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Golden hour: a primeira hora de vida do bebê

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Foto de @kuara_fotografia

Após toda a aventura que é nascer, é chegado um momento primordial para a mãe e o bebê, a hora de ouro, os primeiros 60 minutos após o nascimento são fundamentais para o estabelecimento do vínculo afetivo entre ambos, o sucesso na amamentação e a saúde a longo prazo do recém-nascido.

 

Como aproveitar a hora de ouro?

Foto de Daniela Djean – @danieladjeanpartos

Há inúmeros estudos comprovando os benefícios de mãe e bebê serem colocados em contato pele a pele tão logo seja possível após o parto, preferencialmente nos primeiros minutos de vida e sem cortar o cordão umbilical imediatamente, independente da via de nascimento há maneiras de se fazer esse momento acontecer. É de extrema importância que os profissionais que estejam assistindo o parto proporcionem e estimulem esse contato precoce.

Foto de Daniela Djean – @danieladjeanpartos

O bebê sai do útero em uma temperatura aproximadamente de 37 graus para o ambiente extrauterino com uma temperatura bem mais baixa, não há nenhum berço aquecido que supra melhor a perda de temperatura do bebê do que o seio da mãe, aliás, essa é a parte do corpo que mais exala calor após o nascimento, é ideal que mãe e bebê estejam em contato nus, sem nenhuma roupa ou pano entre eles, pode-se colocar um cobertor ou cueiro nas costas do bebê para ajudar manter o calor.

Foto de Instinto Fotografia e Filme, por Bianca Namorato – @instintofotografia

O bebê geralmente nasce envolto por uma substância branca chamada vérnix, é como se fosse um creminho branco, um hidratante natural do bebê, quando ele é colocado sobre o colo da mãe, ele é colonizado por bactérias positivas da flora materna que irão ajudar na imunização desse bebê. Se mãe e bebê estão bem, não há também procedimentos e avaliações no bebê tão importantes que não possam ser feitos mais tarde ou no próprio colo da mãe.

Foto de Iluminar Partos – Clara Fernandes – @iluminarpartos

 

Por que a hora de ouro é tão importante?

Foto de Daniela Djean – @danieladjeanpartos

É nesse momento que é estabelecido o vínculo afetivo. O contato entre mãe e bebê nesse momento é muito especial, sentir o cheiro, o calor e o gosto um do outro; o bico do seio materno tem o mesmo cheiro do líquido amniótico. A troca de olhares; ao nascer o campo de visão do bebê é de 30 cm, é a distância dos olhos da mãe aos olhos do bebê no seio, ele consegue ver os traços da mãe, o sorriso.

Foto de @kuara_fotografia

Esse momento acarreta um pico de ocitocina (hormônio do amor) jamais vivido antes por ambos, é o que podemos chamar de imprinting, é uma marca que ficará guardada para sempre na vida daquele bebê e da mãe também, em aspectos de segurança e amor, é um momento mágico que deve ser respeitado e vivido de uma forma tranquila. É o primeiro encontro, o reconhecimento do mundo por aquele bebê, ele vai ouvindo a voz dos pais e entendendo que aqui também pertence a ele. O cordão umbilical ligado ao bebê ajuda a fazer a transição para este mundo suavemente, pois é aos poucos que o bebê vai precisando de oxigênio, seu corpinho vai ficando com uma cor mais rosinha (até então era roxinho ou esbranquiçado, ele nasce assim, pois dentro do útero não há muita oxigenação, e é completamente normal), o cordão vai parando de pulsar e em breve não terá mais funcionalidade.

 

Foto de Iluminar Partos – Clara Fernandes – @iluminarpartos

O bebê começa a fazer os movimentos de sucção com a boquinha, treinando para a amamentação e é muito importante que ele possa mamar já na primeira hora pois é quando ele está bem desperto em razão do parto, em breve ele dormirá um sono profundo para descansar e assimilar todas as coisas novas que ele viu e sentiu neste mundo. Apenas alguns ML de colostro (leite produzido nos primeiros dias) são suficientes para esse primeiro momento.

Foto de @kuara_fotografia

 

Mas como posso garantir que a hora de ouro será respeitada se eu escolher ter meu bebê em um hospital?

Foto de @kuara_fotografia

Bom, infelizmente não são todas as maternidades que trabalham com evidências cientificas sólidas, então estude durante a gestação, conheça seus direitos e do seu bebê, se empondere de verdade e também a quem irá te acompanhar neste momento. Monte seu plano de parto, explicando como você deseja que as coisas aconteçam, conheça as maternidades, casas de parto e equipes da sua região, visite-as, questione como são os procedimentos realizados nos partos, as taxas de cesárea, e escolha aquela onde você se sentir mais segura e principalmente as que possuam profissionais atualizados, que respeitem a fisiologia do corpo, que incentivam a amamentação e o protagonismo da mulher.

 

Hospital amigo da criança

Vanessa amamentando a Maria Júlia na hora de ouro

Na década de 1990 a UNICEF em parceria com a Organização mundial da saúde estabeleceu diretrizes para os estabelecimentos que atendem mulheres e recém-nascidos se tornarem centros de apoio a amamentação. Em poucos anos as taxas de bebês amamentados por vários meses aumentaram consideravelmente nos países que aderiram a essa iniciativa. Esses estabelecimentos devem estar em constante atualização, todos os anos são fiscalizados para ter-se certeza que seguem os parâmetros estabelecidos. Foram criados 10 passos para que esses estabelecimentos pudessem ser considerados Hospitais amigos da criança:

  • É necessário ter exposta dentro do hospital a política escrita de amamentação, e que seja rotineiramente comunicada a toda equipe de saúde;
  • Treinar toda a equipe de saúde nas habilidades necessárias para implementar essa política;
  • Informar todas as pessoas grávidas sobre os benefícios e o manejo da amamentação;
  • Ajudar as mães a iniciar a amamentação dentro de meia hora após o nascimento;
  • Mostrar as mães como amamentar e manter a lactação, mesmo que elas devam ser separadas de seus bebês;
  • Não dar aos recém-nascidos alimento ou bebida que não seja o leite materno, a menos que indicado clinicamente;
  • Praticar alojamento conjunto, isto é, permitir que mães e bebês permaneçam juntos 24 horas por dia;
  • Encorajar a amamentação sobre livre demanda;
  • Não dar bicos artificiais ou chupetas a bebês amamentados;
  • Incentivar o estabelecimento de grupos de apoio ao aleitamento materno e encaminhar as mães para eles na alta hospitalar ou clínica.

 

Benefícios a longo prazo da hora de ouro

Alice comemorando 6 meses de amamentação exclusiva

O estimulo a amamentação na primeira hora de vida ou no máximo na segunda hora só traz benefícios a mãe e bebê, e os benefícios são ainda maiores aos recém-nascidos prematuros. Ambos possuem maiores chances de sucesso na amamentação prolongada, a longo prazo essa atitude pode ser de suma importância para saúde do bebê e também da mãe, proporcionando:

  • Redução de mortalidade infantil e morte súbita;
  • Redução de diarreias e doenças respiratórias;
  • Diminuição da probabilidade da criança desenvolver diabetes tipo 1 e 2, obesidade, colesterol alto, pneumonia e leucemia;
  • Diminuição da incidência de câncer de mama e ovários na mãe;
  • Diminuição da probabilidade da mãe desenvolver diabetes tipo 2, síndrome metabólica e sofrer infarto;
  • A mãe perde o peso gestacional mais rápido;
  • Diminuição da probabilidade de ocorrência de depressão pós-parto;
  • Significativa economia financeira.

 

Foto de Iluminar Partos – Clara Fernandes – @iluminarpartos

A natureza é sábia e moldou todo esse processo a milhares de anos de uma maneira muito sútil. Seu corpo gestou seu bebê e irá alimenta-lo pelos próximos meses. Vivenciar a hora de ouro pele a pele é dar boas-vindas a vida que chega, é demonstrar que aqui pode ser um bom lugar para ficar, é dizer com o olhar: “fique tranquilo(a) aqui agora é o seu lugar e eu estarei sempre com você, meu peito agora é o seu abrigo”.

 

Referências:

Práticas de nascimento saudável: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4235060/

Relação da via de parto e a amamentação na primeira hora de vida:

http://periodicos.unifor.br/RBPS/article/view/7321/pdf

A iniciativa Hospital amigo da criança:

https://www.unicef.org/programme/breastfeeding/baby.htm

Protegendo, promovendo e apoiando a amamentação em instalações que prestam serviços de maternidade e de recém-nascidos:

 http://www.who.int/nutrition/publications/guidelines/breastfeeding-facilities-maternity-newborn/en/

A iniciativa hospitalar amiga do bebê e a amamentação ao nascer no Brasil: um estudo transversal:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27766969

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Doula Julia Agnes (Grande Florianópolis e Itajaí - SC)

Sou natural de Florianópolis e aqui me tornei Doula em 2017. Presto auxílio na gestação, parto e pós parto e sou facilitadora do aleitamento materno. Sou fundadora e artesã da By Dinda Enxovais e cofundadora do Grupo Grão do Ventre.

Mulher em construção e desde criança nutro muita curiosidade no processo de gestar e parir. Sou apaixonada por nascimentos e milito pelo direito das mulheres de terem seus desejos respeitados e que seus filhos(as) possam nascer de uma forma amorosa e suave.

Atuo na Grande Florianópolis e região de Itajaí/SC.

Telefone: (48) 99805-7430

E-mail:  juliaagnesdoula@gmail.com

Instagram: @doulajuliaagnes

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