O leite humano é considerado o alimento mais seguro para os neonatos, isso porque além de uma composição extremamente rica, possui aspectos que o torna adequado aos bebês favorecendo o ganho de peso, redução do risco para enterocolite necrotizante (ECN), proteção imunológica e a redução da mortalidade desses neonatos.
As mudanças mais bruscas na alimentação infantil ocorreram entre 1850 e 1970, quando começaram gradativamente a substituir o leite materno por fórmulas industriais na tentativa de assemelhar-se ao leite humano. Segundo Moysés Paciornik, nenhuma função humana foi tão agredida, modificada e artificializada quanto à amamentação.
Devido ao crescente abandono à pratica da amamentação e as consequências catastróficas a saúde infantil devido ao uso desenfreado de leites artificiais, iniciou na década de 70 um movimento para a retomada da amamentação, para isso seria necessário conscientizar as pessoas sobre os benefícios do leite materno e em contra partida, conscientizar sobre os riscos de agravo à saúde através da fórmula industrial. A partir de então despertou o interesse de cientistas do mundo todo, que passaram a estudar os diversos aspectos do leite humano, provando cientificamente sua superioridade diante de seus pretensos substitutos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o aleitamento materno deve ser exclusivo até o 6º mês de vida do bebê, sendo complementada até os 2 anos ou mais. Porém, a situação no Brasil deixa a desejar, com uma média de 10 meses de amamentação, sendo apenas de 23 dias de amamentação exclusiva.
Composição do leite materno
O período do colostro é variável, pois este pode ocorrer entre o 3º e 7º dia, após o nascimento do bebê. O colostro é um leite fluido, espesso e amarelado, devido à sua elevada concentração de carotenos. O volume excretado pela mãe varia de 2 a 20 ml/mamada e fornece aproximadamente 54 kcal/dl, contendo 2,9 g/dl de lipídios, 5,7 g/dl de lactose e 2,3 g/dl de proteína, o que o torna quase três vezes mais rico em proteínas se comparado ao leite maduro. Além disso, contém elevada concentração de imunoglobulinas, lactoferrina, linfócitos e macrófagos, os quais conferem ação protetora ao leite humano (BALLARD; MORROW, 2013). Ainda, apresenta alto teor de minerais, destacando-se o teor de sódio, potássio e cloretos e a elevada concentração de vitaminas lipossolúveis, com destaque para vitamina A e E e carotenoides (VALENTINE; WAGNER 2013; CURY, 2009).
O leite de transição é produzido geralmente entre o 5º e 15º dia de lactação. Nesta fase, o leite sofre modificações na sua concentração, composição e volume, até atingir os valores médios do leite maduro (BRASIL, 2008; BALLARD; MORROW, 2013). A composição e volume do leite maduro é estável e apresenta um volume médio de 700 a 900 ml/dia, nos primeiros seis meses de lactação. No segundo semestre, o volume é de aproximadamente 600 ml/dia, e de apenas 55 ml/dia no segundo ano de lactação, fornecendo em média 70 kcal/dl (CURY, 2009).
Além de a composição nutricional do leite humano variar durante as fases de lactação, há variações nos diferentes estágios da amamentação. O leite do início da mamada, denominado “leite anterior”, apresenta maior teor de água e tem aspecto semelhante ao da água de coco, sendo importante fonte de anticorpos.
O leite do meio da mamada tende a ter uma coloração branca opaca devido ao aumento da concentração de caseína. Já o leite do final da mamada, denominado “leite posterior”, apresenta maior conteúdo energético, que promove maior saciedade para a criança. Além disso, o leite posterior apresenta maior teor de ß-caroteno, tão importante para o desenvolvimento da criança. Estas variações embasam a importância do esvaziamento completo da mama durante a amamentação, visando suprir todas as necessidades nutricionais da criança (VITOLO, 2014; BRASIL, 2009).
As proteínas do leite humano são qualitativamente diferentes das do leite de vaca. Do conteúdo protéico no leite humano, 80% é lactoalbumina, enquanto que no leite de vaca essa proporção é de caseína. A relação proteínas do soro/caseína no leite humano é aproximadamente 80/20, enquanto a no leite bovino é 20/80. A baixa concentração de caseína no leite humano resulta na formação de coalho gástrico mais leve, com flóculos de mais fácil digestão e com reduzido tempo de esvaziamento gástrico. O leite humano contém também, diferentemente do leite de vaca, maiores concentrações de aminoácidos essenciais de alto valor biológico (cistina e taurina) que são fundamentais ao desenvolvimento do sistema nervoso central. Isso é particularmente importante para o prematuro, que não consegue sintetizá-los a partir de outros aminoácidos por deficiência enzimática.
As fórmulas infantis são desenvolvidas a partir do leite de vaca, tendo como referência o leite humano. Algumas são adicionadas de soro de leite, resultando em melhoria na relação proteína do soro: caseína e melhor digestibilidade. Também tem acréscimo de carboidratos, visando à adequação energética. Elas são parcialmente desnatadas, desmineralizadas e adicionadas de óleo vegetal, vitaminas e ferro (LOPEZ; JUZWIAK, 2003).
As fórmulas infantis foram criadas com a finalidade de se assemelhar ao leite materno, no entanto, sua composição não se iguala às propriedades fisiológicas do leite humano, que são específicas da mãe para o próprio filho. As fontes de carboidratos, proteínas e outros componentes presentes nas fórmulas infantis diferem em identidade e qualidade dos componentes do leite humano (BRASIL, 2012). Os lactentes alimentados com leite humano e com fórmulas infantis diferem quanto ao crescimento físico e ao desenvolvimento cognitivo, social e emocional (VANDENPLAS et al., 2011).
Como ocorre a produção do leite materno?
As mulheres adultas possuem, em cada mama, entre 15 e 25 lobos mamários, que são glândulas túbulo-alveolares constituídas, cada uma, por 20 a 40 lóbulos. Estes, por sua vez, são formados por 10 a 100 alvéolos. Envolvendo os alvéolos, estão as células mioepiteliais e, entre os lobos mamários, há tecido adiposo, tecido conjuntivo, vasos sangüíneos, tecido nervoso e tecido linfático. O leite produzido nos alvéolos é levado até os seios lactíferos por uma rede de ductos. Para cada lobo mamário há um seio lactífero, com uma saída independente no mamilo.
Desde a gravidez a mama já é preparada para a amamentação (lactogênese fase I) por diferentes hormônios, os mais importantes são o estrogênio, responsável pela ramificação dos ductos lactíferos, e o progestogênio, pela formação dos lóbulos. Ainda temos outros tais como lactogênio placentário, prolactina e gonadotrofina coriônica.
Com o nascimento do bebê e da placenta, a mulher sofre uma queda nos níveis sanguíneos de progestogênio, consequentemente a hipófase anterior libera a prolactina iniciando a (lactogênese fase II) e a secreção do leite. Há também a produção da ocitocina durante a sucção, hormônio produzido pela hipófise posterior que é responsável de contrair as células mioepiteliais que envolvem os alvéolos, expulsando o leite neles contido. A produção do leite é controlada principalmente pelos hormônios, e a descida do leite que geralmente acontece até uma semana após o parto, ocorre mesmo que não haja sucção. Esse costuma ser o período mais difícil para a amamentação, pois podem ocorrer dificuldades, tais como má pega do bebê, estado emocional da mãe e dores nas mamas.
Após a descida do leite inicia-se a fase III da lactogênese, essa é a fase que se mantém por todo o período da lactação, onde o sucesso da amamentação depende da sucção do bebê e do esvaziamento da mama. Quando por algum motivo esses fatores não ocorrem a produção é prejudicada, gerando uma diminuição da produção. Outros fatores também podem afetar diretamente na produção como por exemplo a dor, o estresse, a ansiedade, o medo, a insegurança e a falta de autoconfiança, esses sentimentos podem inibir a liberação de ocitocina.
Grande parte do leite é produzido durante a mamada, então, lembre-se: PEITO NÃO É ESTOQUE, É FABRICA!
Veja alguns mitos sobre leite materno e amamentação
Ø Leite fraco*
· Não existe leite fraco, porém, o leite produzido por mulheres desnutridas, pode conter uma quantidade de nutrientes inferior ao ideal.
Ø Alguns bebês são alérgicos ao leite materno*
· A alergia não se deve ao leite materno, e sim a alguma proteína ingerida através da dieta da mãe, nesses casos a mãe deve retirar da sua dieta aquilo que causa alergia no bebê e continuar com a amamentação normalmente.
Ø Dar de mamar quando o bebê está deitado causa infecções de ouvido*
· Não, a disposição dos músculos no momento de sucção da mama fecha a comunicação com o ouvido, diferentemente dos bicos artificiais.
Ø A confusão bico artificial-mamilo não existe*
· A alimentação ao peito e a bicos artificiais requer de diferentes técnicas orais e motrizes. Por isso causa há confusão de bicos, que por sua vez torna a mamada ineficiente e rachaduras nas mamas.
Ø A amamentação prolongada por mais de 12 meses fica sem valor, já que a qualidade do leite materno começa a diminuir a partir dos seis meses de vida*
· Até o 1º ano de vida do bebê o leite materno é a principal fonte de nutrição, sendo complementada a partir do 6º mês, além disso o leite materno se adapta as necessidades e as etapas da vida do bebê.
Armazenamento do leite materno
Você sabia que o leite materno pode ser ordenhado e armazenado por um período? Isso mesmo! As mães que precisam voltar ao trabalho ou precisam se ausentar de casa por um período ou até mesmo em casos de bebês prematuros que necessitam de UTI podem continuar consumindo o leite materno. Para que o leite se mantenha seguro para o consumo é preciso tomar alguns cuidados, – vale lembrar que o período e a forma de armazenamento desse leite pode sofrer algumas alterações, como perda de algumas vitaminas, antioxidantes, e outros nutrientes. Observe as tabelas abaixo.
Tempo de armazenamento de LM para bebês a termo em casa (não hospitalizados):
Como ter sucesso na amamentação?
A livre demanda é essencial, afinal, não é possível saber qual a quantidade de leite que o bebê ingere a cada mamada, além disso, peito não é só alimento, é também conforto térmico, sono, aconchego, segurança, carinho, etc.
Uma pega correta do bebê; quando se tem a pega errada o bebê não consegue fazer uma sucção eficiente, logo a amamentação não será de qualidade, além de causar dor e machucar a mama da mãe.
A livre demanda é essencial, afinal, não é possível saber qual a quantidade de leite que o bebê ingere a cada mamada, além disso, peito não é só alimento, é também conforto térmico, sono, aconchego, segurança, carinho, etc.
Água e uma boa alimentação da mãe; a ingestão de líquidos e de alimentos de qualidade garantem a boa saúde da mãe, a produção de leite e a qualidade desse leite.
Descanso; a mãe precisa estar bem física e mentalmente para que não haja problemas na produção do leite relacionada aos hormônios.
Apoio familiar; amamentar é um ato, que pode ser mais difícil que o esperado pela mãe e deve estar acompanhado de apoio da família para que a mulher consiga ser bem sucedida. Como citado acima, a mãe precisa de descanso e de uma boa alimentação e como o bebê necessita de uma grande demanda da mãe ela precisa desse suporte.
Apoio profissional; a grande maioria das mães passam por dificuldades para amamentar e o suporte de um profissional da área é muito importante para vencer as barreiras. Uma mãe precisa ter ao seu lado profissionais que não estejam preocupados com curvas de crescimento, números mostrados em balanças e outras estatísticas. O profissional de saúde que acompanha a mãe e o bebê após o parto deve se ocupar em ambos, – a pega, o vínculo, a saúde e o bem-estar materno. Um pediatra que se preza só recomenda complementação em casos extremos e depois que diversas medidas tenham sido fracassadas.
Benefícios do leite materno
Por ser uma alimento completo, o leite materno com todos os seus nutrientes é capaz de nutrir uma criança até os 6 meses de idade com exclusividade para crescer com saúde. Entre os inúmeros benefícios podemos citar o favorecimento do vínculo mãe-filho, fortalecimento da imunidade, mantém o crescimento e desenvolvimento normal da criança, trazendo melhoria no processo digestivo e no sistema gastrointestinal, reduz a ocorrência de doenças infecciosas, facilita o desenvolvimento emocional, cognitivo e do sistema nervoso entre muitos outros.
Além de trazer benéficos imediatos e a curto prazo como redução da mortalidade neonatal, nutrição balanceada e reduzir a ocorrência de doenças infecciosas e enterocolite necrosante na infância traz também benefícios a longo prazo como menor risco de desenvolvimento de diabetes melito tipo 2, obesidade, doença cardiovascular, desenvolvimento orofacial entre outros benefícios.
Porém, não só a criança se beneficia com a amamentação, há evidências de que para a mãe a prática da amamentação diminui os riscos de câncer de mama, de certos cânceres ovarianos, câncer uterino e do endométrio, fraturas ósseas, reduz o risco de artrite reumatoide, reduz os riscos de doenças cardiovasculares, contribui para a perda de peso, além de contribuir para maior amenorreia (ausência de menstruação) pós-parto (BRASIL, 2012).
O leite materno é um alimento de um poder indiscutível, por isso você mãe, acredite em seu corpo, na sua capacidade de nutrir seu filho. Assim como você foi capaz de gerar, acredite em seu filho, ele também é capaz de mamar e usufruir de todos esses benefícios! Grande abraço, de mãe para mãe.
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Dicas de leitura:
Como ordenhar leite materno manualmente: http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2013/11/como-retirar-e-estocar-o-leite-materno.html
Doação de Leite Humano: http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2016/07/doacao-de-leite-humano.html
A CHUPETA: O que toda mãe (e pai) deveria saber antes de oferecer uma chupeta para o seu bebê: http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/07/a-chupeta-o-que-toda-mae-e-pai-deveria.html
Livre demanda: o que é realmente – Carlos González: https://www.facebook.com/notes/grupo-virtual-de-amamenta%C3%A7%C3%A3o-gva/271561006293516/
Referências:
COMPOSIÇÃO DO LEITE HUMANO E SUA RELAÇÃO COM A NUTRIÇÃO ADEQUADA À RECÉM NASCIDOS PRÉ-TERMOS: http://temasemsaude.com/wp-content/uploads/2017/05/17109.pdf
Aleitamento materno: uma contribuição científica para a prática do profissional de saúde: http://www.scielo.br/pdf/jped/v80n5s0/v80n5s0a01.pdf
INATIVAÇÃO MICROBIANA E AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE FÓRMULA LÁCTEA INFANTIL E LEITE HUMANO TRATADO VIA AQUECIMENTO ÔHMICO: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/163814/001025346.pdf?sequence=1
ALEITAMENTO MATERNO VERSUS ALEITAMENTO ARTIFICIAL*: http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/estudos/article/download/3804/2168
Composição centesimal do leite humano e caracterização das propriedades físico-químicas de sua gordura: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422007000700007
PRODUÇÃO DO LEITE MATERNO: http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/07/producao-do-leite-materno.html
Amamentação Continuada: Os benefícios da amamentação para lactentes e crianças pequenas nutricional, imunológica e psicologicamente: http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2014/07/amamentacao-continuada-os-beneficios-da.html
Tempo de Armazenamento de Leite Materno: http://grupovirtualdeamamentacao.blogspot.com.br/2016/07/tempo-de-armazenamento-de-leite-materno.html
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