Quando vamos falar sobre leite materno, alguns mitos e nossa cultura familiar pairam em nossa mente. Tudo que vimos e percebemos ao longo de nossa vida fica ali registrado nas nossas lembranças. Muitas de nós nunca viu uma mãe amamentando seus bebês, e mesmo durante a infância as brincadeiras já giravam em torno de bonecas e mamadeiras.
Na maioria dos meus atendimentos como consultora em aleitamento percebi que deixar o bebê passar fome, é o maior medo das novas mães.
É comum que quando recebemos nosso pequeno bebê nos braços esse medo nos assombre, assim como a ideia do leite materno não sustentar o bebê. Espero, nesta leitura, esclarecer alguns pontos e te abraçar em suas dificuldades.
Nesse post você vai encontrar
Durante um século a alimentação infantil foi sendo mudada, primeiro por leites de outros animais depois por fórmulas cada vez mais parecidas com o leite materno. O mundo moderno foi acontecendo, as mães foram trabalhar fora, sem poder levar seus bebês, e estes precisavam ser alimentados. Neste período a mortalidade infantil alcançava níveis exorbitantes, água contaminada e a falta de higiene contribuiam para isso.
A introdução dos substitutos para o leite humano representa o maior experimento in vivo não-controlado. Nenhuma função humana foi tão agredida, modificada, artificializada quanto a amamentação. Então colhemos os frutos deste século de desserviço a amamentação.
Podemos perceber que nas maternidades a amamentação é pouco incentivada. As mães são instruídas a usar artifícios para conseguir amamentar, tanto medicamentoso quanto mecânico, minando a confiança e a segurança destas novas mães.
Pouco se estuda sobre como esse mecanismo acontece. Como essa mama produz, como ela estará de aspectos mensuráveis, quanto de leite precisa ser produzido que dê respostas a essas mulheres neste momento delicado. O manejo dos profissionais ainda é determinista e a oferta de fórmula é quase padronizada. Vou apresentar o valor nutricional de leite.
Alguns aspectos principais do leite materno podem ser destacados: é higiênico, pois vem direto da fonte, sem contaminantes, é o único com carga imunológica, é específico da espécie.
Os estudos mostram que a composição do leite humano, especialmente quanto à presença de micronutrientes, é muito variada e pode ser influenciada por diversos fatores como a individualidade genética, a nutrição materna e o período de lactação. Ocorrem, também, variações entre grupos étnicos e entre mulheres. Para uma mesma mulher, são registradas variações no decorrer da lactação, ao longo do dia e durante uma mesma mamada, havendo diferenças entre o leite da frente e o último a sair (anterior e posterior) com alterações na concentração dos macro e dos micronutrientes.
Ele se apresenta na mama em fases,o primeiro estágio do leite é o colostro, que ocorre do nascimento até em média o sétimo dia, se caracteriza como líquido amarelado e viscoso, possuindo maiores concentrações de proteínas, minerais e vitaminas lipossolúveis (principalmente A e E) bem como menor teor de lactose, gorduras e vitaminas do complexo B. Ele apresenta em média 58kcal/100ml. 2,5-4g/100ml de proteína. 4g/100ml de lactose. 2g/100ml de gordura.
Entre o sétimo e o décimo quinto dia acontece a transição do leite, as modificações ocorrem gradual e progressivamente.
Após o décimo quinto dia em média, temos o leite maduro que apresenta em média 71kcal/100ml. 1,5-1,8g/100ml de proteína.7g/100ml de lactose. 3-3,8g/100ml de gordura. (segundo Anderson GH, 1985; Wilson AC et al, 1998) na sua composição.
Apesar de sabermos que o leite materno é o melhor para os recém nascidos, o manejo da amamentação vai muito além disso. Estudos mostram que a depressão pós parto tem maior incidência quando a mãe não alcança seus objetivos com a amamentação. As informações versus a pressão social no puerpério podem desencadear muitas comorbidades psicológicas. Hoje temos duas boas alternativas para quem está no meio desse furacão de emoções. Primeiro são as consultoras em aleitamento materno, profissionais que estão estudando e manejando a amamentação como um evento bio psico social, ajudando as mães e famílias e entender e interpretar os sinais que os bebês apresentam. Procure ajuda destas profissionais. Rodas de apoio temáticas também podem ser uma opção de apoio e informação, a construção de novos relacionamentos com pares é saudável nesta fase. Bancos de leite humano, essa pode ser a única alternativa em algumas cidades do interior, mas vale o investimento de tempo e deslocamento para encontrar com profissionais que olhe com olhar
específico para você e seu bebê
Enquanto escrevia esse texto, uma jovem mãe foi assediada e não pôde amamentar seu bebê em público, um governante assinou leis que prejudicam a amamentação. Em nossa sociedade, amamentar é um ato político, nutrir seu bebê de forma natural em seus primeiros meses de vida é lutar contra uma maré bem volumosa.
Escrevi baseada nas informações destes artigos, se quiser leia-os também:
Giugliani ERJ, Lamounier JA. Aleitamento materno: uma contribuição científica para a prática do profissional de saúde. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Supl):S117-S118.
COMPOSIÇÃO MINERAL DO LEITE MATERNO DE BANCOS DE LEITE Marcelo A. MORGANO, , Lidiane A. SOUZA2, Júlio M. NETO, Patrícia H. C. RONDÓ
American Academy of Pediatrics, 1997; Bates CJ and Prentice A 1994; Kunz C et al, 1999; Koldovsky O, 1995
American Academy of Pediatrics, 1997; Morley Lucas A et al 1992; Koletzko S et al, 1989; Saarinen VM and Kajosaari M, 1995; Wilson AC et al, 1998
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