comecei a ir ao banheiro fazer xixi e…

2 anos ago

Era meu sonho um VBAC, e consegui!

Minha dpp era 26/12, e eu já estava com consulta marcada pro dia 27 pronta…

2 anos ago

Foi o momento mais feliz da minha vida

Minhas contrações se intensificaram no dia 05/12 (sim no dia do jogo do Brasil contra…

2 anos ago