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Quando o leite “vira água”?

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Saber quando o leite “vira água” é uma dúvida de muitas pessoas que amamentam. Para te responder o momento exato em que o leite “vira água”, aquele momento em que o “leite se torna fraco” para o bebê ou “insuficiente” para mantê-lo saciado, eu trouxe algumas explicações simples sobre o leite materno e sua utilidade no desenvolvimento do bebê.

Como identificar que o leite “virou água”?

Existem situações que comumente são associadas ao momento em que o leite “vira água”. Veja abaixo:

  • O bebê que só fica no peito. Aquele bebê que a mãe amamenta por 1h sem pausa, ele dorme no peito e quando é afastado do seio, inicia o choro novamente e volta a mamar. Parece um ciclo sem fim.
  • O bebê que chora sem descanso! Mesmo com a fralda limpa, não parece cólica e o peito já foi oferecido, mas não funciona.
  • O bebê que já consome outros alimentos além do leite de peito.
  • O bebê cresce abaixo da linha média de desenvolvimento para os bebês da mesma idade.

Essas situações são popularmente conhecidas, porém, elas não têm embasamento científico algum! Ou seja, elas não são reais e vou te explicar agora o motivo.

Entendendo o leite materno

O leite materno humano é o alimento mais rico para o bebê humano. Nenhum outro alimento é tão completo e nutritivo como ele. Tenha em mente que todos os mamíferos no mundo, inclusive com os humanos, produzem o melhor leite para o seu filhote. Isto é, o leite da vaca (ou da cabra ou da búfala) não é mais forte para o bebê humano do que o leite da própria mãe.

Segundo o Ministério da Saúde,

“Apesar de a alimentação variar enormemente entre as pessoas, o leite materno, surpreendentemente, apresenta composição semelhante para todas as mulheres que amamentam do mundo. Apenas as com desnutrição grave podem ter o seu leite afetado na sua qualidade e quantidade”

Acervo Canva,

Desnutrição grave, viu? Não é uma mulher que perdeu peso rápido após o nascimento do bebê, ou uma mulher que sempre foi magrinha.

E mais: o leite produzido pela mãe é o melhor para o próprio filho, pois atende as demandas específicas de cada fase da vida dele! Isso acontece porque a natureza é muito sábia e permite que o corpo de quem amamenta capte as necessidades do seu bebê através de percepções que nem a própria ciência consegue explicar plenamente. Aqui vão alguns exemplos:

Colostro: O bebê nasce e o primeiro leite que ele consome se chama Colostro – aquele, da hora de ouro, a primeira hora de vida. É um leite mais grossinho, amarelado e produzido em pouca quantidade, mas extremamente nutritivo. Ele atende as demandas do bebê que, nos primeiros dias, ainda está aprendendo a mamar, que mama por pouco tempo, mas que se mantém bem nutrido por horas!

Apojadura: Após dias do nascimento acontece a descida do leite, uma grande produção de leite para o corpo entender o quanto o bebê precisa comer. O nome desse evento é Apojadura. Depois de uma semana, essa super produção vai se regulando e passa a ser estimulada pela demanda do bebê. Ou seja, quanto mais o bebê mama, mais leite será produzido. Quanto menos ele mama, menos leite será produzido.

Leia também: por que meu peito dói? Apojadura.

Bebê doente: Quando o bebê está doente, o corpo da mãe capta essa informação e dá uma turbinada no leite para aumentar a imunidade do bebê. Tudo isso de acordo com o que ele tem: seja uma gripe ou uma inflamação. Bebês na UCI ou UTI que tem contato pele a pele (I love you, Método Canguru) também tem esse privilégio quando podem ser alimentados diretamente no seio ou pela oferta do leite por sonda nasogástrica ou copinho. Segundo estudos, o leite materno além de nutritivo é reconhecido como uma intervenção para alívio da dor de recém-nascidos prematuros.

Então, por que tudo isso acontece?

O problema do “leite que vira água” é gente falando água. Conheça algumas explicações para as situações apresentadas no início desse texto:

  • Bebê dorme no peito e chora quando sai. Mamar é muito relaxante e prazeroso para o bebê, é fácil dormir assim. E lembre que, se o bebê vai para o peito porque sente fome, ele não adormece se continua com fome.

    Acervo Canva,

  • Bebê que chora e não pára nem no peito. O recém-nascido ainda está aprendendo a existir no mundo: pela primeira vez sente fome e precisa se esforçar para se nutrir; pela primeira vez os próprios órgãos estão ativos para fazer todo o processo que no útero era feito pela placenta. Às vezes, o choro não tem relação com fome, mas com necessidade de acolhimento, de colo mesmo, até aquele incômodo passar.
  • Bebê que já come. A introdução alimentar é o período em que o bebê está conhecendo os alimentos diferentes do leite. Nesse período, de 6 a 12 meses o leite materno é a principal forma de nutrição e os alimentos diversos são complementares. Isso se inverte a partir do primeiro ano de vida – o leite passa a ser o complemento da alimentação, mas não deixa de ser importante!
  • Bebê que cresce abaixo da linha média de desenvolvimento. Na Caderneta da Saúde da Criança, disponibilizada pelo SUS, existem parâmetros de desenvolvimento e acompanhamento de crianças de zero a dez anos de idade. Lendo o gráfico de desenvolvimento por peso, altura e índice de massa corporal (IMC), você pode observar que existem 3 linhas dentro do aspecto “bebê crescendo bem e saudável” além da linha central. Se seu filho está dentro dessa margem (que é bem grande), está tudo bem.

Quando existe um problema?

Se amamentar está sendo dolorido ou te faz ter dúvidas sobre a produção e qualidade do teu leite, entre em contato com um profissional que possa te dar suporte especializado em amamentação.

Existem situações que podem influenciar a amamentação e a nutrição do seu filho:

  • Uso de bicos artificiais (chupeta ou mamadeira): lembra que o bebê está aprendendo a mamar nos primeiros dias (pode levar até o mês ou mais)? Quando o bebê usa chupeta ou mamadeira, ele aprende uma nova forma de sugar – que é bem diferente do movimento que ele precisa fazer para mamar. Isso torna mais difícil para ele tirar o leite do peito da mãe: ele faz mais esforço.
  • Posição e pega errados: quando você for amamentar, é importante ter o corpinho do bebê junto ao teu de uma forma que ele não fique com a cabecinha virada para o lado, para cima ou para baixo, posicionar bem a boca dele para que ele sugue a maior parte da aréola (a parte mais escura do peito) e não só o bico. Quando o bebê pega errado ou está mal apoiado junto ao corpo da mãe, mamar fica mais difícil para ele.
  • Bebê com a “língua presa”: sabe aquele “freio lingual” (aquela pele fininha que fica de baixo da língua)? Quando ela vem mais pra ponta da língua, torna mais difícil para o bebê fazer o movimento necessário para uma amamentação eficiente.
  • Hipolactação: nome da baixa produção de leite diagnosticada por profissional de saúde. É quando, por algum motivo, a mãe não produz a quantidade de leite “esperada”.
  • Mulher que fez redução de mamas: as partes retiradas da mama pode ter levado consigo algumas estruturas da mama importantes para a produção do leite. Atenção: não quer dizer que você terá essa dificuldade, mas que ela pode acontecer.

Leia também: o bebê nasceu, e agora? Conheça 10 benefícios da hora de ouro para toda a vida.

Todas, exatamente todas as situações ditas tem soluções. Você pode encontrar a ajuda necessária em bancos de leite humano ou com profissionais do aleitamento, como consultoras e apoiadoras do aleitamento materno.  Se você precisa de uma força com a amamentação e for de Pernambuco, pode falar comigo através dos contatos aqui.

Acervo pessoal. @maludoula

 

E se você quer amamentar, lembre que:

  • O leite é produzido enquanto o bebê mama.
  • Quanto mais o bebê mama, mais leite se tem.
  • O leite só é nutricionalmente insuficiente para o bebê quando a mãe sofre de desnutrição grave.
  • O leite humano é o alimento mais completo e rico para o bebê.
  • O leite não vira água nunca!

 Referência:

BRASIL. Saúde da Criança – Aleitamento Materno e Alimentação Complementar. Ministério da Saúde. 2015. (clique aqui)

OMS. Dez etapas para o sucesso da amamentação (revisado em 2018). Organização Mundial da Saúde. 2018 (clique aqui)

UNICEF. Aleitamento Materno. (clique aqui)

BRASIL. Atenção à Saúde do Recém-Nascido. Ministério da Saúde. Vol. 2 (clique aqui)

 

 

 

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Doula Malu Moraes (Recife - PE)

Sempre fui encantada pelo parto normal e amamentação. Quando tive meu primeiro filho eu queria viver isso plenamente, mas tive um parto roubado sem esforço e daí começou a inquietação que trago comigo até hoje. Estudei, conheci, vi as possibilidades do nascer humanizado. Meu caçula chegou de uma forma diferente: um vbac domiciliar planejado. Com a chegada dele transformei a inquietação em energia para ser suporte para outras pessoas que desejam e acreditam, como eu, num gestar e parir com respeito, amor e acolhimento.

Em 2017, comecei minha jornada profissional e hoje sou doula, educadora perinatal, apoiadora em aleitamento. Meu objetivo é levar informação de qualidade numa linguagem simples e clara para as pessaos que desejam experiências positivas na chegada de seus filhos. Você pode conferir no instagram Malu Doula um pouco mais desse trabalho.

Também integro a Rede Koru, coletivo de doulas que trabalha com rodas de conversa abertas ao público e também com doulagem coletiva, uma modalidade especial do acompanhamento.

Gostasse? Clica aqui que te falo como trabalho presencial e virtualmente.

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