Pergunta frequente em rodas de mães é sobre as regurgitações dos bebês, especialmente os novinhos, recém-nascidos. Já muito receio de que seja o que chamamos de Doença do Refluxo Gastroesofágico ou Refluxo Patológico, ou seja, um refluxo que não é fisiológico.
Mas nossa, quanto palavrão logo no primeiro parágrafo! Vamos com calma.
É perfeitamente comum e normal o bebê regurgitar (vomitar, golfar, gorfar, voltar o leite, fazer “queijinho”, enfim… Conforme a região e cultura de quem fala, vem um nome diferente). Precisamos lembrar que o aparelho digestivo do bebê ainda está em processo de amadurecimento. Todos os órgãos estão aprendendo a trabalhar adequadamente e por isso é perfeitamente comum “voltar o leite”.
A dúvida em geral é sobre qual a frequência de regurgitações é preocupante? Quando ainda posso ficar tranquila? E assim brotam dúvidas e inseguranças.
Nesse post você vai encontrar
Além de complicações do problema, quando há, de fato, um refluxo patológico, ele pode prejudicar o ganho de peso e crescimento do bebê; além dos desconfortos próprios dessa condição. Então a grande preocupação é justamente acerca da nutrição adequada.
O bebê costuma apresentar choro, sintomas de irritabilidade, se contorce, “briga” com o peito, tem o sono alterado. O problema é que esses sintomas podem aparecer por diversos motivos diferentes. Em geral, o diagnóstico é clínico (ou seja, existem exames que podem ser feitos, mas que não são conclusivos por si só, além de serem exames muito invasivos para bebês muito pequenos), o médico deve avaliar todo o quadro para chegar a uma conclusão.
Infelizmente o que se tem observado (e é apontado em alguns estudos) é que há uma enorme medicalização desnecessária que pode trazer mais prejuízos que benefícios.
A recomendação é que se tenha uma postura mais conservadora. Em casos de suspeita de refluxo o acompanhamento deveria ser próximo, observando ganho de peso e crescimento do bebê. Se for observado algum tipo de comprometimento nessa fase, que pode indicar uma nutrição inadequada, que pode ou não ser devido ao refluxo, é preciso investigar o que está ocorrendo.
Para isso é preciso conhecer a rotina da família, observar a interação mãe-bebê e outros fatores.
Antes de ser feita a prescrição do medicamento é preciso haver mudanças de atitudes comportamentais e observar seus resultados. Comprovadamente, na maior parte dos casos as mudanças cotidianas surtem um excelente resultado, dispensando a medicação.
Isso acontece porque a maior parte dos refluxos em bebês desaparece até os 12 ou 14 meses de idade, pois se trata de um processo natural de maturação do organismo da criança. Assim, o desenvolvimento que traz associado a postura mais ereta, o desenvolvimento do aparelho digestivo, a introdução de alimentos sólidos e maturação das válvulas que fecham a passagem do estômago para o esôfago acabam por corrigir o refluxo inicialmente existente, não sendo, portanto, um refluxo causado pelo ácido estomacal.
Assim, para o bebê que toma leite artificial deve ser indicada uma fórmula mais hidrolisada. Já, no caso dos bebês que mamam exclusivamente no peito (que deve ser sempre a primeira opção) é possível fazer modificações na dieta materna, especialmente exclusão de leite e derivados, para observar as reações no bebê.
Além disso, outras mudanças comportamentais devem ser tomadas, tais como:
Em geral, essas medidas trazem excelente resultado.
Alguns estudos já apontaram uma possível correlação entre alergia à proteína do leite de vaca (APLV) e o refluxo, por isso se procede a exclusão desses itens da dieta materna ou indicação de fórmula específica, por, pelo menos, 15 dias a 4 semanas, para observação do comportamento da criança.
Após tomadas as medidas descritas anteriormente e não observando melhora, o pediatra deveria encaminhar a criança para uma avaliação por gastropediatra para que avalie melhor o quadro clínico. Além disso, alguns exames podem ser solicitados antes da indicação farmacológica.
Comumente tem sido feita a indicação do medicamento para fechar o diagnóstico “à prova”, ou seja, se melhorar com a medicação, é o indicativo do diagnóstico do refluxo patológico.
Porém, as medicações mais comumente utilizadas são procinéticos (que visam diminuir principalmente os sintomas do refluxo) e inibidores da secreção ácida e, dentre esses, os mais utilizados são a Domperidona, que pode causar efeitos colaterais tais como agitação e aumento das cólicas no bebê e que podem piorar o quadro, além de, com incidência bem menor, alguns quadros de alterações cardiovasculares; e a Ranitidina, que pode causar sonolência, dor de cabeça (cefaleia), ato de bater a cabeça e seu uso persistente faz com que ocorra perda de eficácia.
Assim, em geral a medicação para bebês deve ser recomendada após estabelecimento do diagnóstico de esofagite de refluxo, lembrando que, em geral, a conduta conservadora, com mudanças comportamentais traz excelentes resultados (comprovados em estudos).
Observe seu bebê!
Em geral, é comum um refluxo fisiológico que desaparecerá com o crescimento da criança e que as medidas citadas de mudanças comportamentais podem ser implementadas para melhor caso haja vômitos persistentes, porém, a maior parte dos bebês se enquadrará no que chamamos de “vomitadores felizes”, ou seja, tem vários episódios de regurgitação, mas sua nutrição não está prejudicada nem apresenta outras consequências mais significativas pelo vômito.
Procure se tranquilizar, busque sempre mais de uma opinião e informe-se sobre desenvolvimento infantil para não ficar tão ansioso(a) em relação às fases do bebê.
Para saber mais a respeito, pode começar clicando abaixo:
Maternidade e situações estressantes no primeiro ano de vida do bebê
https://www.redalyc.org/pdf/4010/401041440010.pdf
Gastroesophageal reflux disease: exaggerations, evidence and clinical practice
https://www.redalyc.org/html/3997/399734016003/
Manejo de los trastornos funcionales digestivos más frecuentes en lactantes sanos
http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0325-00752015000600018
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