Percebo que há, por parte das mulheres, uma preparação e preocupação gigantescas com o parto e frequentemente esquecem uma parte importantíssima que são os cuidados neonatais. Não é raro conversar com mulheres e saber que elas sequer sabem o que acontecerá com seus filhos após nascerem. Quais protocolos e as razões deles. Não têm conhecimento acerca do puerpério, que dirá o pós-parto imediato.
Após o nascimento do bebê, no geral, aquele pequeno serzinho é envolto em um pano e entregue à mãe. Quando não entregam de imediato, vai aos primeiros exames para só então ir aos braços de quem o deu vida. Ainda tem outra opção (que é a pior) que é nasceu/levam-no para outra sala e de lá para o berçário onde ficará em berço aquecido até estar devidamente estabilizado (falo de batimentos cardíacos e temperatura).
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Esse texto é uma reflexão de como nos perdemos da nossa condição primeira: a de sermos animais. Somos seres mamíferos racionais. Somos parte da natureza, chegamos sem roupa, sem adornos ou fraldas. Não temos tantas necessidades senão o contato com quem mais nos traz segurança: nossa mãe, ou se não for possível, nosso pai ou outro alguém próximo.
Pergunto-me o que aconteceu com a raça humana depois da medicalização do parto, que tudo passou a ser tão controlado, protocolado, asséptico. As mulheres ali à mercê dos obstetras e protocolos hospitalares foram perdendo aos poucos seu protagonismo. Fomos ficando sozinhas no momento de parir quando éramos acostumadas a estar com várias mulheres experientes e familiares ao nosso redor. Parir tornou-se um evento médico.
Você já pensou qual a real necessidade daquele bebê que acabou de chegar ao mundo? Será que ele precisa mesmo ser pesado, analisado, aspirado e medido assim que nasce? Um neném que nasce bem, a termo, respirando, pode e deve ficar com a mãe. É o natural! Era para ser o normal! Porque é o mais saudável e fisiológico. Observem seus bichos de estimação quando e se tiverem essa oportunidade. Aonde vão os filhotinhos logo após o nascimento? A natureza dá o seu show e nenhum de nós deveria impedir isso. Qualquer medição ou pesagem pode esperar! A hora de ouro vale ouro!
Um bebê que nasce bem, que não tem necessidade de procedimentos emergenciais, ao ser entregue à mãe, tem logo de cara o fortalecimento do vínculo com ela, tem ajuda na estabilização da circulação sanguínea, dos batimentos cardíacos, da respiração e da temperatura. A transição útero-mundo aqui fora é muito mais tranquila, o choro é reduzido, o que diminui o hormônio do estresse (o cortisol), afinal ele está no seu lugar seguro. Essa é ótima: o bebê entra em contato com as bactérias da mãe, o que é extremamente benéfico, pois são as bactérias que ele já era acostumado e isso fortificará seu sistema imunológico. Sem falar no estímulo desse ato tão simples na amamentação! O seu filhote juntinho de você te encherá de ocitocina, hormônio crucial para amamentar.
A medicalização do parto teve seus benefícios e hoje evitamos muitas mortes devido às tecnologias e todo o conhecimento que podemos contar hoje em dia, mas vamos combinar que algumas coisas não deveriam ter sido perdidas. Esse contato pele a pele é um deles. E quando eu falo pele a pele, é PELE COM PELE! Sem pano no meio. Aquele cheirinho de recém-nascido, aquele encontro mãe e filho, esse contato prolongado, a natureza em ação fazendo o que ela sabe fazer de melhor: encantar-nos.
Seja consciente, problematize o que é posto a você e seu filho. Isso faz parte da nossa autonomia como mulher, como mãe. Muitos procedimentos podem ser realizados com o bebê no seu colo. O contato pele a pele precoce é o primeiro cuidado com o recém-nascido que considero que devemos ter. Costumamos pular do parto para os cuidados formais com o RN (coto umbilical, banho, troca de fralda, shantala), mas você já havia pensado nesse cuidado tão simples e gostoso? Manter seu filhote juntinho do teu corpo além de ser uma delícia, trará benefícios valiosos e grátis aos dois! Lute por isso! O melhor berço aquecido é VOCÊ!
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Referências
O corpo no trabalho de parto – o resgate do processo natural do nascimento. Eliane Bio. 2015.
Contato pele a pele precoce entre mães e recém-nascidos saudáveis – https://www.cochrane.org/pt/CD003519/PREG_contato-pele-pele-precoce-entre-maes-e-recem-nascidos-saudaveis
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