Quando a Heloísa nasceu eu não fazia ideia do que se passaria até conseguirmos estabelecer a realmente a amamentação.
Durante a gestação eu li muito sobre parto, pós parto, aleitamento materno e suas dificuldades. Me sentia preparada e por ter informações acreditei que teria menos empecilhos caso alguma intercorrência viesse à acontecer… Mas a vida sempre nos pega de surpresa e prega peças! Sempre temos e teremos algo a aprender.
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Pois, que depois de um trabalho de parto relativamente longo a Heloísa veio aos meus braços por meio de um parto domiciliar humanizado, do jeito que tínhamos planejado. Na sua primeira hora de vida ela já veio ao peito, mamou e ali ficou por vários minutos antes de pesar, medir, vestir. Teve sua Golden Hour perfeita, com contato pele à pele e todo amor e ocitocina que lhe eram merecidos.
A sua pega aparentemente estava correta, porém logo no primeiro dia de nascida notei que após as mamadas o bico do meu seio ficava com um formato estranho, torto e marcado. As enfermeiras que estiveram comigo no parto viram novamente a pega e disseram que estava correta, mas que em toda mamada eu deveria cuidar e ajustar se necessário. Dei sempre muita atenção à isso mas mesmo assim o formato estranho do bico continuava após as mamadas e comecei a ter muita dor ao amamentar. Bom, é uma região sensível e que nunca foi sugada, portanto pode ser natural doer um pouco até “calejar”. Pois bem, aguardemos que logo passa!
Logo veio a apojadura, massagens, ordenha e peito cheio.
No terceiro dia de nascida da Helô, notamos a presença de sangue nas fezes dela. Ficamos muito assustados e adiantamos a primeira consulta ao pediatra. Corremos pra Cascavel, que fica à 80km da nossa cidade. Ele indicou reaplicação de vitamina K, que já havia sido feita no pós parto, pra evitar hemorragia do recém nascido. O sangue sumiu e voltamos a nos adaptar com a rotina doida de um recém nascido em casa, sem dormir, sem descansar, etc.
Os dias foram passando e a dor nos seios continuava. Eu chorava à cada mamada mas não pensava em desistir. Não entendia o que estava acontecendo, afinal eu estava seguindo tudo o que havia aprendido, entretanto comigo a coisa não estava “funcionado” como deveria e isso me deixava frustrada, mas ainda havia esperanças de que chegaria o nosso momento de curtir a amamentação de forma plena. Enquanto isso, compressa de chá de camomila, massagens para deixar o bico do seio mole e facilitar a pega, rosquinhas de babita e o próprio leite nas feridas que se formaram no bico. Eu ficava o dia todo em casa praticamente sem roupa na parte de cima. Seios arejados e sem nada me apertando pra não piorar a dor. Quando a Helô chorava, meus seios vazavam como um passe de mágica, e eu chorava tbm pois era hora de dar o peito novamente e eu já tremia pela dor que viria.
Pratiquei desde o início a livre demanda e confesso ter sido bastante cansativo, mas compensador. Helô não saía do peito. Ela mamava, dormia e acordava pendurada no peito. Se eu não a tirasse ela simplesmente não largava. Eu entendia a importância da livre demanda, da sucção não nutritiva e permitia que ela ficasse no peito o tempo que queria, mas tinha dias que meu cansaço era tanto que quando eu percebia que ela dormia, eu tirava ela do peito e colocava na cama. Em poucos minutos ela acordava e era peito de novo. Os intervalos dela entre as mamadas eram curtos e as mamadas longas. Certo dia resolvi esperar até que ela soltasse do peito. Nesse dia fiquei sentada no sofá das 13h da tarde até as 23h da noite. Só levantei pra fazer xixi.
Comecei a me questionar se meu leite era realmente suficiente e tentar entender o porquê minha filha ficava tanto tempo no peito enquanto outros bebês próximos à mim mamavam cerca de 10 minutos e ficavam três horas sem mamar! Isso era totalmente alheio à minha realidade. Mas procurava compreender também que cada bebê tem suas necessidades e suas próprias características.
Continuei sempre verificando a pega dela, se estava correta, freio sublingual… O que poderia estar relacionando a dor no seio, o tempo infindável das mamadas? Não havia respostas.
Os dias foram passando e as visitas de rotina ao pediatra chegaram. Com 15 dias, a Helô ainda não havia recuperado o peso de nascida. Minha preocupação com a produção de leite aumentou e com 20 e poucos dias o pediatra orientou complementar com fórmula e me receitou um “remedinho para aumentar o leite”. Meu mundo caiu. O que já não vinha sendo fácil se tornou ainda mais difícil.
Não bastava lidar com o puerpério, conflitos, noites mal dormidas e seios doendo. Encarar pessoas falando que eu estava deixando minha filha passar fome e ouvir de um pediatra que a minha produção de leite era insuficiente me levou ao lugar mais fundo do poço escuro em que eu me encontrava. Saí do consultório aos prantos, sem saber o que fazer ou para onde correr. Minha amiga e Efermeira Heni, que esteve comigo durante o parto e me auxiliou em muitas coisas no meu puerpério, estava comigo na consulta. Ela e minha Mãe. Elas me acolheram, me abraçaram e sempre se colocaram dispostas a me ajudar no que fosse preciso. Que se a indicação pra Helô foi fórmula, talvez naquele momento isso seria o melhor pelo menos até ela estabelecer um peso mais “adequado”.
Fiz a complementação com a fórmula por meio da técnica de relactação. Tinha receio de dar mamadeira pela possível confusão de bicos. Preparar a fórmula e dar pra minha filha doía profundamente meu coração e em nenhum momento eu quis aceitar que minha produção de leite era baixa, porém fui atrás de pesquisar o que pudesse me auxiliar a aumentar a produção já que esse era o suposto problema. Comprei uma bomba de leite elétrica para ordenhar leite três vezes ao dia e estimular os seios a produzirem mais leite, dei mais atenção à minha alimentação e passei a tomar mais água e chás que diziam aumentar o leite… Lá fomos nós. Eu só não cedi à medicação que o pediatra prescreveu à mim. Eu sabia que o remédio não auxiliava no aumento da produção. Que era apenas um efeito colateral que ele causava dando a ilusão de aumento de produção e que os efeitos antidepressivos dele no meu organismo poderiam passar pra Helô. Eu iria conseguir de outra forma, sem uso de medicamentos e confiava nisso.
Os dias que já eram cansativos se tornaram ainda mais com a rotina de relactação, ordenha de leite até na madrugada, esterilização de todos os apetrechos… Que canseira tudo isso. Mas sem dúvidas a pior parte era o meu emocional despedaçado e os questionamentos que eu fazia: Por que comigo? Por que tudo isso está acontecendo? Por que não foi como planejei? Por que tudo o que eu estudei não estava funcionando??
Eu não julgo quem dá fórmula por opção ao filho, quem não quer amamentar, quem faz escolhas diferentes das minhas. Eu acredito e luto pela autonomia da mulher, pelo respeito às suas escolhas. E a minha escolha foi amamentar. Foi não dar fórmula, não dar chupeta nem mamadeira. Lutei com todas as minhas forças e me dediquei exclusivamente à isso por muitos dias. Tive apoio, principalmente do meu esposo, que foi um acalento ao meu coração em meio à todas as críticas e comentários que eu não queria nem precisava ouvir naquele momento.
Ofereci a fórmula para a Helô por quase uma semana e aquilo estava acabando comigo. Procurei grupos de apoio, relatos, informações de todo jeito e optei por acreditar que eu era sim capaz de suprir as necessidades da minha filha. Joguei a lata de fórmula fora e voltei ao aleitamento exclusivo. Com trinta dias a Helô recuperou o peso de nascida. Nesse meio tempo, por um período eu virei escrava da balança e de cálculos pra saber quanto peso minha filha estava ganhando por dia. Ela nunca atingia valores de tabela e a linha de ganho de peso estava sempre perto da linha vermelha no diagrama da carteirinha infantil. Até que eu me dei conta que não era isso que iria realmente iria ajudar minha filha. Ela não era uma tabela.
Precisei olhar para dentro e principalmente para ela e me dar conta de que ela estava bem. Não tinha sinais de desidratação, fazia xixi e cocô normalmente, tinha seu desenvolvimento normal. Só era uma bebê magrinha. E eu aceitei ela do jeito que ela era. Ainda que por vezes me pegasse refazendo as mesmas perguntas, se realmente meu leite era suficiente para ela, se o que eu estava fazendo era o correto… Junto com as culpas que eu já carregava como mãe. Eu tinha que lidar com tudo isso e sempre procurava meu centro, minha paz sempre com anjos que me apoiaram.
As dores nos seios passaram por volta de quarenta e cinco dias. Pude dizer que finalmente a amamentação se estabeleceu e eu me sentia feliz em amamentar. Foi a primeira conquista.
Com dois meses de idade algumas manchas vermelhas começaram aparecer pelo corpo da Heloísa e o sangue nas fezes voltou para meu desespero. O ganho de peso dela ainda era baixo, mas crescente. Surgiu a hipótese de ela ter alergia à proteína do leite de vaca – APLV. Mas ainda era cedo para ter um diagnóstico concreto. Primeiro era necessário descartar outras hipóteses.
As manchas pelo corpo aumentavam, coçavam e incomodavam muito. Troquei os itens de higiene, limpei armários, mudei sabão de lavagem das roupas, tirei amaciante… Buscando alguma alergia dermatológica ligada à produtos químicos, mas nada melhorava as manchas além de pomadas corticóides. As rajas de sangue nas fezes volta e meia reapareciam, muco nas fezes, baixo ganho de peso e dermatite atópica. Os dias foram passando e a desconfiança por APLV ia se fortificando. Mas como era possível? Ela tomou fórmula por uma semana, não consumia alimentos ainda, como poderia ter reação alérgica à algo que ela não entrava em contato?? Não fazia sentido pra mim.
Exames de sangue negativaram a possibilidade de alergia e eu entrei em uma fase de negação que durou alguns meses. Nada melhorava as manchas na pele que coçavam cada vez mais e descascavam. Descobri que crianças alérgicas à proteína do leite poderiam reagir à proteína do leite de vaca que a mãe consome e que, pelos humanos não terem capacidade de digerir essa proteína, ela cai na corrente sanguínea e acaba no leite materno.
Por fim decidi fazer o teste clínico para descartar a possibilidade da alergia e procurar outra causa para todos esses sintomas que ela tinha. Quando fui me aprofundar pra saber como fazer essa dieta isenta de leite quase caí pra trás. Nunca tinha ouvido falar nessa alergia antes da Helô nascer e quando vi todos os alimentos que podiam conter traços de leite ou proteína do leite de vaca quase entrei em desespero! Mas pela Helô eu tentaria.
Fiz uma revolução em casa para eliminar tudo o que tinha leite. Tive que trocar e encaixotar até utensílios domésticos. Em quinze dias de dieta restritiva de leite de vaca na minha alimentação, todos os sintomas da Helô desapareceram.
O teste clínico se confirmou para APLV e uma nova fase em nossas vidas se iniciou. Neste momento eu tive mais certeza que nunca, que todo meu esforço por manter a amamentação exclusiva valeu a pena. A criança que tem alergia alimentar pode ter alergia a vários alimentos. O aleitamento materno auxilia a criança a desenvolver melhor o sistema imunológico para se fortalecer em relação a tais alergias. Além de que, a maioria das fórmulas infantis são feitas à base de leite de vaca, o que prejudicaria ainda mais a saúde da Helô e fórmulas específicas para alérgicos são caríssimas e nenhum leite artificial se aproxima aos benefícios que o aleitamento materno trás.
Foram longos meses de dieta alimentar para continuar amamentando a Helô, que nesse ponto já tinha se transformado em outro bebê! Ela passou a ganhar peso de forma acelerada e em pouco tempo era maior que algumas crianças da mesma idade. Meu coração transbordava de alegria e eu tinha um orgulho imenso de mim mesma por ter lutado tanto pela nossa amamentação. Talvez meu inconsciente soubesse da importância em não desistir de tudo e poder proporcionar o melhor pra ela ao descobrir a alergia. Mas foi sem dúvidas, desafiador.
Depois de seis meses que de restrição de leite na minha alimentação, comecei a reintroduzir traços de leite, depois assados com leite, derivados de leite e leite propriamente dito. O corpo da Helô já não deu mais sinais de alergia. Após um ano e meio dela, começamos a introduzir traços de leite direto na alimentação dela. Em alguns momentos ela teve reações. Demos um passo atrás, voltamos a dieta e alguns meses depois testamos novamente. Com o passar do tempo e com a dieta restritiva o sistema imunológico dela mudou e a alergia se foi. Com aproximadamente dois anos e meio tivemos a certeza de que ela não era mais alérgica. Foi sem dúvidas uma grande conquista, depois de todas as dificuldades pelas quais passamos, e sempre muito feliz por mantido a amamentação.
Heloísa teve aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, quando começamos a introdução alimentar, e aleitamento continuado até três anos e um mês de idade. Ainda estamos num processo de desmame gentil. Confesso que em alguns momentos não acreditei que este momento chegaria, mas esta nova história cabe em outros parágrafos.
Referências:
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