Você é uma mulher que quer amamentar e está procurando uma lista de enxoval que não atrapalhe a amamentação? Talvez você tenha lido sobre como se preparar para amamentar e sobre a importância da pega correta e da livre demanda, e aí foi atrás de lista de enxoval e encontrou mamadeiras que imitam a mama, chupetas ortodônticas, conchas para preparar o bico, bico de silicone e não tem certeza se esses produtos ajudam ou atrapalham. Acertei?
O intuito deste post é falar sobre isso: o que você precisa e o que deve evitar para atingir a meta de aleitamento exclusivo nos primeiros seis meses de vida do bebê.
Nesse post você vai encontrar
Ok, essa frase é ousada, mas prometo que vai facilitar muito qualquer decisão de compra daqui para frente.
A principal informação sobre amamentação é que o seu corpo vem preparado (de fábrica!) para o aleitamento, mas amamentar não é instintivo, ou natural, e sim um ato cultural. Ou seja: a parte biológica e física está lá, mas condições culturais, sociais e psicológicas têm um impacto enorme nos índices de amamentação.
Isso significa que, grosso modo, você não precisa de NENHUM produto especial para amamentar tirando seus peitos (na verdade, um só basta) e o seu bebê.
É claro que se fosse simples assim não teria tanta gente com dificuldades. Então vamos por partes.
Chegamos a 7 bilhões de seres humanos no mundo e as alternativas seguras ao leite materno não têm nem cem anos. Isso significa que por centenas de milhares de anos, os bebês humanos mamavam no peito – de suas mães ou de outras mulheres.
E como funcionava? Primeiro, meninas cresciam vendo mães, tias, irmãs, colegas e vizinhas amamentando e não duvidavam muito de sua capacidade. Seus partos não eram cirúrgicos, então o recém-nascido mamava imediatamente. A nova mãe confiava que o bebê iria mamar quando tivesse fome. Como não existia bebê conforto, berço e nem um quartinho separado, ela geralmente estava por perto e atendia seus primeiros sinais de fome. Na verdade, mesmo quando ela sabia que o bebê não estava com fome, a forma mais simples de acalmá-lo era com o mamá.
E assim ela amamentava, em livre demanda, sem bicos artificiais, até o que era considerado “normal” na cultura dela (em geral quando a criança passava a se alimentar sozinha).
Para resumir, vamos listar o que existia naquele cenário de altos índices de amamentação.
E o que NÃO existia?
A essa altura, você deve estar cansada da parte antropológica e querendo entender o que isso tem a ver com você, certo?
Pronto, chegamos nessa parte.
Mamadeira: sinto dizer, mas não existe nenhuma mamadeira que imita a mama. Isso é marketing. A mamadeira não imita o seio por uma questão anatômica – o bebê suga o leite, e não ordenha, como no peito – e também porque o fluxo, mesmo se o buraco for pequeno, sai continuamente, diferente do leite materno, que é ejetado num ritmo que lembra uma onda. Por conta disso, o uso da mamadeira causa confusão de bicos e confusão de fluxo e é um dos principais fatores responsáveis pelo desmame precoce (quando o bebê parece largar o peito espontaneamente, o que pode causar muito sofrimento para as mães).
Chupeta: é outra grande responsável pela confusão de bicos. Ela gera uma pega errada que, por sua vez, machuca a mama e causa sofrimento materno. No longo prazo também diminui a produção de leite. Explico: o que dá o sinal para o cérebro produzir leite é o esvaziamento da mama e se o bebê está pegando mal, ele extrai menos leite, e o corpo passa a produzir menos.
Concha de amamentação: lembra daquela história de que o peito já vem pronto? Não precisa usar concha para formar bico. A concha pode ferir o seio e a umidade que fica ali predispõe a candidíase.
Bico de silicone: é um equívoco achar que você precisa de um bico protruso para amamentar. Mesmo mulheres com bico mais plano ou invertido podem amamentar sem nenhum apetrecho ali no meio. Bicos de silicone pioram a pega e causam os mesmos problemas da chupeta.
Pomadas: não há necessidade de hidratar ou preparar a mama. As pomadas deixam o bico escorregadio, dificultando a pega. Se está doendo, a pega precisa ser ajustada! Se já feriu, chame uma consultora para ontem. Pomadas e bicos de silicone são intervenções e, quando inseridos, precisam ser acompanhadas por profissionais capacitadas; caso contrário, causam mais danos.
Uma almofada em formato de meia lua ou que faça o contorno do corpo, para deixar o bebê numa altura confortável.
Sutiãs ou tops que sustentem a mama e facilitam o acesso ao peito. É importante que eles não sejam muito apertados.
Um cantinho para você ficar muito tempo sentada ou deitada com conforto, alimento e entrenimento. Não precisa ser aquela poltrona de amamentação clássica. Um canto no sofá com controle remoto perto, carregador de celular, suas séries favoritas, uma garrafa com água (ou outra bebida da sua preferência) e lanchinhos que podem ser consumidos com uma mão. Divirta-se montando o seu cantinho!
Um óleo vegetal natural e com cheiro agradável para alguém fazer uma massagem nos seus ombros e pés. O toque prazeroso libera ocitocina, que ajuda na ejeção do leite.
Uma bomba de tirar leite pode ajudar você a deixar um estoque para saídas e para a volta ao trabalho. Você pode e deve aprender a fazer ordenha manual (a consultora e as enfermeiras do banco de leite ensinam), mas a bomba é um bom investimento para quem vai precisar deixar muito leite materno estocado.
Copinhos de pinga com a borda arredondada para ofertar o leite materno na sua ausência. Não é fácil aprender a dar o leite no copinho, mas é a forma menos prejudicial, e com boa vontade e paciência o cuidador que ficará com o bebê pode aprender. Outras alternativas são: a colher dosadora, a sonda no dedinho (“finger-feeding”) e o copinho 360 ou de bico rígido.
A não ser que você more no meio do mato, não tem necessidade de ter lata de leite nem mamadeiras nem chupetas escondidas no armário “em caso de emergência”. Tenha o contato de uma ou duas consultoras ou de um banco de leite. Vai sair muito mais barato no longo prazo. E se por algum motivo você opte pela mamadeira (com leito materno ordenhado ou fórmula) ou chupeta – sem julgamentos por que só você sabe onde o calo aperta! – basta pedir para alguém ir numa farmácia. Não são objetos difíceis de encontrar para justificar uma compra com antecedência.
Um enxoval de bebê pró-amamentação deve priorizar itens que comprovadamente contribuem para o aleitamento: informação de qualidade para prevenir problemas, acolhimento para você acreditar no processo e no seu bebê e atendimento profissional baseado em evidências para resolver eventuais dificuldades. Amamentar não é “instintivo e natural”, mas se não atrapalharmos muito e buscarmos o apoio certo, tem tudo para dar certo.
Demography and Childcare in Preindustrial Socieities
http://anthro.vancouver.wsu.edu/media/PDF/demo_childcare.pdf
Tendências do aleitamento materno no Brasil em três décadas
http://www.scielo.br/pdf/rsp/v51/pt_0034-8910-rsp-S1518-87872017051000029.pdf
Randomized clinical trial of pacifier use and bottle-feeding or cupfeeding and their effect on breastfeeding
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12612229
The effects of early pacifier use on breastfeeding duration
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10049989
Amamentação e o desdesign da mamadeira, Cristine Nogueira Nunes (Editora PUC-Rio)
The politics of breastfeeding, Gabrielle Palmer (Pinter and Martin)
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Adorei e convido às gestantes, seus acompanhantes e rede de apoio a participarem de uma oficina de amamentação que eu e minha dupla faremos em Botafogo na primeira semana de abril!
Parabéns pelo texto Clarissa!
obrigada, Patricia! E sucesso na oficina. beijo, Clarissa
Salvo naquela lista marota de links para atendimento. Adorei.
Parabéns pelo texto Clarissa! Vc é sempre uma inspiração! 💕😘
obrigada, Débora! Espero que o texto possa ajudar na prevenção de muitos problemas que você deve ver toda hora como consultora... beijo grande
Maravilhoso!!
Aqui sigo com bebê de 32 dias a LM em LD. Nada de bicos 💪💪🏻
é isso aí, Gabriela! Parabéns :) Beijo, Clarissa
Muito maravilhosa ❣️